O ano é 2022, três anos após o período onde o clássico filme da década de 80 de Blade Runner se passa (2019). E sim, esse Blade Runner 2022, é uma animação, um chamariz e um aprofundamento de um evento que será, e é, mencionado, para além de impactar diretamente a história e enredo do filme Blade Runner Live Action, lançado em 2017, mas que abrange um período futuro de tempo, no futuro fictício de 2049. Esse Live Action se passa mais de 20 anos após os eventos descritos nesse OVA, e do primeiro filme de 80. Contextualização efetivada com sucesso. Vamos a resenha sobre essa linda obra.

 

 

Quem assume as rédeas desse anime promocional, é ninguém menos do que Shinichiro Watanabe, conhecido por Cowboy Bebop, Samurai Champloo, Carole and Tuesday, entre outros. E coloque na lista o anime que será lançado ano que vem (2021), que nada mais é que a continuação desse OVA, Blade Runner Black Lotus, então essa resenha já serve de adiantamento em relação a cobertura da série do ano que vem!

Também existem outros filmes promocionais, o 2038: Nexus Dawn e o 2048: Nowhere to Run, que complementam o OVA de Watanabe como ponto de introdução à história desenvolvida no Blade Runner 2049. Entretanto eles não veem ao caso no momento.

 

 

Em um trabalho competente, quase primoroso, Watanabe e equipe nos apresentam o conflito dos protagonistas, Iggy e Trixie, dois replicantes.
Através de uma animação muito bonita e atmosférica, descobrimos que Iggy é um ex soldado, um andróide feito para combate, um militar treinado para matar os inimigos no tabuleiro do poder, das vaidades e futilidades humanas em seus conflitos encenados, guerras de entretenimento que se utilizam de marionetes vivas que devem matar umas as outras. É um mundo decadente, que não apenas é preenchido pela corrupção humana em seu ápice, como pela potência intelectual distorcida que concebe a vida em sua completude. Os replicantes nada mais são do que essas marionetes que tanto substituem os humanos nas mais diversas funções, como são os escravos artificiais adequados para todo o tipo de fetiche doentio humanamente imaginável.

 

 

Iggy se depara com isso, e assim como os seus antecessores, por serem dotados de uma estrutura equivalente a humana, desenvolvem consciência, inteligência, sensibilidade e vida no seu mais alto grau, se tornando literalmente indistinguíveis dos humanos normais. O único fato que os condiciona a sua posição subalterna na sociedade, é que tem um código de barra, e estão cadastrados em um banco de dados, sendo caçados ostensivamente caso destoem de seu propósito original.

Assim como os seus antecessores, Iggy, um replicante de um novo lote, com maior estimativa de vida, ou seja, longevidade, elabora um plano para libertar todos os seus semelhantes. O nome do plano pode ser compreendido como o próprio nome do OVA em questão, Black Out, ou seja, apagão.

A narrativa flui para o contato de Iggy com Trixie, uma replicante que é apresentada em um estado completamente apático, submisso e vazio, frente ao preconceito, abuso e violência humana a ela direcionada. Iggy a resgata, reconstitui sua dignidade e a convence a cooperar com o seu objetivo, que nada mais é do que destruir o banco de dados da empresa Tyrell Corporation, criadora e dona da patente e da tecnologia dos replicantes, que também administra e gerencia o banco de dados pertinente aos produtos que lança ao mundo.

 

 

Para colocar o plano em ação, Iggy e Trixie contam com o auxílio de um humano, Ren, que para além de par romântico de Trixie, trabalha e tem acesso a armamentos e propriedades militares. Ele de modo coordenado, em sincronia com o plano de Iggy, utiliza de suas habilidades e privilégios, para ilegalmente lançar um míssil de Pem, (Pulso Eletromagnético) sobre a cidade sede da empresa Tyrell.

O anime nada mais faz do que apresentar esse evento central, a invasão da fábrica de Tyrell, a sabotagem e detonação das estruturas físicas do local, efetivado por Iggy e Trixie, e a traição, cooperação e auxílio de Ren, que destrói, ao explodir a arma militar sobre a cidade, todos os equipamentos eletrônicos do local, incluído os arquivos da empresa que possam estar ali backupeados de forma descentralizada.

 

 

O que se destaca nesse OVA, não apenas as bonitas cenas de ação, que efetivam o plano de Iggy, mas a ambientação, ou mesmo a animação diferenciada e estilizada, dos momentos chaves que apresentam as circunstâncias e a motivação dos protagonistas. O quando Iggy descobre a verdade sobre as guerras e os conflitos aonde é obrigado a lutar, e literalmente, dar a vida, o como a sociedade, movida pela ganância e genialidade científica, se apresenta em seu ápice da decadência humana, moral e afetivamente falando, e o como tudo isso sutilmente determina a revolução levada a cabo pelos divergentes, conquistando a liberdade, mesmo que paliativa e temporária, de seus criadores e algozes.

 

 

Para quem aprecia um clássico da ficção científica, uma obra memorável e atemporal, que muito tem a dizer sobre as alegorias sociais presentes na nossa sociedade atual, na nossa realidade, presente e pungente, Blade Runner é um marco obrigatório, e ainda mais, é uma franquia, pelo menos até o momento, muito bem representada, seja no campo cinematográfico do Live Action, seja no campo da animação, portanto, fico na torcida e na expectativa de que Watanabe consiga consolidar dignamente esse cenário tão frutífero e produtivo, que tanto impactou a arte e os filmes a ele subsequentes.

E por que não também os animes? Quem é conhecedor do gênero não pode deixar de prestar reverências a influência que essa obra, franquia, tem em nosso adorado meio otaku.

 

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