Inaugurando mais uma categoria de artigos sem periodicidade definida: A Música do Anime. A ideia dos artigos dessa categoria é comentar, dissertar, falar sobre uma determinada música de um determinado anime no contexto do anime. Ou seja: como sua letra e ritmo se relacionam com a arte e o argumento do anime.

Para estrear a categoria nada mais nada menos que a música de encerramento de Boku Dake ga Inai Machi, um dos melhores animes da temporada de janeiro de 2016 (o segundo melhor, segundo estatísticas do DataMexicano, que realiza essa pesquisas com pessoas que são eu). Por que não uma música do melhor anime, Rakugo Shinjuu? Porque gostei mais dessa música, ué. E porque Rakugo Shinjuu já estreou uma categoria de artigos (o Artigo-Comentário) e BokuMachi estava com ciúme.

Sore wa Chiisana Hikari no you na (Foi como um Brilho na Escuridão) é uma música da cantora Sayuri, o que significa que ela já é incrível por si só, com os agudos desesperados da cantora e o instrumental caótico da canção, e para o que me interessa aqui, a relação da música com o anime, ela é simplesmente perfeita, como verá na letra traduzida e que eu comentarei em seguida.

Uma nota sobre a tradução: não sei japonês. Não achei nenhuma boa tradução para português, e mesmo para inglês as traduções eram estranhas, ruins. Sendo poesia algo bastante subjetivo e bastante dependente do idioma, traduções literais tendem a arruinar o significado original pretendido. A tradução para o português que apresento abaixo fui eu mesmo quem fiz, baseada em várias traduções diferentes para inglês e com eventuais consultas a palavras ou frases isoladas em japonês no Google Tradutor (não ajudou quase nada, de todo modo). Se você entende japonês e identificar alguma grande besteira na minha versão, por favor não deixe de me corrigir na área de comentários! De todo modo, busquei dar unidade de significado à poesia da música e fiz várias alterações baseadas em interpretação fundada no próprio anime depois de perceber como alguns trechos isolados referenciavam-no diretamente. Sim, eu tentei adivinhar a intenção da letrista japonesa, a também grande musicista Yuki Kajiura.

Para começar a letra em romaji e português (minha tradução), e abaixo eu comento a minha interpretação da letra no contexto de BokuMachi, destrinchando-a. Se quiser ouvir a música (eu recomendo muito), veja esse vídeo no YouTube.

Sore wa Chiisana Hikari no you na

Boku dake ga miteta
Kimi no koto
Kako mo mirai mo
Kanashimi mo yorokobi mo
Subete

Otona ni narutte kitto
Yasashiku naru koto da to shinjiteita
Kodomo no koro no
Boku no mama ni

Kimi no koto mamoritai to omou
Kurayami kara mezamete mo
Boku wo machi uketeru kanata de
Futari wo kakushita kono machi ni
Dare mo shiranai yuki ga futteita
Kimi wa boku no mune ni kizamareta
Ichiban fukai kizuato no you de
Kimi ga warau kono sekai no uta
Torimodosu yo

Dono heya no tokei mo
Sukoshi zureteite sa
Bokura wa itsumo
Kotoba wo kakechigau haguruma

Hitori bocchi de naita
HIIROO gokko
Nobasu mae ni
Kujiketa ryoute de
Kimi no hoho ni fureta

Kimi no koto kowashitai to omou
Sekai wa yume no hazama de
Kuroi inori wo harande
Daiji na mono da to nadeteita
Yasashii yubi ga nejirete yuku
Boku wa tada boku no tame ni
Chikara naki kono te wo
Kasuka na kagayaki no hou he
Mogaite miru
Kimi no utau mirai e
Michibiite yo

Mamoritai to omou
Magire mo naku atatakai basho ga
Aru koto o shinjiteru
Sabishisa ni kuwareta yasashisa ga
Shiroi yuki ni umoreteyuku yoru
Kimi wa boku no mune ni chiisana hi o tomosu
Furui kizuato no you de
Hohoende yo
Kono sekai no kurayami kara
Mezameteyuku hikari no you na
Kimi no uta

Boku dake ga miteta
Kimi no koto…

Foi como um Brilho na Escuridão

Eu era o único
a ter olhado para você.
O seu passado e futuro…
A sua tristeza e alegria…
Tudo.

