Ballroom e Youkoso começou na temporada de verão de 2017 e terminou na temporada de outono do mesmo ano, totalizando 24 episódios – que adaptaram pouco mais de nove volumes do mangá – com um final original devido à falta de material para adaptar. Nessa resenha comentarei um pouco mais sobre o que esse anime de tema tão incomum – dança de salão – tem a apresentar para o público.

Um ano pode fazer toda a diferença para um dançarino!

Tudo começa com Tatara Fujita, um jovem que não tem uma aspiração ou paixão na vida e que, exatamente por isso, quando conhece a dança de salão – através do malandro e simpático Sengoku Kaname – acaba por se interessar em praticá-la a fim de que com ela tenha algo ao qual se dedicar.

O anime segue a jornada do garoto como um principiante no mundo da dança de salão competitiva, que através de muito esforço e ambição consegue melhorar cada vez mais em pouco tempo, o que é uma forma bastante comum de fazer o público se identificar com o personagem e torcer pelo seu sucesso. Apesar de simples, essa premissa não limita a história que é contada, história essa que é o aspecto que mais se destaca no anime tanto por ser bem escrita quanto bem executada, já que trabalha bem seus personagens e tramas, extrai o melhor das situações e é bastante coerente.

O anime é cheio de momentos marcantes que dão vontade de voltar o vídeo para ver de novo!

A parte técnica não fica atrás e na maior parte do tempo entrega uma animação bela e consistente que tem como ponto forte a vivacidade nas expressões dos personagens e uma trilha sonora variada e dinâmica, cujo senso rítmico consegue se encaixar bem nas cenas de drama e de dança, essas que apresentam alguns ótimos momentos, mas na maior parte do tempo são mais compostas por quadros estáticos e jogos de câmera do que por fluidez nos movimentos dos corpos ao dançarem.

Se vale a pena ou não ver o anime mesmo com esse problema acho que a decisão cabe a cada um após passar ao menos pela regrinha dos três episódios, pois é exatamente no terceiro que o anime tem seu primeiro clímax, o que, aliás, é um ponto forte da obra, a forma como ela consegue entregar um clímax satisfatório usando todas as qualidades que citei ao máximo para compensar esse seu defeito crônico. Se é para errar que ao menos se tente compensar de alguma forma, não é mesmo?

E Ballroom sabe como engrandecer os melhores momentos da obra!

Por outro lado, tirando apenas um ou outro episódio em que a velocidade da adaptação massacrou um pouco o ritmo da história no geral, o anime desenvolve bem a sua trama, dando tempo para que os personagens apareçam e sejam bem apresentados, entendendo que alguns deles precisam de mais tempo de tela e de mais desenvolvimento enquanto outros têm que ter apenas o mínimo de background para que consigam se encaixar dentro do tema e da narrativa trabalhados no momento.

Às vezes é difícil dissociar personagens secundários da ideia de que eles são apenas ferramentas de roteiro usadas com certo proposito narrativo, mas acredito que a obra faça bem isso ao tentar humanizá-los, conciliando os seus objetivos com o do seu parceiro – geralmente um personagem de caráter primário para a história – dentro do quadro geral do anime. Isso se deve ao fato de que a dança de salão se dança em pares, então é importante explorar a dinâmica de um par, os objetivos individuais de cada dançarino e da dupla como um todo, seus problemas de relacionamento e a forma como cada um vivencia a dança e aceita ao outro através das características da dança dele.

A minha personagem favorita de toda a obra! Ouça ela cantando uma linda música aqui!

Inclusive, tanto o primeiro quanto o segundo arco principais se passam em torneios – a obra se divide entre preparação para as competições e então as competições, o que engloba apresentar personagens e seus dramas, momentos de treinamento e, por fim, as disputas –, os quais põem em prática exatamente isso, a dinâmica entre personagens que dançam juntos e personagens que são rivais, mostrando diversos aspectos que podem ser atrelados ao ato de dançar, como a amizade, a autoconfiança, o desejo de se destacar, a predileção pelo aprimoramento técnico, etc. Ballroom se sobressai por conseguir fazer com que seus personagens evoluam através de uma dinâmica de atrito que constantemente os tira de uma posição de conforto, fazendo com que tenham que se superar tanto nas suas relações interpessoais quanto nas técnicas de dança se quiserem vencer seus desafios.

Essa é uma abordagem apropriada para uma obra que em seu material original é vendida como um shounen de esportes, tornando natural a aproximação com o público jovem, por ter a maioria dos seus personagens principais na faixa etária dos 15 a 17 anos, mas entendendo não só pela boa escrita como também pelo fato da dança de salão amadora – que é o foco da obra – envolver pessoas de todas as idades – três dos rivais do segundo arco têm mais de vinte anos, por exemplo – a aproximação com um público mais velho é possível e é feita de forma natural, sem minar os momentos cômicos da obra em prol de dar a ela um tom de seriedade para agradar a certo público.

Parceiros de dança não são só companheiros, mas também rivais!

É importante que uma obra entenda a que público quer passar a sua mensagem, mas sem se descaracterizar em prol disso. Ballroom mostra que é possível escrever uma história autêntica com bons personagens e boas tramas usando uma base clichê e simples para isso. Ele consegue agradar diversos tipos de públicos ao não se mostrar apenas um mangá e anime com foco infanto-juvenil, sendo capaz de agradar a uma criança ou a um adulto apenas por conta de suas tantas qualidades.

Como falei na introdução do artigo, o final do anime é original, mas isso não é um problema porque a autora do mangá – Takeuchi Tomo – esteve diretamente envolvida na produção dele, então quando ela for concluir esse arco no mangá – que atrasou devido a problemas de saúde dela – a história não deve ter diferenças relevantes, e se pensarmos apenas no anime, foi um final bastante satisfatório, pois conseguiu tanto fazer com que o público aceitasse bem os vencedores do último torneio – acredito eu por acharem que a história trabalhou bem o mérito do par campeão – quanto sentisse o peso da derrota do par perdedor – por achar que esse também teria seu mérito caso tivesse vencido.

Não dizem que é do caos que nasce a harmonia?

Ballroom e Youkoso é uma obra a qual eu já acompanhava em mangá antes de sair o anime e que indico em ambas as mídias a você, por acreditar que as duas têm qualidades distintas que podem proporcionar experiências únicas e satisfatórias de entretenimento. O anime tem seus defeitos, mas no geral acredito que as suas qualidades compensam e muito dar uma chance a ele.

Afinal, não é todo dia que sai um anime sobre dança de salão, não é mesmo? Só o tema em si pode despertar a curiosidade de alguns, mas acredito que só isso não sustentaria o gasto de tempo que é ver 24 episódios, mas, como comentei mais acima, se você conseguir superar o problema da dança estática e se deixar levar pelo ritmo envolvente e apaixonante desse anime acredito que sempre que ouvir uma Valsa tocando lembrará de Tatara e de sua bela jornada ao ritmo da dança de salão.

Um beijo da heroína no herói, quer forma mais legal de acabar uma boa história?

    • O mangá ainda está em lançamento, se não me engano o último capítulo lançado foi o 46. A autora ainda está finalizando esse arco no mangá e vem sofrendo de constantes problemas com hiatos. Uma continuação para o anime não é impossível, mas ainda deve demorar muito para acontecer.

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