Esse episódio de certa forma é um microcosmo do que foi a série inteira. Começa por ele ser um episódio inteiro de epílogo em uma série com 26 episódios (começou no zero), sendo que os dois primeiros foram duplos, e não foi contada tanta história assim. Sim, é aquela crítica que eu venho fazendo que já está até começando a apodrecer de tão velha: a série se arrasta. Apenas pensando no que aconteceu, recitando um resumo do episódio, ele até parece interessante, mas não foi. Há piscadelas para o fã da franquia que sabe de coisas além desse anime, mas elas não se encaixam direito e não cumprem uma função relevante. E quase todo mundo que gosta de Fate gostou desse episódio e eu vou passar por ranzinza por estar criticando ele, ou por “mal entendedor”. Isso é um pouco incômodo mas meu compromisso é ser fiel ao que penso, é assim que eu sei produzir conteúdo, sendo honesto. E também, se já cheguei desse jeito até aqui, não é só mais um episódio que vai fazer diferença.
Acabou tudo, vilão derrotado, todo mundo que tinha que morrer já morreu, o que vai ter no próximo episódio? Outro piquenique? Se eu fosse mais egocêntrico eu acharia que decidiram esticar um episódio só pra fazer desfeita pra mim, já que eu tanto reclamei de episódios parados, desenvolvimento lento e muita conversa desnecessária ou chata. Em vista disso e do sucesso do anime (em minha defesa, eu nunca achei que não fosse ser um sucesso apesar de todos os defeitos que apontei) decidiram mandar um “chupa essa manga” pra mim. Mas bom, não sou egocêntrico. Eu sei que esse episódio extra existe por um motivo muito nobre e que os fãs de verdade vão adorar. Enfim, falo sobre ele quando ele chegar, esse artigo é sobre o episódio dessa semana. E ele foi bom sim, bem legal, quero dizer, já vi ação melhor nesse mesmo anime, mas não foi ruim, foi emocionante até. Eu só não dei nota maior por causa de um pequeno detalhe.
Má notícia: o Shinji ainda está vivo. E claro que o Shirou quer salvá-lo. E claro que a Rin sabe que o Shirou quer salvá-lo e se dispõe a fazê-lo antes mesmo que o Shirou possa pensar no assunto, mesmo depois do Shinji ter tentado estuprar ela (e só fracassado graças à intervenção do Lancer). Bom, depois do episódio anterior, acho que tanto faz pra ela, né?
A internet ficou infestada de gente dizendo “o que realmente aconteceu naquela cena de transferência de mana”. E eu não sou o cara mais perceptivo do mundo, mas puxa, eu entendi aquela cena. Para o público-alvo, canal e horário em que o anime passa provavelmente não queriam fazer nada explícito, e sinceramente, destoaria do resto da obra de todo mundo. Talvez na Visual Novel não destoe tanto assim, vai saber, não é mesmo uma mídia conhecida por seu pudor, né. Em vista da complicação que seria adaptar tal cena de forma suficientemente púdica, me pareceu uma decisão acertada abandoná-la completamente e escolher o caminho da metáfora. Mas o que dizer? Agora entendo os espermatozóides da animação de encerramento.
Tecnicamente esse episódio foi bem parecido com os anteriores desse grande arco: muita falação e pouca ação. Mesmo quando está havendo ação os personagens passam mais tempo falando do que agindo. Nesse aspecto mantenho minha avaliação negativa de Fate/Stay Night. Ele não é um anime de ação, porque essa lhe falta. Tampouco é um anime psicológico, porque complica demais coisas simples apenas para parecer inteligente e na verdade tem muito pouco o que dizer. É um anime orientado a seus personagens, embora eles evoluam pouco ou demorem muito a evoluir, e que esteticamente está o tempo todo tentando parecer “legal”, com resultados variados mas na média bem sucedido. Nesse episódio, sem renunciar seus vícios, Fate/Stay Night finalmente deixou claro sobre o que estava falando e pôs em evidência a evolução de seu protagonista. O Shirou quer ser um herói, mesmo sabendo que jamais será um herói, que isso é impossível. Ele é apenas louco?
Nesse episódio como no anterior muita coisa importante aconteceu ou foi revelada. Bom, esse episódio é continuação direta do anterior, então nada mais natural. E assim como no episódio anterior, houve pouca ação. Ainda que Shirou e Archer tenham lutado, não foi assim uma luta muito movimentada. Nem houve tentativa de fazer parecer uma, na verdade, já que não é como se o anime tivesse usado recursos de animação para desenhar menos quadros, os dois simplesmente passaram a maior parte do tempo conversando mesmo.