Eu sempre acreditei que crescendo
Ficamos mais gentis.
Mas eu ainda sou igual
A quando eu era uma criança…

…e ainda sinto que quero te proteger.
Mesmo que eu tenha que acordar
E reencontrar a escuridão
Que nessa cidade nos separou.
Ninguém sabia o que a neve traria.
Você é a mais profunda cicatriz
Que carrego no meu peito.
Eu vou recuperar a canção
Que um dia te fez sorrir.

Os relógios de todas as salas
Estão marcando a hora um pouco diferente.
Somos como as engrenagens desses relógios,
Desencontrando nossas palavras.

Brincando de herói
Enquanto eu chorava sozinho,
Eu limpava as lágrimas do seu rosto.
Mas minhas mãos desistiam
Antes de tentar te alcançar.

O mundo que quer te destruir,
Cheio de desejos sinistros,
Está além desse sonho.
Esses dedos que te acariciavam com ternura
Começam a recuar e retorcer.
Pelo meu próprio bem
Eu estico essa impotente mão
Em direção à luz fraca
Me esforçando…
Por favor me guie para o futuro
De suas canções!

Eu acredito na existência
De um lugar doce e terno
Que eu irei querer proteger.
Onde a bondade devorada pela tristeza
É apenas uma noite enterrada pela neve.
Você causa uma queimação no meu peito
Como se fosse uma velha cicatriz.
Então sorria para mim!
Sua canção
É como um suave despertar
Das trevas desse mundo.

Eu era o único
A ter olhado para você…

O romaji não varia muito independente de onde você procure (só faltava né?), o que eu usei acima é basicamente o encontrado nesse blog com alterações negligíveis apenas para aparecer melhor formatado aqui. Outras duas fontes importantes para a minha tradução foram esse site (que inclusive tem uma versão em português diferente da minha) e esse blog. Formalidades cumpridas, vamos ao que interessa.

É uma música contando uma história em primeira pessoa, e essa pessoa é, sem sombra de dúvida, o Satoru adulto. Logo na primeira estrofe isso fica claro: ele “sabia tudo” sobre a Kayo (a segunda pessoa da música) porque uma vez que ele voltou para o passado ele era o único que sabia o que iria acontecer com ela. Ele reitera ainda várias vezes durante a música (se referindo a isso como uma cicatriz no coração) o arrependimento que sentia por não ter feito nada e deixado ela morrer. Lembre-se como ele se sentia culpado, como, mesmo não sendo um amigo próximo dela (que de fato não tinha nenhum amigo) a viu sozinha no parque e sentiu um impulso para falar com ela, mas não falou. Aquela foi a última vez que alguém a viu viva (mentira, ela voltaria para casa e seria espancada por sua mãe ainda, tendo sido ela então a última a vê-la, mas essa não foi a versão oficial então ele não sabia). Ela era solitária e por isso, mesmo que ele apenas a tenha visto de relance, ele era o único a “conhecer seu passado”, e por motivos mais óbvios ele era o único a saber seu futuro.

O trecho “eu era o único a ter olhado para você” que já parece obsessivo e assustador por si só, em outras traduções é ainda pior, soando como “eu era o único olhando para você”. Por muito tempo eu tive dificuldade por causa desse trecho, pensando em mil possibilidades nas quais o Satoru era quase tão maluco quanto o Professor Yashiro, e tentando ligar isso à “escuridão” que a letra cita, mas nada fez muito sentido. Por fim percebi que essa interpretação estava errada: Satoru é obcecado, mas não pela Kayo, e sim por seu próprio fracasso. Adiante ele fala sobre brincar de herói (e ele era fã de um super-herói e escreveu seu texto para a escola inspirado por sua própria incapacidade de ser um herói), e sobre como ele queria alcançá-la para o seu (dele) próprio bem.

A máscara era para se transformar ou para se esconder?

A máscara era para se transformar ou para se esconder?

O fato relevante é que a morte da Kayo deixou uma cicatriz tão profunda nele, não uma tristeza pela perda, mas um trauma por ter visto a morte tão de perto e ter se sentido tão impotente, que ele não conseguiu seguir normalmente com sua vida. Por isso ele nunca se tornou capaz de se relacionar direito com outras pessoas – algo que ele já tinha identificado como um defeito seu ainda criança, aliás. Sua volta no tempo não é tanto para salvar a Kayo quanto é para salvar a si mesmo.

