Ahn, na verdade, vai acreditar sim. Não é nada excepcional ou sequer inesperado. Eu só escrevi o título desse jeito porque estou treinando para ser redator do Buzzfeed e outros sites cujo manual de redação obriga a escrever títulos caça-clique. Mas eu nem quero entrar para o Buzzfeed ou qualquer site desse tipo. Pensando bem, não tenho uma boa explicação para isso. Enfim, não fique nervoso comigo. Você pode acabar perdendo a cabeça!
Título caça-clique que não corresponde exatamente ao conteúdo, enrolação e piada ruim, eu realmente poderia ir para o Buzzfeed, hein? Enfim, a parte sobre eu ter lido esse trecho do anime no mangá é verdadeira. Fiquei curioso e fui ler, e já quero esse mangá lançado aqui. Parei de ler no exato ponto em que o episódio acabou, então não poderia dar spoiler nem se eu quisesse, fique tranquilo quanto a isso. Quero dizer, poderia, o mangá tem todo um arco desenvolvido e que foi totalmente pulado nesse episódio. É possível que coisas ignoradas sejam relevantes no anime mais tarde, ou que contem o que aconteceu no mangá ainda, de outra forma. Mas vou evitar as informações mais sensíveis, então relaxe e leia esse artigo!
A imagem de uma mulher representando o conceito de liberdade é antiga. E com “antiga” quero dizer, naturalmente, que na cultura ocidental surgiu com gregos e romanos. Virtudes deificadas, normalmente estátuas e templos eram erigidos em seu nome após vitórias militares. Na Idade Contemporânea as suas versões mais famosas provavelmente estão no quadro A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, que é uma versão revolucionária do conceito de liberdade e se transformou em Marianne, símbolo da república francesa (que por sua vez inspirou a Efígie Republicana usada em vários países, como Brasil, Argentina e Portugal), e a Estátua da Liberdade, do também francês Frédéric Auguste Bartholdi.
Em Gundam: Iron-blooded Orphans esse papel cabe não a uma divindade ou personificação de um conceito, mas a uma pessoa real, de carne e osso: Kudelia. Mas ela ainda não está pronta para isso. Como não estava pronta quando criança para alimentar os pobres, ela hoje ainda não está pronta para lutar pela liberdade. Pronta ou não, é o que ela vem tentando fazer. Ela não luta a luta revolucionária de Delacroix, preferindo o caminho diplomático, o que é uma escolha tão válida quanto mas talvez não seja possível. Sua boa vontade está sendo manipulada em uma disputa de poder por Nobliss Gordon, cujo plano é matá-la para que ela deixe de ser real e se torne, como todas as que vieram antes dela, apenas um conceito abstrato.
Pessoas e instituições poderosas como Nobliss Gordon, McMurdo Barriston (da Teiwaz) e a Gjallarhorn não tem o menor interesse em liberdade ou revolução, se preocupando apenas com o que podem ganhar ou perder em cada cenário. Os miseráveis não têm como ir muito mais longe do que Savarin (irmão do Biscuit) ou Fumitan, se esforçando para subir na hierarquia de alguma instituição exploradora tradicional e tentando usar sua posição para conseguir um bem para os seus – mesmo que isso seja à custa de outras vidas. Talvez a morte de Fumitan seja o que faltava para Kudelia assumir seu papel como Donzela da Revolução, sabendo que está à mercê de poderes muito maiores que os dela mas evitando ser cegamente manipulada. Assim ela irá se aproximar da imagem idealizada da liberdade que ela e Fumitan viram em um livro (e que claramente se inspira no quadro de Delacroix, adaptando-se aos temas do anime).
A Grécia Antiga tinha Eleutéria. Roma tinha Libertas. A França tem Marianne. E Gundam: Iron-blooded Orphans tem Kudelia Aina Bernstein.
A pequena Kudelia não tem como alimentar todos os famintos
A crescida Kudelia não tem como libertar todos os oprimidos
Uma arte representando uma antiga “revolução” no anime