Desde que se inseriu na história, a professora de koto demonstrou seu rancor sem muitos esclarecimentos, apenas sinalizando que se sentia diminuída. Agora, vemos que mais um coração foi ferido por uma das dicotomias mais antigas e tradicionais que rege o mundo dos animes. O sentimento de inferioridade dela tem algum fundamento, mas até onde será que se estende?

Apesar de seus excessos, a personagem definitivamente não é uma má pessoa, e a honestidade com que trata a música é o maior indício disso, já que é um reflexo do seu interior – mesmo que ainda em cacos. O que acontece é que para a pouca idade que tinha, ela simplesmente foi engolida por uma corrente de revezes, uma avó insana e principalmente, uma vítima de si mesma.

Akira sempre amou e admirou o irmão, porém quando essa admiração se transformou em um leve objeto de competição – alimentado tanto por ela, quanto pelos outros ao seu redor -, a coisa simplesmente descambou de vez.

Keishi é o típico irmão mais velho gente boa e talentoso, destinado a grandeza naturalmente, porém a vida logo se encarregou de mudar sua rota. Acho curioso que mesmo debaixo de todas as pressões que certamente sofreu, ele foi firme e maduro ao encarar a necessidade do momento. Não sei se isso passou pela cabeça dela, mas será que por algum instante ela imaginou que mesmo o abandono total sendo uma decisão dolorosa, ele estava em paz com ela?

A garota sempre se dedicou e deu o seu melhor, e por isso não deveria se colocar como um ser inferior, e aqui entra uma das maiores responsáveis pelo “monstro” criado: a velha. Dou uma colher de chá por entender o sofrimento dela com a perda dos filhos, mas na hora do infortúnio é que ela precisava mostrar amor e determinação aos dois netos, fazendo no final meio que o oposto disso.

Akira já carregava um fardo grande e ela simplesmente piora isso, agindo de forma semelhante a mãe da Hozuki – que sofreu bem mais do que ela. Para somar ainda tem aqueles indivíduos desagradáveis que sempre fazem o comentário errado na hora mais imprópria possível.

Entendo que o ódio gratuito da professora reflete o que ela sente em relação a si mesma, já que o irmão obviamente acaba se parecendo muito com a Hozuki, uma pessoa de talento incomparável que perdeu sua chance, premiando em consequência alguém como ela, a qual muitas vezes os demais nem se lembram.

Ver os melhores “caindo” enquanto ela resiste e triunfa, de certo modo insulta a sua própria existência, pois instiga nela o pensamento de que ela é apenas um estepe dos que são “rejeitados” pelas circunstâncias. Como ela mesma coloca, cada gesto resignado que parte de pessoas brilhantes como eles, a tornam ainda mais miserável – aumentando mais as trevas que tem dentro de si e dificultando a sua libertação disso tudo.

Um ponto interessante é a comparação que a moça faz entre o Chika e o Sane, enxergando no primeiro o talento que existe em Hozuki e Keishi, enquanto o segundo apenas ocupa o mesmo lugar de cara esforçado e que nunca irá além deles, assim como ela. Se pegarmos detalhes dos outros episódios, o próprio garoto já percebeu a diferença de habilidade entre ele e os dois colegas – torço para que isso não seja usado contra eles no futuro.

Ainda me intriga a real intenção dela com o clube de koto, porque até então o que vejo ela fazer é ensinar e melhorar cada um dos membros – no que não há prejuízo algum. Mais curioso que isso, foi ter visto a Satowa sentir o mesmo que eu, porque confirma o que abordei antes, sobre ela não parecer compactuar completamente com as mesquinharias da avó, apenas se movendo conforme as vozes ruins que a cercam e se machucando no processo.

Por muito pouco ela não aceitou a rival – que viveu dramas parecidos com o dela, como constatou – e seguiu adiante durante o diálogo entre elas, mas espero que logo ela consiga enxergar a luz, porque ela é incrível, apenas não encontrou quem a dê forças para que veja isso por si mesma.

Talento é uma arma poderosa e quanto a isso não há dúvidas, mas também não acho que o esforço é completamente desprestigiado, se comparados. Até porque considero que o esforço, a disciplina e determinação por si só, já são dons e talentos que nem todos nessa vida possuem. Força Akira!

Agradeço a quem leu e até o próximo artigo!

  1. “Pensei que a luz estava esperando por mim. Mas o que encontrei era uma escuridão ainda mais profunda, sem saída”.

    Foi a cena mais triste que vi neste anime, a dubladora mandou bem.

    • Oi Peruibense!

      Foi uma cena forte mesmo, principalmente quando a gente entende que a Akira estava com o interior muito fragilizado pelas pressões constantes e a influência negativa da avó que só aumentou sua auto destruição. Acho engraçado que tem quem diga que o drama de Kono Oto é muito superficial, mas eu acho que cada personagem ali é muito bem construído e são cenas e diálogos como esses que reforçam a qualidade desse anime.

      Obrigado pelo comentário e apareça mais vezes pra deixar suas impressões, o episódio já veio aí pra movimentar e logo o 8 bate na porta!

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