Perfect Insider – ep 7 – Somos incapazes de conhecer com segurança
[sc:review nota=5]
E de ignorar totalmente, teria dito Pascal. Durante a madrugada escrevo esse texto, apenas com as luzes do corredor e a da própria tela do notebook, ouço o canto de pássaros (que não deveriam ser) notívagos, gotejamento de algumas horas atrás, o som da ventoinha do notebook programada para resfriá-lo, e que no entanto é ineficiente e por isso há também um ventilador de chão em cima da mesa ligado, que também faz barulho e me deixa com frio nas mãos. Há o som da minha digitação, e meu reflexo no espelho atrás do notebook olhando para mim sorrateiramente por cima dele. Há várias outras coisas que estou vendo, ouvindo ou sentindo, mas não vem ao caso descrever todas. O que eu quero dizer é que enquanto tudo isso deve estar mesmo acontecendo, as minhas sensações não são mais do que a interpretação que meu próprio cérebro dá a elas. O que eu acho que estou vendo não é A Verdade. Não são meus olhos que enxergam, eles meramente captam a luz e a transformam em impulso elétrico. O cérebro interpreta essa informação, e é uma coisa muito louca, com coisas diferentes sendo interpretadas (e sentidas de forma consciente) por partes distintas desse órgão vital. Existe uma condição médica rara em que cegos reconhecem rostos. Bizarro? Ocorre que o cérebro recebe a imagem em uma parte, a transporta para a consciência em outra, e reconhece rostos numa terceira. Há outras partes envolvidas em várias outras operações relacionadas apenas à visão, mas concentre-se nessas. É possível que o dano em alguma parte muito específica prejudique ou impeça a formação da imagem, mas seu cérebro ainda a recebe corretamente e interpreta. Assim, a pessoa reconhece outros que estão a sua frente mas ela “não está enxergando”. É tudo muito louco.