Sabe quando você se vê em alguns pontos em um personagem, e em outros tantos não, e isso faz com que você se ligue emocionalmente mais facilmente a sua história? Então, esse é o meu caso com o anime Yesterday wo Utatte (Sing “Yesterday” for Me), que adapta o elogiado mangá homônimo de Kei Toume.

Na história acompanhamos Rikuo Uozumi, um recém graduando que mantém o emprego de meio período para pagar as contas e se contenta apenas com isso, não buscando emprego em sua área de formação. É no dia a dia da loja de convêniencia em que trabalha que ele conhece Haru Nonaka, uma peculiar colegial, e se reencontra com a amiga de faculdade, a professora Shinako Morinome, pela qual nutre uma paixão. É ao confrontar seus sentimentos que Rikuo mudará a si?

Essa história mexe com uma fase da vida que vira e mexe é explorada em animes, mas nem sempre de maneira tão realista, tratando de problemas que são bem comuns aos jovens de hoje em dia. Eu mesmo tenho mais ou menos a mesma idade do Rikuo e me vejo um pouco nele no que se refere as decisões que preciso tomar na vida e como temo me machucar ao me arriscar, seja em relacionamentos ou na busca por emprego. Na verdade, acho que ele ainda está melhor que eu…

Mas não sou eu o protagonosta do anime, né? O Rikuo é um personagem mais simpático e fácil de entender do que eu pressupus que seria pelo que li da sinopse e vi no trailer e acho isso ótimo, porque humaniza o personagem e faz com que as pessoas que enxergam semelhanças com ele não se contenham em observar sua história e tirar algo de pertinente para si, seja na forma que ele se relaciona com as pessoas ou como não define objetivos.

Não que você deva ser como ele, mas será que não é digno descobrir vivendo igual ele? Fugir de “viver” não é certo se pensarmos que mina suas possibilidades de felicidade e poupa da decepção, mas também do sucesso, o problema é que nem todo mundo entende isso tão rápido ou lida com isso de maneira a tomar uma decisão e dar um passo adiante. Aqueles que fogem carecem de estímulo para refletir e tentar mudar e é na personagem da Haru que vemos isso…

Ela, que ao longo do episódio revelou que conhecia o Rikuo de outros carnavais… A garota tem um jeito de ser “excêntrico” (quantas adolescentes que se apegam a um corvo você conhece?), o qual tanto dá leveza e versatilidade a narrativa, quanto expõe que em um certo nível tudo não passa de uma máscara. Talvez a pessoa melhor que ela quer ser(?), afinal, a moça tem seus próprios problemas, não à toa não vai a escola, mas parece ter dificuldade em lidar com eles, como…

Como o Rikuo, o adulto pelo qual ela está apaixonada (ou acha que está). Inclusive, o triângulo amoroso se estabelece rapidamente ao longo do episódio e não é uma maneira ruim de conduzir a história. Você e eu, e a maioria das pessoas, deve ter passado por algo do tipo ao menos uma vez na vida, gostar de alguém e a pessoa gostar de outro alguém. Portanto, é facil ver o que a Haru está tentando fazer e que, no final, não há chances de ninguém sair magoado dessa história.

Ao menos se pensarmos que na vida real decepções em situações como essas costumam atingir a todos ou quase todos… Não seria realista um desfecho em que todos saem felizes, não sem antes encarar a dor de uma rejeição ou um sentimento de impotência ao lidar com algo que vai além de suas próprias forças.

Por isso que o Rikuo experimentou a sensação ruim de não ter seus sentimentos correspondidos, apenas como uma primeira amostra da dor que ele vai sentir ao se lançar nos desafios dos quais tem fugido. Não sei se em algum momento sua relação com a amiga vai mudar, mas algo me pareceu possível, ela não ter sido completamente sincera, algo a incomodar. É um segredo que não pode revelar? Uma hora saberemos.

O importante é que os personagens apresentados se encontram, ou ao menos foi assim que eu enxerguei, em uma encruzilhada em suas vidas. A professora dá os primeiros passos na profissão e já experimentou a sensação de fracassar ao aconselhar uma aluna (e parece angustiada por um motivo que talvez nem seja esse…), a Haru com certeza tem problemas de natureza maior do que aparenta e nutre um amor não correspondido pelo Rikuo, alguém sem perspectivas.

Sendo assim, o que esperar de Yesterday? Encontros e desencontros, idas e vindas, problemas palpáveis e desafios com os quais muitos teremos que lidar ou já lidamos alguma vez em nossas vidas. Não só no que se refere aos relacionamentos, claro, mas definir um enrosco deles e partir daí é bem crível. Pessoas não vivem sem outras pessoas, direta ou indiretamente, e muitas vezes são motivadas a mudar por elas, seja por um sentimento romântico, de respeito, amizade…

Inclusive, é uma mistura desses sentimentos que a Haru parece nutrir pelo Rikuo e o mesmo vale para ele com a Shinako. É praticamente essa a definição de triângulo amoroso (e um sem correspondência alguma)… O anime apresentou ao público uma historia que não foi inovadora sob nenhum aspecto, mas certamente autêntica, e por que eu afirmo isso? Porque seu ritmo lento e roteiro repleto de diálogos naturais e, assim sendo, bastante verossímeis diverte ao passo em que provoca reflexão sobre os dramas.

Os dramas de seus personagens, principalmente do Rikuo (ou nesse início praticamente só dele), um cara que já não é tão novo, mas não é tão velho, e foge de relações e outras coisas desafiantes, mas começa a vislumbrar um caminho para fora do casulo no qual se colocou. Para isso deve contar ainda mais com a ajuda da Haru e espero que também a ajude. Aliás, a situação dela, de renegar o convívio social normal (a escola) denota atenção e indica outros problemas.

De ordem familiar? Muito provavelmente. De ordem interpessoal (será que ela tem ao menos um amigo?)? Também. Talvez ela tenha que lidar com problemas frente aos quais pode fazer menos em comparação ao Rikuo e é aí que a narrativa pode se sobressair, pois a Haru é claramente a “heroína” da história e também a força capaz de apoiar e motivar o “herói”. Com isso ela pode encontrar uma relação que não considere uma ilusão (apesar de que a ilusão depende da sua perspectiva).

Yestarday trata das angústias de personagens que se você me dissesse que são baseados em fatos reais talvez eu acreditasse. Não à toa me vejo um bocado no Rikuo, até acho que estou pior que ele em alguns aspectos e melhor em outros. Ou só estou tentando me enganar? Quem sabe…

O importante é que esse anime teve uma estreia sublime, me cativou demais ao longo de toda a narrativa e vou me decepcionar se deixarem a peteca cair. Vê como a sociedade (os adultos, na verdade) projetam suas expectativas nas coisas e naqueles por trás delas sem dó? Em que mundo mais cruel e desproporcional fomos nascer…

Atá a próxima!

Deixe uma resposta para james mays Cancelar resposta