Esse foi rápido: O Biba é um vilão. Sério, esse episódio fez um grande trabalho para não deixar sobrar nenhuma característica redentora nele. Já desconfiava-se que ele não fosse um herói desde o episódio anterior, com tanto mistério e conflito ao redor dele e aquela entrada militar-opressiva na cidade – ainda que a população o idolatre. Ficou para esse episódio revelar se há ou não algo de heroico nele. Talvez ele não fosse um herói, mas um personagem cheio de contradições que pode ser heroico às vezes mas não sempre – um anti-herói. Ou pelo menos um anti-vilão: um antagonista sim, mas com comportamento e moral ambígua. O Biba não tem nada disso. Do começo ao fim, dos dedos dos pés às pontas de seus longos cabelos, ele é um vilão. Um vilão astuto que se passa por herói, mas um vilão.

Acaba sendo um pouco chato quando se considera que ele foi a grande novidade desse novo arco de Kabaneri e que é certamente o próximo antagonista que os heróis terão de derrotar. Muitos esperavam mais dele – e eu estou entre esses. Mesmo assim, ou melhor, exatamente por ele ser assim, vejo a oportunidade perfeita para o meu passatempo preferido em Kabaneri: falar sobre a Mumei. Não estou só procurando pretexto não, calma, não feche o artigo ainda! O que quero dizer é: você não acha que a Mumei seria muito diferente se tivesse crescido com um herói ou pelo menos com alguém de moral ambígua?

Eu já estava pensando que talvez a ideologia nefasta da Mumei pudesse ser só um excesso por parte dela, uma interpretação errada ou quem sabe algo que ela criou sozinha na cabeça dela, em qualquer caso com a intenção de tentar ser mais útil ao “irmão” que a salvou. Embora não seja exatamente como a Mumei descreveu, o que ele pensa mesmo quando doura a pílula para conversar com o Ikoma é inequivocamente o que a Mumei disse: os fortes sobrevivem, os fracos morrem. O detalhe é que ele completou esse pensamento com outro: os fortes precisam defender os fracos. Desse ponto de vista parece algo aceitável, que faz sentido. Eu quando vi isso achei que fosse bastante aceitável. Diferente do Ikoma sim, e eu estou mais com o Ikoma do que com ele, mas não há necessariamente um erro no raciocínio do Biba. Mas como muita coisa nele, essa ideologia é só uma fachada, é ilusória. A noção de “salvação” dele não é a que esperamos. Leia:

“Não foi surpresa as coisas terminarem assim”
“Não posso fazer nada” “É natural”
Alguém intervém
“Ele parecia divino, foi um momento surreal”
“O Deus Misericordioso enviara um anjo para essa patética garota”
“Foi o que pensei naquele momento”
“Mas o anjo não me ofereceu a salvação que eu esperava”
Anjo: “Se você tem algo que deseja proteger, pegue a espada!”
Pega a espada; o agressor está morto
“Eu estava com medo”
“Eu mesma o atravessara com a espada”
“Eu havia matado um homem”
“Mas foi então que notei que o anjo havia me oferecido a verdadeira salvação”

Você assistiu Kabaneri e sabe que essas falas não estão lá. Mas poderiam estar, não é? Será que reconhece de onde eu as tirei, com poucas adaptações? É de Berserk. Quem está narrando tudo isso é a Caska, relembrando de quando ela era mais nova e foi salva pelo Griffith, antes dela se tornar uma guerreira. Curiosidade: Caska tinha 12 anos quando tudo isso aconteceu, a mesma idade que a Mumei tem hoje, alguns anos depois de seu próprio encontro semelhante a esse com Biba. Berserk é uma obra longa então realmente fica-se com a impressão que Griffith é um personagem controverso, moralmente ambíguo. Mas ele não é, ele nunca foi, ele nunca poderia ter sido, senão ele jamais poderia ativar o Behelith e iniciar o Eclipse. Condense toda a moral de Griffith em um só episódio e ele não vai parecer melhor que o Biba. Os dois com certeza espalham a esperança por onde quer que vão, mas trazem também o infortúnio, e nos dois casos estão agindo apenas para atender seus desenhos egoístas de todo modo. Griffith não salvou Caska: a transformou em uma ferramenta útil, do momento em que a resgatou até o momento em que a violentou. Biba não está salvando ninguém.

Mumei mata o homem que matou sua mãe com a espada que Biba jogou para "salvá-la"

Mumei mata o homem que matou sua mãe com a espada que Biba jogou para “salvá-la”

Mumei admira cegamente Biba, assim como Caska por muito tempo admirou Griffith. Mumei desejou se tornar mais forte, como Caska desejou. Mumei se sujeitou a degradação de seu corpo feminino (tornando-se um kabaneri), e Caska fez o mesmo (combatendo e colecionando cicatrizes que a envergonham). Antes de Gutts desequilibrar o bando Caska jamais seria capaz de questionar (muito menos criticar ou contrariar!) Griffith. Mumei ainda é completamente incapaz de questionar Biba. Ela gosta do povo do Koutetsujou, mas não questiona porque Biba quer a chave-mestra do trem, mesmo sabendo que isso vai causar conflito e que ela talvez tenha que matar Ayame para obter a chave. Ela treme, ela não quer fazer isso de forma alguma, mas ela não questiona. E de fato vai até Ayame disposta a matá-la se necessário, mesmo que essa seja a última coisa que ela queira. Ela fica genuinamente feliz quando Yukina lhe entrega a chave (falsa).

