Agora eu já decorei os nomes deles. Yakumo se chamava Ken e seu mestre (Yuurakutei, o então mestre Yakumo) o chamou de Kikuhiko. E o Sukeroku eu não me lembro seu nome de nascença, mas Yuurakutei o deu o nome Hatsutaro. Mas vou continuar chamando os dois de Yakumo e Sukeroku porque a história deles é apenas uma história colateral, não importa como eles eram chamados, importa como eles são conhecidos pelos personagens no presente na linha principal do enredo.

E vou continuar reclamando sim do anime estar gastando tanto de seu tempo com um flashback, mesmo dito flashback sendo uma história interessante. Ele poderia pelo menos ser contado de forma interessante, mas o anime terá apenas 13 episódios então não tem como fazer melhor. Não é a história principal, não deveria tomar tanto tempo para começo de conversa, e caso se revele no fim das contas a história principal então não só pelo primeiro episódio que despista mas pela própria narrativa desse flashback Rakugo Shinjuu terá sido um anime péssimo. Como história auxiliar pode passar ainda. Veremos.

Graças ao primeiro episódio já sei tudo o que importa sobre esse flashback. O Yakumo vai sim se tornar um mestre no rakugo. Ver o quanto ele teve dúvidas até se decidir é interessante, mas não é nenhuma surpresa. Sei que o Yuurakutei vai morrer em algum momento, e ainda nesse tema macabro eu sei que o Sukeroku vai morrer – mas não sem antes ter uma esposa e filha, que ficará sob os cuidados de Yakumo. Ela já será uma criança crescida o bastante para se lembrar da morte do pai, mas nova demais para se lembrar de detalhes quando for adulta. De alguma forma o incidente ficará parecendo culpa do Yakumo para ela, e ele jamais irá esclarecer o ocorrido. Não antes de voltarmos ao presente e à linha principal do enredo pelo menos.

Eu já sei onde a história termina, e ela não está sendo contada de uma forma particularmente interessante. Está sendo basicamente narrada (talvez o Yakumo esteja no presente contando a história para alguém) de forma monótona e estritamente cronológica. Apenas os pontos mais importantes estão sendo contados, com toda a sutileza do desenvolvimento lento ao longo do tempo sendo ignorada. Eu sei que o garoto que não se interessava por Rakugo se tornou o adolescente que ainda não gostava mas queria pelo menos ser bom naquilo, que depois se tornou o adulto indeciso que gostava de rakugo mas não sabia se conseguiria ser bom, que em um momento se decidiu. Mas como ele evoluiu de um estágio para o outro ficou de fora do anime. Imagine aí o que achar mais divertido.

Promessa que fizeram antes de Sukeroku partir para guerra

Promessa que fizeram antes de Sukeroku partir para guerra

Compare esse episódio com o primeiro do mesmo anime e perceba a grande diferença. Sendo sincero, se Rakugo Shinjuu não tivesse tido um primeiro episódio tão bom eu já estaria completamente frustrado a essa altura, talvez não tivesse escolhido esse anime para escrever durante a temporada e estivesse deixando seus episódios acumularem para talvez quando sobrasse tempo tentar alcançar. Se nunca sobrasse tempo, bom, talvez no fim da temporada? Talvez nunca? Mas teve o primeiro episódio e ele foi incrível, e por causa dele eu sei o potencial de Rakugo Shinjuu. Continuarei assistindo toda semana ansioso na esperança de que ele atenda minha expectativa – e torcendo para ele não se tornar outro Perfect Insider na categoria grande frustração após grande expectativa.

Mas se é o que tem pra hoje, só me resta fazer uma limonada com esse episódio. Narrativamente foi aquela chatice toda que já falei, mas ele contou um pedaço de vital importância na história pessoal do Yakumo. Que não deveria ser tão importante assim já que os protagonistas são (deveriam ser) Yotarou e Konatsu, mas tudo bem, se o anime está contando tudo isso que valha de algo pelo menos. E esse episódio valeu. Quando ele começou Yakumo já estava irremediavelmente apaixonado pelo rakugo, só não sabia disso ainda.

A mulher que Yakumo rejeitou para voltar para o rakugo (e para o Sukeroku?)

A mulher que Yakumo rejeitou para voltar para o rakugo (e para o Sukeroku?)

