Efeito Borboleta é o nome dado a um fenômeno presente em sistemas caóticos. A formulação popular é a seguinte: algo tão pequeno quanto o bater das asas de uma borboleta pode, por uma sequência de eventos em cadeia, provocar um furacão em um lugar distante. O uso de “provocar” é inadequado, bem como toda a formulação, porque dá a entender que apenas o bater das asas da borboleta é suficiente para que o furacão se forme, quando na verdade o que ocorre é que em uma grande massa de dados, um grande conjunto de variáveis, uma alteração pequena em apenas uma delas pode modificar bastante o resultado. A metáfora meteorológica é adequada porém, já que o cientista que cunhou o termo estava tratando justamente de meteorologia. Em um caso específico, uma pequena mudança nos dados fez a previsão de uma tempestade em um lugar mudar para um tornado em outro completamente diferente – que de fato ocorreu. De todo modo, perceba que mudou de tempestade para tornado, e não de nada para furacão.

Graças ao filme de mesmo nome, o Efeito Borboleta é popularmente associado com mudanças drásticas causadas por pequenas alterações em uma fictícia viagem no tempo. É difícil, hoje em dia, assistir uma história sobre viagens no tempo (mais especificamente, retorno ao passado) e não pensar em grandes alterações (frequentemente inesperadas e indesejadas) no presente. Esse é basicamente todo o mote do filme Efeito Borboleta. E no primeiro episódio eu conjecturei se algo assim poderia acontecer – Satoru acabaria alterando demais o passado, modificando coisas que ele não queria modificar. Não cheguei a escrever sobre isso nos artigos anteriores mas nesse acho que se tornou muito importante. Mas é uma espécie de inverso do Efeito Borboleta: Satoru está encontrando dificuldade em fazer as coisas diferentes. Pelo menos foi a impressão ao longo do episódio. No final ele parece ter conseguido mudar pra valer alguma coisa, mas será que agora não vai começar o efeito verdadeiro e ele se arrependerá das consequências?

O professor sabe de tudo sobre a Kayo e está dando corda pro Satoru

O professor sabe de tudo sobre a Kayo e está dando corda pro Satoru

Dizer que ele não conseguiu mudar nada antes do fim desse episódio é exagero. Ele parece bem mais entrosado com seus amigos do que era nos flashbacks do primeiro episódio. Ele é um filho mais grato à sua mãe também. E claro, ele está se esforçando pela Kayo – e a menos que esse anime seja uma tragédia, é óbvio que isso ele vai conseguir mudar até o fim do anime. Mas por enquanto…

O ponto onde quero chegar é: isso tudo é bonito e legal e essas coisas todas, mas o que ele conseguiu mudar de verdade? Que mudança duradoura ele foi capaz de realizar? Ainda há muita coisa que ele não lembra de sua infância, e isso em parte está fazendo-o repetir alguns erros que havia cometido antes. Ele escondeu as redações dos alunos de sua mãe antes, e tornou a esconder apesar do grito de socorro que a redação da Kayo representa. Ele sequer se lembra de sua própria redação ainda. Ele havia deixado um garoto que treina duro ganhar uma corrida sobre patins, e ele deixou de novo. O garoto percebeu (ele está treinando isso) e ficou irritado, a Kayo percebeu e ficou frustrada, qualquer um com um olho mais atento percebeu. Ele repetiu o erro. Vá saber se essa corrida não pode ter sido um ponto de inflexão na vida daquele garoto? E talvez fosse melhor se ele tivesse perdido?

Quanto à Kayo, a primeira coisa que a intromissão dele conseguiu nesse episódio foi uma dose extra de maus-tratos por parte de sua mãe. Não vou dizer que ela estivesse bem e feliz ali largada na cabana com frio e dolorida de hematomas por todo o corpo, mas é difícil acreditar que ela tenha se sentido melhor com uma sessão extra de violência e humilhação na frente de seu amigo de escola.

No final parece que ele conseguiu induzi-la a uma mudança positiva. Levou-a à montanha ver lobos e uma árvore coberta de gelo. Ela achou tudo muito lindo, porque é mesmo, e porque ela é uma criança então deve achar as coisas lindas do mundo especialmente lindas. Principalmente do ponto de vista dela, que vive em um mundo muito feio. No fim da interação entre os dois ela até mesmo sorriu. A Kayo sorriu! Foi o sorriso mais bonito e honesto que vi em um anime em muito tempo, e tudo isso só foi possível graças ao esforço do Satoru. Contudo, ele continua achando que basta “segurar as pontas” e evitar o encontro da garota com o destino em um dia fatídico bem específico (que ele até conseguiu deduzir exatamente qual será) e então a crise estará superada, tudo terminará bem e não haverão mais guerras, fome ou doenças no mundo.

