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Depois de vários episódios ajudando seus alunos (com o último ele falhou) de formas que só ele poderia ter conseguido, depois de enfrentar um exame e fracassar (mas jogaram sujo, então tendemos a perdoá-lo), depois de vários embates ideológicos, essa foi a primeira vez que o professor Koro teve sua habilidade de ensinar desafiada por outro professor. E a vitória magra em campo foi na verdade apenas um empate, e olhe lá. Ao contrário de outras histórias do gênero, esse professor que é naturalmente super-poderoso e muito melhor em praticamente tudo não tem um desempenho global assim tão brilhante. E isso faz essa história causar mais empatia do que outras em cenários muito mais realistas do que Assassination Classroom.

A primeira vista pode parecer óbvio que o professor Koro e a turma 3-E, apesar de todo o esforço e avanço, não consigam ainda se sobressair. Eles são sistematicamente boicotados pela escola, afinal. Como esquecer do episódio do exame geral? Acontece que o professor deles também é assombrosamente melhor do que qualquer outro professor – dessa história ou de outras do mesmo gênero. Mesmo assim, sua classe ainda não é um sucesso. Todos reconhecem a melhora, mas não estão tão enfeitiçados pelo professor milagreiro a ponto de confiarem nele para tudo. O grupo de delinquentes da turma nem quis jogar beisebol, por exemplo. A verdade é que atrás de uma camada de super-poderes, o professor Koro é um ser humano bastante normal, comum, cheio de inseguranças e fraquezas que realmente o incomodam – o Nagisa está até anotando-as, e acho que já passam de 20. Compare com o Onizuka, de GTO: ele era tapado, mas por isso mesmo nunca se dispôs a ensinar o currículo normal das disciplinas aos seus alunos, sua parada era outra, era ensinar sobre a vida. E no que diz respeito aos assuntos da vida, ele era mais sábio que quase todo mundo ali, embora um pouco desajeitado e disfarçado atrás de seu comportamento de maloqueiro. E o que dizer do Junichiro, de Denpa Kyoushi, novo anime da temporada? O cara é literalmente um gênio e já conquistou muito mais do que qualquer um de seus alunos (e de nós espectadores) pode sonhar em conquistar. Quando o professor é assim, muito bom, a identificação normalmente é com os alunos. Em Assassination Classroom podemos nos identificar com ambos.

Nesse episódio, ocorre uma gincana esportiva escolar onde a turma 3-E não participa do torneio em si, ao invés disso participando apenas de uma partida de exibição após o torneio contra o clube esportivo da escola (beisebol para os garotos, basquete para as garotas). Derrotar outras turmas da mesma série em um esporte é uma coisa, outra totalmente diferente é derrotar o clube da escola, que é uma seleção dos melhores atletas de todas as turmas. E eles até ganharam, não foi? Mais ou menos, se considerar que o placar apenas após o diretor entrar em campo foi 1 a 0 para o clube de beisebol. O clube roubou, sim, mas a 3-E usou exatamente o mesmo truque depois para evitar o pior. Então os times “empataram”, mas o professor Koro perdeu para o diretor.

Para não restar dúvidas, Karasuma diz que Koro e o diretor são semelhantes nos métodos e iguais nas competências como educadores, mas quem assiste tem certeza que os dois não poderiam ser mais diferentes. Na verdade, Karasuma está certo. O que diferencia os dois não são os métodos ou competências, mas os valores. Ambos querem que seus alunos se esforcem ao máximo e deem o melhor de si, a diferença é que enquanto um não abandona ninguém para trás, o outro propositalmente deixa alguns para trás como exemplo para os que estão na frente. Um quer que seus alunos melhorem, e o outro quer resultados. Um enxerga pessoas, o outro enxerga estatísticas. Talvez seja exatamente nisso que o professor Koro ainda possa melhorar e derrotar o diretor: ele precisa enxergar também as estatísticas. Em sua crença, há espaço para alunos simplesmente desistirem, como os delinquentes fizeram ao decidirem não participar do jogo. Ele tenta convencer os alunos de que mesmo aquilo em que são ruins ou que detestam é importante, como ele fez ao convencer a aluna boa de química que aprender a ler e escrever corretamente é importante inclusive para o que ela gosta e é boa em fazer. Mas essa é uma visão limitada, no fundo poderia não ter funcionado com ela, pode não funcionar com ninguém, e aí ele fará o quê? Estatísticas são importantes sim, e ele não precisa se preocupar em tentar tirar mais dos alunos mesmo contra a vontade deles porque ele já tem o que é preciso para não machucar alguém. Depois de convencê-los que ele é um bom professor, ele precisa começar a mostrar resultados para que seus alunos realmente confiem nele.

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