A relação dele com o rakugo era complicada. Ele via o Sukeroku evoluir enquanto ele sentia que mal saía do lugar. Suas tentativas fracassavam, e quando não era por culpa dele (como no episódio anterior em sua primeira apresentação) era por culpa dos tempos. O começo do período Shouwa, acredito já ter lido em algum lugar, foi uma época de crescimento do conservadorismo, e isso se refletiu na cultura popular. No episódio e no que importa para o rakugo, a contação de histórias tradicional passou a ser considerada uma arte menor, de segunda categoria. Para se defender disso, mestres do rakugo se reuniram e baniram 53 obras clássicas com conteúdo erótico (e suponho, qualquer coisa que pudesse ser considerada anti-nacionalista também, mas isso não foi citado no episódio e não vem ao caso). Acontece que, seguindo o conselho do Sukeroku, Yakumo estava justamente começando a treinar essas peças por não exigirem uma voz muito potente, assim contornando um defeito seu.

Não deu. Mas não importa, porque algo pior aconteceria logo em seguida e Yakumo ficaria anos separado do rakugo: a guerra. O anime cita o ano de 1941, então se tratava da Segunda Guerra Mundial, não da Segunda Guerra Sino-Japonesa que já vinha sendo travada desde alguns anos antes. O Yakumo, por ser coxo, não corria o risco de ser convocado, mas o Sukeroku poderia acabar na guerra como um soldado. Não sei detalhes de como funcionava o alistamento militar japonês na época, mas suponho que fosse uma possibilidade e que essa tenha sido a razão principal para seu mestre ter escolhido ir como artista para a Manchúria entreter as tropas, junto com o Sukeroku. Ele teria levado o Yakumo junto se fosse necessário, mas com o problema de mobilidade que ele tinha ele estaria em grande perigo caso fosse para uma zona de guerra. Yakumo ficou, e se sentiu abandonado pelo próprio mestre em um momento delicado de sua carreira e de sua vida. Mas foi precisamente essa dificuldade que o tornou forte a ponto de decidir por si mesmo que queria fazer rakugo, que aquela seria a sua vida.

Yakumo fazendo apresentações sozinho enquanto seu mestre não voltava ao Japão

Yakumo fazendo apresentações sozinho enquanto seu mestre não voltava ao Japão

Ele poderia ter escolhido uma vida como trabalhador de fábrica normal, ter constituído uma família normal. Não faltou chance. Em comparação com o Yakumo tímido e desajeitado do segundo episódio, nesse aqui ele sabia se virar muito bem, era um jovem cativante e competente – não tanto no rakugo, ou não o suficiente para seu próprio nível de exigência. Uma segunda apresentação dele nesse episódio teria caído bem para saber se ele era mesmo ruim ou se só estava sendo perfeccionista. Não dá para ter tudo quando se está voando na história de forma resumida, não é? O importante é que o Yakumo era bom com pessoas. Ele arranjou pelo menos uma namorada ainda antes da guerra, e conquistou o coração de outra mulher no interior enquanto esteve afastado do rakugo.

Mas ele a deixou para trás. O futuro dele estava em Tóquio, nos palcos de rakugo, mesmo se seu mestre e Sukeroku nunca voltassem. Sentia falta deles, principalmente de Sukeroku, e creio ter sido essa uma das razões que o fez se decidir. Entre o fim da guerra e a volta de Yuurakutei e Sukeroku se passou muito tempo, o qual Yakumo aproveitou para, sozinho, se tornar um profissional no rakugo. Ele foi o chefe da casa de seu mestre até sua volta, e pouco tempo depois ele e Sukeroku se graduaram formalmente como artistas, indo morar sozinhos e viver à custa do próprio trabalho. Para encerrar, preciso dizer: não descarto a possibilidade de Yakumo ter se apaixonado, romanticamente falando mesmo, pelo Sukeroku. Talvez ele próprio nunca tenha percebido ou nunca venha a perceber, mas o comportamento dele com mulheres e com o amigo parece pelo menos deixar essa possibilidade em aberto. E isso pode ser importante para o que irá acontecer com os dois mais tarde. No próximo episódio? Tomara. Que acabe logo esse flashback!

O reencontro emocionante de dois melhores amigos por toda a vida

O reencontro emocionante de dois melhores amigos por toda a vida

Comentários