Aparência é uma coisa complicada, pois às vezes o que parece é, e às vezes o que parece é, mas também pode ser mais alguma coisa. Esse é exatamente o caso desse anime, que pela superfície parece uma obra que você poderia categorizar facilmente como genérica e apelativa, mas que se avaliar com calma e boa vontade vai ver que a obra é isso sim, mas essa é apenas uma de suas camadas, pois Imouto sae Ireba Ii é uma história certa escrita de forma torta – é mais do que parece!

Animes que te surpreendem e te fazem sorrir são os melhores!

O anime acompanha o cotidiano de Itsuki, um jovem autor de light novels que tem uma característica um tanto quanto curiosa e que define a natureza de sua escrita: ele é obcecado por irmãs mais novas.

Sim, já a partir desse “esquisitão” dá para temer o que vai ser a obra e seus outros amigos escritores, que são a Nayuta – uma garota tão linda quanto boca suja e sem noção – e o Haruto – um cara que é certinho e bacana, mas também é viciado em eroges e outras “otakices” –, não ajudam muito a melhorar a impressão de que não vai sair coisa boa daí.

Os mais normais entre os personagens principais são a Miyako e “o” Chihiro, mas eles também têm seus problemas – os quais vão sendo explorados ao longo do anime. Contudo, o que importa de verdade são as imoutos!

Brincadeiras de mau gosto a parte, o anime tem 60% de seu elenco principal envolvido diretamente com a produção de light novels e ele não negligencia esse tema, o desenvolvendo através de jogos que exploram a criatividade, a adição de personagens e responsabilidades relacionadas ao trabalho como escritor e várias reflexões sobre o ato de escrever.

Sobre escrever o que se gosta, a qualidade da escrita, a importância de quem apoia a obra, os desafios de conciliar criatividade e originalidade com a rigidez do mercado editorial, etc. Imouto sae vem de light novel e fala sobre a produção delas.

O que é a vida em uma sociedade capitalista globalizada sem competição, né?

É um anime cheio de metalinguagem que não é forçada goela abaixo do telespectador, mas faz todo o sentido com o que um “otaku” mais atento consegue perceber após anos acompanhando a indústria, o que podemos ver pela forma como a adaptação de uma light novel para outras mídias – principalmente para anime – representa um novo patamar para o autor que tem sua obra adaptada.

Sendo engraçado, e ao mesmo tempo triste, ver como o anime da light novel do Haruto fracassa em popularidade, mas isso não prejudica o material original – o que toda temporada vemos acontecer e é possível que aconteça com esse anime.

Isso é interessante, quando se trata do Itsuki, pois ele primeiro tem uma adaptação em mangá para a sua novel e depois para anime, o que se liga diretamente ao fato de ele ainda não aceitar os sentimentos que sua amiga Nayuta tem por ele e ao trauma que o levou a se afundar cada vez mais em sua obsessão por irmãs mais novas, assim como o seu desejo de ser o protagonista da sua história e não ter o trabalho da sua vida subvalorizado por namorar uma autora mais famosa.

Escrever uma light novel, conseguir que essa obra seja adaptada para mídias que possam tornar ela e o nome do autor cada vez mais populares, ser bem-sucedido no trabalho; essas são coisas trabalhadas ao longo do anime que você perderia se focasse só nos clichês ou fanservice.

Aliás, o fanservice geralmente é usado ou para gerar comédia – até mesmo através da censura criativa – ou para estabelecer alguma ideia que está sendo trabalhada no episódio. É claro que você pode levar isso a sério ou não, mas acredito que só o fato do anime abrir a possibilidade para essa interpretação é algo a se elogiar. É como se ele soubesse usar o que seria um defeito a seu favor, o que também vemos em como a obra trabalha alguns clichês.

Um exemplo disso é o fato de que fica bem claro que todas as mulheres do pequeno círculo de amigos do protagonista gostam dele, o que vemos muito em diversos animes, mas aqui não é levado nem para o lado do harém nem para o lado da competição amorosa, pois apenas uma das garotas assume seus sentimentos e investe em uma relação enquanto as outras por seus próprios motivos não tentam nada e conseguem manter sim uma boa amizade dentro do grupo – grupo esse que é bem divertido de se acompanhar, vale dizer.

A expressão que você faz quando escreve sobre um anime que acha bom e gosta!

Há o clichê do amigo se apaixonar pela garota que gosta do protagonista – mas ainda não tem chances –, há também o clichê do amigo que ao mesmo tempo é rival e o clichê da motivaçãozinha especial que faz com que tudo dê certo no sufoco, entre outros.

O importante é que esses momentos se integram bem à história e quando não são tão bem trabalhados ao menos não incomodam por serem excessivamente usados ou tentarem disfarçar falhas de roteiro – o que não fazem.