Por isso que na segunda metade da música ele faz um esforço para mudar. Apenas voltar ao passado não era o suficiente. E não foi mesmo, nem no anime, não é? Ele precisa mudar mais. Ele era uma criança fechada em seu próprio mundinho, com dificuldade para se relacionar com outras crianças, e só imaginava-se importante e poderoso em suas fantasias. Ele brincava de herói em sua própria mente, em sua própria ilusão, em seu sonho, protegido do mundo real. Mundo real esse que era, segundo a letra, “cheio de desejos sinistros”, e que queria destruir a Kayo (de fato fez isso mais de uma vez). Enquanto ele ainda era apenas uma criança fraca ele pensava em agir, mas sempre vacilava no último instante. Os dedos que em seus sonhos a “acariciavam com ternura” simplesmente começavam a “recuar e retorcer”. Esse é o ponto de virada na letra e na história, e é exatamente aí que está claro que ele faz isso “pelo meu (o dele) próprio bem”. E o que ele faz? Ele “estica a mão”, significando metaforicamente que ele alcançou aquele mundo, ele se esforçou, mudou e passou a fazer parte dele. Curiosamente, quando vivia em seus sonhos, era Satoru quem estava em uma “cidade onde só ele existe“. É um lugar confortável, um lugar onde a Kayo queria estar por desespero, e onde ele passou a habitar quando criança por não ter muito trato social e depois do trauma das mortes jamais ousou sair de lá.

A primeira vez que Satoru esticou a mão

A primeira vez que Satoru esticou a mão

A penúltima estrofe (“Eu acredito na existência…”) começa com o instrumental mais baixo, quase silencioso. O caos cessou. Satoru está dando os passos decisivos para mudar o passado da Kayo (e das crianças que foram assassinadas) e, consequente e principalmente, mudar a si mesmo. O instrumental retorna e a música começa a ficar encorpada e a crescer – agora ele está no controle. A estrofe final, com apenas dois versos, apenas repete os dois versos iniciais. No começo da música “eu era o único a ter olhado para você” representava o arrependimento do Satoru adulto, o único (em sua interpretação) que poderia ter impedido a morte da Kayo, a primeira de uma série. No final, com um tom de voz mais sereno, esse verso significa que houve um tempo em que ele era o único que a conhecia, mas ele mudou e com isso conseguiu mudar a vida de todos ao seu redor, inclusive a da Kayo. Ele se tornou um herói da vida real. E ela não estava mais sozinha, ele não era mais o único a olhar para ela.

O futuro feliz que ele construiu

O futuro feliz que ele construiu

  1. Quando eu vi aqui, artigo do Boku Dake, eu fiquei confuso , oxe, mas não já acabou? Ele ta divulgando alguma novidade do anime ou sei la, qualquer outra coisa? kkkkk, ai eu li melhor, um artigo de interpretação, da musica, q cara, traduzida ou não, ela é muito ÈPICA, poder compreender o sentimento e a mensagem que a musica quer nos passar é tão crucial quanto ouvi-la, tenho ela no meu celular, e acredite, não pretendo remover tão cedo haha!
    Gostei da ideia , parece algo incomum para você também , boa sorte !

    Só uma duvida, criar uma ideia nova dessas , quando você tá cheio de artigos pra fazer não é meio puxado? Porque ja saiu todos os ep 2 dos animes, e ja estão saindo os terceiros episodios, ja decidiu os animes que vão ter review ou ta analisando tudo ainda?

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Como descrevi na primeira frase: essa é uma categoria sem periodicidade definida. Vou escrever artigos desses quando o tempo, a vontade e a música certa surgirem. Não vai me atrapalhar porque não vou ficar escrevendo mais artigos como esse. Até tenho um punhado de músicas que eu gosto muito e que casam muito no anime, mas daí para isso virar artigo depende de várias outras coisas. Por enquanto continuo a programação normal. Amanhã deve sair o último artigo de primeiras impressões e aí eu começo a escrever os meus artigos de episódio normalmente. No caso de animes que já tenham o terceiro episódio, vai ser um artigo de dois episódios em um, né. E a Lidy já começou a publicar sobre Mayoiga em todo caso, você leu?