Honrando a mais antiga tradição humana de contação de histórias, Fate/Stay Night traz nesse episódio inteiro seus personagens contando tudo o que sabem, abrindo seus corações (não, Lancer, não era desse jeito!) e transmitindo ao distinto público várias informações que não havia transmitido antes desse ou de qualquer outro meio. Queria dizer que isso me faz lembrar de quando meus pais contavam histórias para mim à cama, mas isso nunca aconteceu. Contudo temo que, tivesse eu assistido um pouco mais tarde, talvez acabasse adormecendo como crianças normalmente fazem nessas ocasiões.
É preciso um esforço grande para fazer o que esse episódio fez, viu. Às vezes eu tenho pouco o que escrever e o texto acaba ficando pequeno, aí eu preciso encorpar um pouco mais aqui, um pouco mais ali, caçar assunto pra ocupar espaço, e isso dá tanto ou mais trabalho do que escrever objetivamente quando há o que escrever. Esse episódio inteiro não contou nada. Terminou (mais ou menos) a luta do Archer com o Shirou, que havia começado no episódio anterior, e a Rin realmente fez um pacto com a Saber, o que eu achei que não fosse acontecer mas aconteceu, de todo modo foi algo já imaginado no episódio anterior. Daí o Archer raptou a Rin e todo mundo foi pro castelo da Illya porque ela não tá precisando dele agora mesmo. E embora você possa se perguntar, nossa, mas o que levou Shinji e Gilgamesh a descobrirem que a Rin estava lá e decidirem ir atrás dela? O que o Lancer ponderou antes de decidir ir com Saber e Shirou tentar resgatar a Rin? Seu mestre sabe disso? Aprova? As respostas a essas perguntas rendem história (nem vou discutir agora se história boa ou ruim), mas elas não são dadas nunca. O anime assume que já sabemos todas elas e toca o barco. Eu até concedo: boa parte disso é previsível, óbvio mesmo, ou pelo menos fácil de imaginar. Mas não é como se Fate tivesse algo melhor no que gastar o seu tempo. Todo o resto do episódio foi dedicado a contar o que já sabemos: Archer é o Shirou e ele se tornou cínico e ressentido de tanto ser o Shirou. Acho que eu teria raiva de mim mesmo se eu fosse o Shirou também, mas o ponto é que isso já estava mais ou menos estabelecido, não era necessária toda aquela apresentação em CGI ruim excessivamente dramática para contar isso. Como resultado desse apagão no enredo eu me encontrei subitamente sem saber o que escrever. Decidi falar um pouco sobre o que aconteceu (porque não dá pra falar muito sobre tão pouco) no episódio e em seguida teço longas especulações e digressões sobre temas do anime que eu não não havia tido tempo e oportunidade para tratar até hoje. Eu preciso arranjar sobre o que falar também, afinal.
Aproveitando o gancho do Archer, meu título também faz referência à cultura grega. Mas ao contrário da comparação dele, o título desse artigo é completamente desprovido de significado, é só uma homenagem, se posso chamar assim. Até gostaria de escrever um artigo inteiro sobre Medeia, a Caster, mas o anime é muito lacônico sobre ela. Sabemos apenas que viveu tragédias … o que, bom, podemos ler na Wikipedia sobre mitologia grega de todo modo (e eu fiz isso!). Mas o que a Medeia de Fate/Stay Night queria, o que ela planejava, que tipo de pessoa ela era, que tipo de mágoas exatamente guardava de seu passado mitológico? Sobre a Medeia mitológica falarei um pouco, mas o artigo se concentrará mesmo é nos personagens principais de sempre de Fate/Stay Night: Rin, Shirou e Archer.
Após observar por tanto tempo o comportamento do Shirou e escutar tudo o que ele diz, especialmente as partes onde ele admite abertamente que o que ele faz é arriscar a si mesmo para proteger os outros, que ele sabe que isso não está exatamente certo, mas que tudo bem, que ele não se importa, não é preciso ser nenhum guru para perceber que o moleque tem algum tipo de problema psicológico sério. Até a Rin percebeu isso. Como ele passou por um trauma há dez anos atrás, e ele vive citando isso e dizendo que é o motivo para ele agir assim, é óbvio que é essa a causa, e a Rin também identificou isso corretamente. E a garota fez o que nós espectadores não podemos: jogou isso na cara do protagonista. Ainda que reconheça, de certo modo, que ela está certa, ele insiste em seus meios. O que o Shirou tenta disfarçar como um objetivo de vida racional na verdade é só a racionalização de uma compulsão que ele adquiriu como resultado do forte estresse causado pelo trauma. Mas tudo bem, ele pelo menos ajuda as pessoas né? Antes fosse! Ele atende antes à sua compulsão do que às reais necessidades dos outros, podendo até mesmo, ainda que sem querer, prejudicar quando quer ajudar. Me acompanhe enquanto eu explico.