Temos todo o tempo do mundo para não termos tempo algum. O OVA de hoje é uma curta animação experimental exibida no Japan Animator Expo do ano de 2015. É um divertido e bem humorado, e nostálgico, no sentido de premissa, anime que rebobina a nossa experiência para os bons tempos das mídias analógicas.

 

 

Fitas cassete são a culminância tecnológica que se iniciou perante os primórdios dos registros cinematográficos do audiovisual. O que poderia ser mais próximo da animação do que segmentos de negativos de filmes que compilam quadros e mais quadros para, em velocidade, fluir a existência da história, dos movimentos que dão vida a ficção.

Nesse OVA acompanhamos Yuri e seu Mecha, Sandro, em uma jornada em busca de raras fitas B. Para saber um pouco mais sobre essa era pré-histórica do armazenamento e reprodução, consultar o Hiperlink aqui disponibilizado. O anime não conta com um real plot para além da carismática protagonista e da pontual situação em que ela e seu fiel companheiro se encontram, mas a mensagem que transmite é muito interessante e pertinente. Boas coisas nunca saem de moda.

 

 

De fato, essa mídia analógica de armazenamento hoje em dia é obsoleta, mas a dívida que temos para com ela é abissal. O magnetismo de sua tecnologia preservou uma gama cultural de década a fio. Músicas e registros cinematográficos, ou mesmo, como não lembrar, do vinil, um item cultuado por colecionadores e que sobrevive até os dias de hoje com relativa força.

Yuri, curiosa e impetuosa, descobre em uma cidade abandonada e deserta, uma antiga locadora de filmes, ela resolve investigar o interior do local. Pois como ela já insinuou em uma de suas primeiras falas, boas músicas não saem de moda, a arte, é imortal. Mesmo que o meio utilizado para registrar a expressão artística humana mude, a expressão artística em si não mudará. De modo amplo é claro, pois sabemos que o como a arte se manifesta muda de tempos em tempos e de lugar para lugar. O que ela quer dizer com isso é muito honesto na verdade. Ela não quer esquecer o passado, ela quer se manter aquecida e cercada pelas coisas que gosta, que lhe afetam e pelas quais nutre um respeito profundo.

 

 

O central, para além do conteúdo em si que cultua, é a nostalgia e o reconhecimento do material, da mídia física, da armadura que armazena e protege essa identidade cultural. Ela encontra na locadora a oportunidade de conciliar as duas coisas, o seu desejo pelo conteúdo e a sua reverência pela nostálgica forma de reproduzir o mesmo. VHS, mídias dos mais diversos segmentos que evoluíram no decorrer de sua era. Ela encontra o que procura, uma variação de VHS do tipo B, que preserva um anime do qual gosta.

Entretanto, Yuri é desastrada e ativa o sistema de vigilância dos discos CD. Com isso o anime se torna em uma batalha contra a força policial da nova geração, que não apenas substitui a antiga em sua função, como a arremessa ao esquecimento.

 

 

Munida da nostalgia e de seu amigo e arma de combate, Yuri enfrenta a poderosa mídia CD, e quando se equipa com as fitas K7 compatíveis com o seu Mecha Sandro, ela se transforma na Cassette Girl, adquirindo as habilidades que a mídia da fita magnética que ela adquiriu lhe concede.

Esse OVA é tanto um anime curte experimental, como um AMV, já que no decorrer de toda a animação temos uma música tema tocando ao fundo. As cenas de ação, ou mesmo todo o plot dessa breve história, podem facilmente ser subestimados, mas, sem dúvida, é uma obra muito interessante.

 

 

Destaco ainda mais que, agora que estou assistindo Eizouken, esse anime faz ainda mais sentido. Podemos sentir a expressividade da história e a alma das pessoas que trabalharam no desenvolvimento desse OVA. A premissa pode parecer boba, mas o esmero com que ela se desenvolve e cria um universo mágico e extremamente interessante, é muito bem executada. Com forte influência de obras renomadas da animação, como FuriKuri, Cassete Girl é um daqueles animes que existem como fragmentos de uma potência que nunca será desenvolvida mais a fundo. Mas seria realmente interessante se pudéssemos ter e acompanhar mais aventuras de Yuri e sua busca por raros exemplares de fitas K7, ou VHS, para os mais exigentes.

 

 

Para finalizar, para além de convidá-los a apreciar essa obra sem preconceitos, tenho que destacar que a mensagem central do anime é muito bonita, uma homenagem não apenas as obras do passado que permanecem no nosso presente, mas acima de tudo ao material que sustentou e deu vazão para a propagação dessas obras entre os seus fãs e apreciadores. Novas mídias foram criadas, com mais qualidade e capacidade de armazenamento infinitamente superior, mas é sempre bom ter em mente a história e origem que paulatinamente levaram e continuam levando ao avanço da nossa relação com as obras, a cultura e o culto de colecionador.

  1. Cassette Girl e Daicon…Que animes!!!

    Nessa me lembrei de minha sobrinha que me perguntou (ela tem apenas 8 anos e curiosa por tudo). Quando viu meu discos de vinil e me perguntou o que era aquilo….Ela sabia que era para tocar musica, mas nunca tinha visto um toca discos funcionar…E eu disse “Querida ‘isso” era o melhor sistema para fazer amigos!” E ela com uma cara surpresa de quem só conhece as redes sociais me pergunta “Como assim?”…”Ah, isso é uma coisa que não existe mais, mas quando funcionava era assim: vc saia de sua casa no sábado a tarde para ir a algo chamado ‘loja de discos’, essas bolachas pretas que o tio mostrou, e lá vc ficava um tempo escolhendo qual iria comprar, aí já chegava uma pessoa que não conhecia e te recomendava ‘esse aí é bom’, um outro falava ‘eu prefiro mais esse outro’ e por aí se ia até vc decidir qual disco vc queria realmente comprar. Aí vc comprava e já vinha o aroma de vinil virgem e do celofane que o envolvia. Aí vc saia da loja pegava o onibus e o motorista olhando para a sacola semi transparente falava ‘esse é pauleira, amigo. Pode escutar sem medo é bom para ****!'” E o que acontecia tio? “O que acontecia linda era um ritual mágico…Vc abria o lacre e o celofane já emanava vapores mais fortes do vinil e das tintas de impressão do album era um perfume bruxuleante…Pegava o vinil, preparava o toca discos, setava todos os parametros do seu som (de preferência alto para cacete!) e deixava uma coisa chamada agulha tocar o vinil….Uns segundos de “pocs” sentava na poltrona e as portas do paraiso se abriam diante de você!”
    Era a sensação mais maravilhosa que se podia ter era fantastico! Era lindo! Eu me sentia melhor e sentia que o mundo ao meu redor era muito melhor!!
    “Isso vcs não vão poder apreciar! Está no passado….” E ela voltou para o seu joguinho de celular com uma carinha de decepcionada, mas ela entendeu…

    • Olá James!!! rsrsrs caramba que história heim… mas é assim mesmo, não só com o vinil, mas com muitas e muitas coisas… sou fã de coisas analógicas!!!
      Essa nova geração nunca vai saber dessas coisas… o que é uma pena… mas me pergunto se eles tem as suas próprias coisas com as quais se sentem assim…
      outros tempos, outras intensidades!!!

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