A repetitiva piada do Itsuki – a dele ser obcecado por irmãs mais novas – talvez seja um clichê questionável, mas quem nunca ouviu falar de autores com excentricidades para lá de estranhas? Ainda mais em um mercado no qual é comum que os autores tenham várias obras com elementos e temas semelhantes.

Uma ação importante para se divertir vendo o anime é aceitar que o protagonista é sim viciado em irmãs mais novas, mas ao mesmo tempo não é um lunático que fecha completamente os olhos para a realidade, o que podemos ver pela ótima cena em que ele admite que tem sentimentos pela Nayuta e que só não fica com ela porque quer antes se tornar alguém que não vai ser relegado ao escanteio por namorar uma autora mais famosa.

Com isso, ele demonstra não só que é realista no que tece às suas relações pessoais, mas que deseja conciliar isso com seus sonhos de carreira, o que é plausível para um adulto que trabalha justamente com a criatividade, que trabalha realizando um sonho de vida, o qual através do jogo no último episódio vemos que tem muitos contratempos atrelados, mas vale a pena porque se trata do que esses personagens querem fazer e do que fazem de melhor. O anime até deixa claro que esse sentimento é compartilhado pelos autores do grupo.

Pessoas que param para apreciar uma bela obra de arte têm o meu respeito!

Outro ponto importante é que não é só o protagonista que é bem trabalhado ao longo do anime, tiro como exemplo a Miyako, ela não sabia o que fazer da vida e até invejava seus amigos que tinham uma vocação e a exerciam. Ela ter decidido que queria ser editora foi uma boa forma de recompensar o telespectador por ter acompanhado o seu drama e se não fechou a história dela foi porque o anime terminou quase que completamente em aberto.

O que é um ponto negativo? Sim e não, porque por mais que não tenha sido conclusivo ele fez o que era possível dentro de 12 episódios para que conseguisse se manter coerente e com um bom ritmo. Tentar fechar todos os argumentos iniciados no anime só para dar a ele um final conclusivo provavelmente desperdiçaria muita coisa que foi trabalhada ao longo dessa adaptação.

Por outro lado, também podemos pensar que o anime foi tão consciente sobre o formato e a situação de obras assim no mercado – animes de 12 episódios feitos para servir mais de propaganda do material original do que para contar uma história fechada – que o seguiu à risca.

É como se Imouto sae Ireba Ii tivesse feito o que o anime do Itsuki terá que fazer se ele não quiser que seja um total fracasso como foi o do Haruto – e aqui nem falo de retorno financeiro não, falo de uma obra que não seja um fracasso de crítica e nem pessoal para o seu autor.

Volto a repetir, Imouto sae é uma história certa escrita de forma torta e adiciono mais ao dizer que ela é feita de forma torta também, já que a sua produção é bem mediana e isso é algo comum em animes que não tem um grande budget, o que remete justamente ao que falava há pouco, que esse anime tinha tudo para ter se perdido no meio do caminho – ou sequer ter se encontrado –, mas ele conseguiu chegar até o fim entendendo a sua fórmula e o seu formato e tirando coisas boas disso.

Quando o caminho se abre para que um possa caminhar até o outro…

A direção não foi genial nem medíocre, aqui e acolá ela cometeu seus deslizes, mas no geral tratou com carinho a história e até teve uns momentos muito bons, apesar de simples – como no final do primeiro e do penúltimo episódio.

Enfim, o anime acaba todo em aberto, com o Itsuki tendo que cuidar do seu próprio anime, com a Miyako tentando aprender o ofício de editora de light novels, com a Nayuta sabendo que é correspondida, com o Haruto feliz mesmo após o fracasso do seu anime e aparentemente ainda esperançoso e paciente quanto ao seu interesse amoroso, com “o” Chihiro ainda sem ter revelado seu grande segredo para o seu irmão e com você, que acompanhou essa obra até o fim ou irá acompanhar após ler essa resenha, que satisfeito ou não com o resultado espero que tenha conseguido tirar algo de proveitoso desse anime como eu consegui.

Tudo o que você precisa é de bons amigos, de um sonho e de muita vontade de ser feliz!

  1. Eu amei esse anime! Eu realmente espero que haja uma segunda temporada ;-; . Enquanto isso, alguém teria um anime parecido para eu ver?

    • Que bom que gostou do anime! De anime que me vem a memória agora só consigo pensar em Eromanga-sensei, que também versa sobre o cotidiano de autores de light novel, tem uma “imouto” e bastante comédia com alguns momentos mais sérios. Se ainda não tiver visto esse indico que dê uma olhada e em outubro estreia Ore ga Suki nano wa Imouto dakedo Imouto ja Nai, anime que também versará sobre os mesmos temas que Imouto sae, mesmo que venha a ter uma abordagem diferente (algo que deve ser comentado nas primeiras impressões que com certeza faremos após a estreia).

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