      E sim, essa música é poderosa assim. Mesmo sem entender dava para sentir o conflito, a dor, a tragédia, ao final de cada episódio. Só quando saiu a versão completa dela é que pesquisei a letra, e o trecho final da música tem um ritmo mais positivo, não sei explicar bem, mas apenas assim sempre me pareceu. Bom, a letra ajuda a explicar.

      • eu nunca deixo de ler um artigo ( a menos que eu não esteja acompanhando o anime ) e as primeiras impressões eu nunca deixaria de ler , todo começo de temporada sempre fica aquela regra basica de 3 , se passou 3 episodios,e vc não gostou = Drop, ou , em outras palavras, ao menos os 3 primeiros artigos do anime eu leria.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Eu não acredito em uma “regra de 3”, hehe, um anime pode se tornar bom ou ruim a qualquer momento. Estabelecer uma quantidade de episódios padrão de “período de experimentação” no meu ponto de vista é necessariamente arbitrário, e se é arbitrário, por que não apenas 1? Na prática é o que acontece de todo modo. O anime precisa mostrar logo de cara porque o espectador deveria continuar assistindo. Por isso meus artigos de primeiras impressões são de primeiras mesmo, apenas o primeiro episódio, mas lógico que não estou dizendo que todo mundo deva fazer como eu. Se é arbitrário, cada um arbitre o que preferir =)

        Eu particularmente dou ênfase à escolha inicial do anime. Eu assisto tanta coisa que pode não parecer, mas eu escolho cuidadosamente o que eu vou assistir, e às vezes assisto coisas ruins ou que eu normalmente não assistiria de propósito também. Se eu começo a assistir, vou até o fim (meu drop é raríssimo). Então, bem, eu vou continuar assistindo até o fim todos esses animes sobre os quais escrevi primeiras impressões até agora =D Ou pelo menos é a intenção, mesmo daqueles que não gostei.

        Mas já decidi sobre quais eu vou ESCREVER. São sete, um por dia da semana como sempre, e começa amanhã, continue me acompanhando para descobrir quais eu escolhi, por favor 😉

  2. Nossa! A análise foi bem melhor do que eu esperava, eu jamais conseguiria escrever tudo que essa música me passou, parabéns. Só de ler senti vontade de chorar e no quanto essa música é forte, no contexto do anime.
    Não tenho nem o que falar, só parabenizar. =)

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Obrigado ^^

      Já eu acho que faltou escrever coisa, hahaha! Bom, fiquei um mês me preparando para esse artigo, uma semana trabalhando só na tradução, mas achei o resultado final bastante satisfatório sim =)