A Kayo ainda é capaz de sorrir, ela ainda tem salvação. Linda cena

A Kayo ainda é capaz de sorrir, ela ainda tem salvação. Linda cena

Mas ai! Eu sei que não vai ser fácil assim. Primeiro, provavelmente evitar a tragédia não deverá ser fácil. Segundo, provavelmente evitar o assassinato da Kayo deve ser só o começo de uma série de desafios. Continuo desconfiado do professor – ou melhor, estou mais desconfiado do que antes. Eu me perguntei, no episódio anterior, se ele era o assassino ou apenas um professor desligado por não ter dado a devida atenção à Kayo. E veja só: nesse episódio descobri que ele não está nem um pouco alheio ao caso da garota! Se não é esse o caso, então …? Bom, não é como se houvessem realmente apenas essas duas opções. Mas acho o comportamento dele bastante suspeito. E mais suspeito ainda foi o amiguinho inteligente do Satoru no final do episódio conversando a sós com o professor quando já havia escurecido. Aquela cena me deu calafrios, eu juro que por baixo daquele rosto sombreado do garoto pude ver claramente um sorriso maligno.

O encontro suspeitíssimo entre o professor e Kenya na escola. Olha pro garoto, ele está sorrindo como um vilão, não está? Está!

O encontro suspeitíssimo entre o professor e Kenya na escola. Olha pro garoto, ele está sorrindo como um vilão, não está? Está!

  1. Esse anime veio pra mim com o mesmo hype de Subete ,estou apaixonada e só espero que não me decepcione como o outro da temporada passada…
    Fiquei muito triste com a cena da violência,e a intromissão desnecessária do protagonista me irritou,como uma criança aqueles comentários não serviam de nada. Sabe,ele parece que viveu a vida no modo piloto automático e nessa visita ao passado ele está se assustando com suas lembranças e repetindo os mesmos erros que cometeu. Será que é cedo para pensar que aquele loirinho tem a mesma habilidade do Satoru e talvez queira frustrar os planos dele?O professor me intriga,a postura dele não me convence,ainda parece anti-etico.
    Ps:Er eles viram raposas na montanha,não foram lobos.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Perfect Insider foi uma perfeita porcaria =P O começo dele foi mais lento também. E o meio. E o fim … não quero falar do fim. Como escrevi em algum lugar por aí, o último anime que me fez ter a mesma sensação (mas só isso, porque é de outro gênero completamente diferente) foi Shingeki no Bahamut. Que naufragou tragicamente após a metade por excesso de peso (tinha personagens demais para tempo de menos para desenvolver uma boa história). Que triste =P Espero que BokuMachi continue bom até o fim, nada de ser comparável a Perfect Insider ou Shingeki no Bahamut.

      A graça de BokuMachi é que muita coisa já está em movimento, mais do que conseguimos saber e ficamos ansiosos tentando acompanhar tudo. Aqui não é uma sala fechada. O Satoru é um péssimo detetive (nem está tentando ser detetive ainda, na verdade, apenas confiando que se evitar a morte da Kayo tudo irá ficar bem depois), e ele não parecia ser um ser humano muito bom também quando adulto. Benevolente, bem intencionado, talvez, mas com sérias dificuldades de se relacionar com outras pessoas. Ele ainda não percebeu, mas nessa viagem à infância uma das coisas que precisa mudar é a si mesmo.

      Eu nem havia aventado a hipótese de mais alguém ter esse poder. Bom, é possível, eu acho? Mas preferia uma solução mais misteriosa, menos ficção científica. Vamos ver.

  2. Está exigindo demais do Satoru!
    Ele está apenas agindo como demonstrou no primeiro episódio, ele volta no tempo, procura a causa e interfere na ação.
    Isso pode funcionar em intervalos curtíssimos como foi no ep. 01, mas é questionável se isso funcionará em um prazo tão longo.
    Não deve ser fácil lembrar de tudo que fez aos 10, 11 anos, e se não ficar atento, a ação se repete normalmente, não será fácil.
    De qualquer forma, mesmo que não consiga salvar a Kayo, ele terá de se focar nas outras meninas e no Coragem, pois acho que um crime não tem relação com o outro.
    E aí terá de mudar o modo de agir.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Ah, não estou exigindo nada não. É só comentário, apontei como ele está agindo, como ele parece estar operando, e o que eu acho que isso pode significar para a história. BokuMachi é bom porque as pessoas agem como pessoas, e como você disse, não dá para voltar 19 anos no tempo e se lembrar do que fez no dia à dia. Esses fracassos dele são humanos e esperados =)

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