Noutra ocasião, Biba ordena que ela impeça Ikoma de invadir seu trem, e não há nenhuma sutileza em sua ameaça: se ele entrar, vai ser morto. De novo Mumei é incapaz de questionar. Biba é cruel e implacável, mata inimigos e descarta aliados sem hesitar sempre que julga necessário. Ele é cruel e temido. Nesse ponto ele difere de Griffith, que era muito mais amado do que temido. Quem já leu O Príncipe, de Maquiavel, sabe que não há nenhuma diferença fundamental entre os dois nesse caso. Escreveu o florentino que entre ser amado ou ser temido, ambos são bons mas é preferível ser temido. Berserk é uma história longa e Griffith passa muito tempo construindo seu exército, e isso é parte central da primeira pare da história. Em Kabaneri conhecemos Biba já poderoso, bem estabelecido, e além disso a história tem mesmo pouco tempo para lidar com ele. Mumei o ama e o teme, mas quando ele precisa das coisas feitas é o medo o sentimento predominante. Não apenas com ela, mas provavelmente com todo o seu exército.

Ikoma é o herói da história, totalmente o oposto de Biba. Ele é capaz de se compadecer até mesmo por um assassino, um resto humano que ademais já havia desestabilizado Mumei antes. Ikoma é capaz desse compaixão não apenas porque viu Biba sorrir, mas porque ele é um herói. Seu sonho de matar todos os kabanes e restaurar todas as cidades e todas plantações provavelmente é grandioso demais para um pequeno herói cyberpunk, mas ele deseja isso do fundo do coração. E no cabo de guerra com o filho deserdado do xogum talvez ele consiga pelo menos salvar a Mumei. E salvar não necessariamente significa que ela irá sobreviver, então se segure firme em seu assento e esteja preparado para o pior.

O conflito está estampado no rosto de Mumei

O conflito está estampado no rosto de Mumei

  1. Este episódio foi bom e serviu perfeitamente para justificar a minha opinião que dei na outra matéria deste anime, o Biba não é nenhum santo, ele é um vilão, como tu bem referiste na tua matéria, ele é sádico, mata os humanos como se eles fossem menos que os Kabanes, ele quando matou o assassino vira casaca eu não senti pena dele, até achei a atitude do Ikoma meio que sem necessidade já que aquele que Biba matou ia matá-lo também, até que no final o Ikoma disse que o Biba estava a rir quando espetou a espada no peito do cosplay do snake, ai eu percebi que o Biba é sádico e sem valores morais. Quanto à Mumei, mais valia ela ter morrido com a mãe, parece meio bárbaro aquilo que eu estou a dizer, mas é a verdade, a Mumei perdeu a mãe, supostamente foi criada pelo seu salvador que lhe fez uma lavagem cerebral, matou o homem que lhe matou a mãe só por causa do discurso imoral do Biba, perdeu e degradou o seu corpo, para se tornar uma kabaneri, uma simples ferramenta de matar do Biba e a cada ordem dele ela obedece como se fosse um cão, nunca questiona as ordens imorais dele e aqui se percebe ainda melhor o comportamento incorrecto dela com as outras pessoas. Se a Mumei tivesse matado a Ayame por causa da chave mestra, eu acho que o Ikoma nunca a ia perdoar, já para não falar do guarda costas dela o Kurusu ele como gosta dela, ele ia até ao inferno para matar a Mumei, mesmo sendo um humano normal, ele é um samurai mestre do caminho da espada e das artes marciais. O Ikoma neste episódio esteve bem, ele desde que viu o Biba nunca foi com a cara dele e com razão, a gota de água foi quando o Biba riu ao matar um ser humano, ai o Ikoma percebeu que o Biba é inimigo e que os seus companheiros correm perigo. Aquela batalha dos hunters contra a invasão do Kabanes até que podia ter sido boa se não fosse os exageros, desde de quando já existiam morteiros e motos na idade média japonesa, de resto até que foi boa a animação estava ok e a coreografia de luta estava boa. Eu só acho que o destino do Ikoma não vai ser bom, não sei se reparaste no cientista maluco dos Hunters a ver o Ikoma com uma cara de interessado, eu acho que ele vai ser vitima de experiências malucas. Como sempre uma excelente matéria.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá, obrigado por mais um comentário e por sua audiência de sempre!

      Eu também achei que aquele cientista estava de olho no Ikoma, mas como o anime está listado para ter apenas 12 episódios acho que seria problemático abrirem mais um conflito. Do jeito que está já estou achando bem difícil resolverem tudo sem muita correria! A não ser, claro, que vire split cour e ganhe uma segunda temporada – aí eu vou morrer de ansiedade esperando, hehe.

      Sobre Mumei, Biba e Ikoma, é isso aí mesmo. Não vou longe a ponto de dizer que seria melhor a garota ter morrido, afinal ela ainda tem uma chance de redenção e salvação, mas de resto concordo com tudo o que disse.

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