  3. Já venho atrasado uns bons meses para comentar (eu vi este artigo na altura que saiu, mas não tive tempo de comentar e Fábio obrigado pelo link, reli este artigo e está muito bom).
    Ainda bem que escolheste o encerramento deste anime em vez da opening de Showa, eu sou um super fã de Showa (nada que ninguém aqui, já não saiba à muito tempo), eu em Showa gostei bem mais da ending dele que era apenas o instrumental do que a própria opening, mas a ending de Boku dake ga Inai Machi é uma excelente música, para tu fazeres um artigo.
    Começando pelo anime em si, eu gostei bastante dele, mesmo sendo um pouco fantasioso, com a capacidade do protagonista voltar atrás no tempo, eu gostei do anime, foi o segundo melhor anime na temporada que estreou. Aquilo que mais gostei no anime mesmo, foi o protagonista,não sei como descrevê-lo, mas na sua fase adulta ele já era muito vivido para a idade que tinha, isto deveu-se ao seu passado, isso e o afastamento que ele tinha das pessoas, como tu bem referiste no artigo, o antigo eu do protagonista mesmo em criança sempre se manteve afastado das outras crianças, até que ele fica marcado pelo desaparecimento da Kayo e mais tarde pela descoberta da sua morte. Este acontecimento marcou o Satoru, mas aquilo que lhe deixou uma cicatriz no coração para a vida toda, foi o facto que ele foi a última pessoa a ver a Kayo viva, ele bem tentou falar com a Kayo que estava sempre sozinha, mas não conseguiu falar com ela. Ao longo do anime, percebe-se que o Satoru, como tu bem referiste no artigo, ele não está a tentar mudar o passado, só para para salvar a Kayo, ele também quis alterar o que era. Se bem que durante esse processo ele parecia que estava a ganhar sintomas de obsessão, neste caso fazer de tudo, para proteger a Kayo do seu assassino. Mas aquilo que o protagonista mais me chamou a atenção, foi com as suas ambições de vida, neste caso ele queria ser um herói da justiça, tal como o seu super herói favorito, isto parece meio cliché, mas ele no final foi um herói por tudo o que fez, nisto não à dúvida nenhuma. Quanto à Kayo, nem sei o que dizer, ela literalmente comeu o pão que o Diabo amassou, e aqui dou os parabéns tanto pelo mangá, como o anime de abordarem, um tema que é meio escondido, a violência doméstica. A Kayo antes de desaparecer no parque, já apresentava muitos sinais de violência doméstica, nódoas negras no corpo, desleixo no cuidado parental, já que ela andava sempre com a mesma roupa e nunca tinha comida nem dinheiro e todos da sua classe reparam e não fizeram nada, como ainda a ostracizavam e faziam bullyng com ela. Isto até o protagonista voltar ao passado e tentar mudar essa situação, achei o esforço dele genuíno, eu nesta fase achei que ele gostasse mesmo dela, mas o foco dele era mesmo salva-la a qualquer custo. Aquela cena em que o Satoru encontra a Kayo na arrecadação no quintal atrás da casa dela, cheia de frio e com sinais evidentes de violência doméstica foi muito pesado, que mãe faz uma coisa daquelas a uma filha.
    Agora voltando à música, a Saiyuri tem uma voz muito expressiva, já para não falar que praticamente todas as músicas dela são lindas e nos mantêm a ouvi-las até ao final. Graças à tradução que nos trouxeste da música Fábio e a respectiva explicação da letra da música, percebei que esta música é muito mais especial do que eu imaginava. Na altura em que vi o anime, ele não tinha a letra da ending traduzida, por isso só apanhei algumas partes da letra do pouco japonês que percebo.
    Agora que reli este artigo depois de muitos meses desde a última vez que o li, ele parece cada vez melhor, o esforço que fizeste para explicar esta música é digna de nota. Se aceitares sugestões, sugiro a ending de 91Days, ela é perfeita para explicar a trama do anime.
    Como sempre um excelente artigo Fábio (mesmo eu comentando com meses de atraso).

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Não li o mangá, mas acho que o anime se esforçou para mostrar que o Satoru não voltou ao passado para salvar a Kayo – ele voltou para salvar a si mesmo. Não entender isso (ou não querer aceitar) faz muita gente tentar enxergar um romance que nunca existiu entre os dois e se frustrar com o resultado. Foi a Kayo. Poderia ter sido qualquer outro (como de fato foram outros dois logo em seguida, incluindo um amigo bem próximo do Satoru e uma total desconhecida). Por motivos que o anime não revela, o Satoru nunca se abriu de verdade para outras pessoas – ele vivia na cidade mental onde só ele existia. Ter vivido durante assassinatos em série só o isolou ainda mais em seu próprio mundo. Ele cresceu solitário e jamais desenvolveu habilidades sociais mínimas, e isso lhe custou caro na vida.

      Nessas circunstâncias, quem é que não iria querer voltar ao passado para refazer tudo de novo? Vários animes esse ano que está se encerrando fizeram essa pergunta, mas BokuMachi foi o primeiro e, acredito, o mais sério. Como ele não pôde reviver tudo de verdade (passou todo o período entre seu eu futuro e seu eu passado em coma) o anime adquire também sentido metafórico – nunca é tarde demais, mesmo sem voltar ao passado ele poderia aprender tudo aquilo que não havia conseguido ainda – ele sabia o que precisava aprender e contava com pelo menos uma pessoa (a Airi) para ajudá-lo. Bom, algumas pessoas estariam mortas e um assassino em série estaria à solta se ele não tivesse voltado no tempo, mas a maioria não carrega um fardo tão pesado assim, então a metáfora continua servindo de inspiração para todos nós.

      E aí chegamos a Sore wa Chiisana Hikari no you na: ela conta essa mesma história mas usando sua própria linguagem – tanto lírica quanto musical. Isso e a excelência artística tornam essa música fantástica. Quando eu li a letra da música pela primeira vez eu soube que precisava escrever esse texto – e aí essa categoria de artigos nasceu.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

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