aMuitos consideraram Chainsaw Man o anime do ano por antecipação. Ele cumpriu essa expectativa? Eu acho que não. Em todo caso, o quanto isso é mais importante que a história contada? Eu acho que nada. O futuro é pika? O futuro é do garoto Denis com sua serrinha!

Se está aqui você sabe do que esse anime se trata, mas se ainda não souber, leia a introdução deste artigo aqui, ou aqui (só não vá a fundo, pois contém spoilers do mangá). Chainsaw Man é um battle shonen filho de sua época, uma história que não existiria uma, duas décadas atrás.

E por que escrevo isso? Por causa de suas piadas, de seu protagonista “verde” ou de seus encaixes narrativos meticulosos, que seriam cômicos se não fossem trágicos? Acho que um pouco de tudo, principalmente porque, em seu núcleo principal, temos algumas diferenças.

Se a Power é um alívio cômico que muitas vezes nem tem graça e parece existir na história meio que para nada, o Aki é um típico herói de battle shonen com propósito e passado triste que inverte de lugar com o Denji, que faria mais o perfil de co-protagonista desmiolado.

Contudo, o Denji também tem uma passado horrível, a diferença é a forma como ele lida com isso, não canalizando ressentimentos a figuras específicas, mas tentando aproveitar uma vida que por muito tempo lhe fora negada. E por outros humanos como ele.

O mais incrível disso é ele não sentir nenhum revanchismo mesmo diante da possibilidade de “vingança” que se apresenta a sua frente no arco final da primeira temporada do anime (sim, teremos mais). Seria esse o verdadeiro superpoder do nosso herói? Não sei.

O que sei é que em contraste com o Aki, o Denji acaba conseguindo cumprir sua vingança quando nem a desejava, quando nunca a procurou. Ao mesmo tempo, o que ele perdeu de tão importante pelo caminho? Sim, eu sei que cada história é cada história, mas…

Esse gostinho agridoce que fica na boca é um pouco a tônica do que é Chainsaw Man, mas só devemos ver com mais clareza em sua sequência ainda sem data. Por ora, o que tivemos foi uma parte da história do mangá, que ainda está em lançamento em sua segunda fase.

Mais a frente no texto volto ao trio (principalmente o Denji e o Aki, a Power é um meme ambulante), agora eu queria falar da Makima. Sim, precisamos falar da Makima, a tutora gostosa que termina os doze episódios do anime como tudo menos flor que se cheire.

A Makima é o tipo de personagem que muito me atrai por trazer muitos tons de cinza a história, pois enquanto ela parece apoiar o Denji e os outros em um trabalho que beneficia a sociedade, por outro lado toda hora a trama dá a entender que a heroína tem sua própria agenda.

E a fixação por “controle” que a ronda é expressa em várias situações e diálogos, contribuindo para nos deixar com um pé atrás, principalmente por sua relação com o Denji, que só se difere com o que ele tinha com o chefe yakuza porque ele pode dá-la uma compensação maior.

Na verdade, o Pistola (ou Demônio da Arma, tradução da Crunchyroll) querer matar o Denji é o óbvio, que não querem o corpo nu e sem coração do protagonista à toa, e nisso é como se a Makima não fosse tão diferente desse vilão “oculto,” só usasse métodos mais “agressivos.”

Seduzir um moleque inexperiente sobre muitas coisas do mundo é uma forma bem mais maleável de tentar controlar seu poder, que surge do mais profundo abismo do desespero para frear uma morte injusta após uma vida que mal poderia ser assim chamada.

Denji carrega consigo muitas mazelas e traumas, ou melhor, em qualquer escrita normal (seja de um battle shonen, seja de um seinen) ele as carregaria, mas não aqui, em Chainsaw Man o autor se desprende desses pesos para construir seu herói aos poucos, e com zoeiras, por que não?

Outra qualidade ligada a obra, mais exatamente ao anime sobre o qual conversamos, é sua identidade visual, que é mais que uma base em CG descarada, passa por fluidez e consistência, mas eu diria que se sobressai ao construir seus cenários, os alicerces de um mundo demoníaco.

Porque, convenhamos, em ação Chainsaw Man deixa a desejar em comparação a “blockbusters” contemporâneos. Kimetsu no Yaiba e Jujutsu Kaisen acertam mais em ação, com todos os adornos visuais e sonoros que a competem, tornando-se experiências mais atrativas e diferenciadas.

Repito, isso não é mais relevante que a história, que, apesar de simples, apresenta um ritmo bom e é realmente boa, mas se falamos de construção de hype, o objetivo certamente não foi atendido. E sem querer ser construtor de obra pronta, precisava mesmo de tanta ED?

Ainda no começo da minha cobertura escrevi isso, que temia que os recursos direcionados a essas EDs exclusivas faltassem ao miolo do anime, e eu acho que faltaram, pois nenhuma luta da adaptação empolgou “pra valer,” em nenhum momento senti o “feeling” da direção.

Ainda assim, a adaptação (até por sua fidelidade taciturna) não pode ser jogada no lixo, pois entregou momentos de impacto, como a morte da Himeno ou o flashback do Aki (com seu drama ampliado após a morte da citada), e momentos mais zoeiros, como a apalpada ou o vômito.

Se o Denji foi trollado, por outro lado começou a aproveitar a vida de montão, e se para isso ele tiver que chutar umas bundas e matar uns caras maus, que mal tem? E tudo isso enquanto questiona a própria humanidade, enquanto seu chapa, o Aki, carrega uma death flag daquelas.

Chainsaw Man termina seus doze episódios iniciais com um gostinho de quero mais e uma carta de intenções bem interessante, principalmente pela declaração de gravidade a vista em sua continuação. Denji não tem chance, a guerra vai até ele, e ele a cortará com sua motosserra?

O futuro é pika!

Até a próxima!

 

P.S.: Não vou me estender ao falar de tradução, já dei meus dois centavos sobre o assunto. Usar ou não meme de internet na legenda oficial não é relevante na análise objetiva do anime. Chainsaw Man não ficaria melhor ou pior se o futuro fosse pika porque o futuro é uma página em branco.

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