Ijiranaide, Nagatoro-san (Don’t Toy With Me, Miss Nagatoro) é um anime do estúdio Telecom Animation Film programado para 12 episódios a serem exibidos na temporada de primavera de 2021. O anime adapta o mangá de Nanashi, um conheci autor de… hentai. Sim, hentai, por que não? Autores de hentai são craques em escrever mangás normais com apelo fetichista, e o que é Ijiranaide, Nagatoro-san senão isso?

Na história acompanhamos Naoto, um garoto tímido que não tem o costume de falar com garotas e faz parte do clube de artes, ele é um aspirante a mangaká. Um dia Nagatoro e suas amigas delinquentes, que faziam baderna na biblioteca, tiram sarro do mangá de Naoto, o que deixa o garoto envergonhado e atrai a atenção de Nagatoro, tornando os dias do senpai em um verdadeiro inferno nem tão infernal assim.

Confesso que adoro essa proposta de provocação entre uma garota e um garoto, algo que já vimos nos populares Karakai Jouzu no Takagi-san e Uzaki-chan wa Asobitai!, mas diria que Nagatoro pega um pouco mais pesado que esse dois ao literalmente entrar no bullying. Isso significa que a obra é ruim? Não necessariamente, e olha que não estou apoiando o bullying aqui, só contextualizando algo um pouco mais complexo.

Ao longo do texto explicarei meu ponto, mas deixo logo avisado que não, não é porque a garota é fofa que o bullying passa a ser aceitável, mas o que a gente pode fazer se quem sofre se importa, mas também gosta dessa interação? Eu sei, tem toxicidade nesse tipo de relacionamento, mas pode ser que o cenário mude de acordo com o desenvolvimento da relação dos protagonistas, né. Não sou capaz de condenar.

Isso é indicado pelo tom de romance que sempre há por trás das brincadeiras que a bully Nagatoro faz com seu “adorado” senpai. Primeiro, entre todas as suas amigas mal-educadas ela é a única que dá mais atenção ao garoto e usa do argumento de seu mangá para provocá-lo em uma pseudo situação romântico, enquanto na segunda esquete as brincadeiras escalam para um beijo e um pedido para sair com o senpai virjão.

Na verdade, um beijo fake e um pedido zoeiro, fazendo terror psicológico de qualidade com um garoto franzino, tímido e sem confiança. É sério, é muita maldade o que a Nagatoro faz com o coitado do senpai, tanto que nem suas caras e bocas irresistíveis compensam. Apesar de demonstrar muito desconforto e às vezes até um certo desespero com essas brincadeiras, fica claro que ele é seduzido pelo charme da fedelha.

Seduzir talvez seja uma palavra muito forte, mas fica na cara que ele curte conversar com uma garota e se deixa tapear pelas mentirinhas dela. Com o tempo ele deve criar casca e não cair quando ela provocá-lo dessa forma, mas sua falta de experiência com garotas em geral é tão evidente que torna compreensível ele ficar tão na mão dela. Não à toa até para perguntar seu nome ele demonstra uma dificuldade gigantesca.

Tudo bem que para quem é tímido perguntar o nome (na verdade, é mais falar o nome, né) no Japão deve ser uma barreira psicológica, diferente do que é aqui para nós brasileiros, mas mesmo assim ele sofre demais. Entretanto, ele consegue perguntar, e se quer saber o nome dele após tantos maus tratos sofridos é porque suas palavras podem dizer que não, mas suas ações indicam que quer dançar conforme a música dela.

Sendo assim, como eu posso afirmar que o relacionamento que será construído pelos dois será o pior possível e por isso o anime deve ser execrado? Eu não consigo, até porque o roteiro não vira a cara para o bullying. Inclusive, se contextualiza a “resistência” que o senpai tem a ele e como alguém que já sofreu bulllying e também criou essa casca, posso garantir que não agiria muito diferente se estivesse em sua posição.

O senpai é muito inexperiente e se deixa levar por esse tipo de relação, que se não progredir e não for mudando aos poucos será sim bastante problemática, mas se mudar, se ela não só provocá-lo, mas também se tornar realmente amiga dele (o que é a tendência aqui), digo que o anime vai melhorar ainda mais porque é sério, essa estreia apresentou ótima animação e trilha sonora, e não só isso, foi bem “divertida” de se ver.

Não estou dizendo aqui que o sofrimento do senpai é divertido, mas como não curtir as caras e bocas dele, mas principalmente da Nagatoro? Além disso, as brincadeiras que ela faz os aproximam pouco a pouco, dando vazão a toda a veia romântica da obra. Aliás, essas travessuras, essa aproximação por meio do escárnio, da Nagatoro podem indicar que essa é a única forma que ela encontra para falar com um garoto.

Porque ela zoa ele por ser virgem, mas eu não ouvi ela falando de um garoto, ou dando a entender que falava de um, como as amigas e, na boa, não é meio estranho ela se interessar por ele do nada? Nesse episódio ela ainda não demonstrou isso, mas tenho certeza de que ela também tem um lado frágil e envergonhado que deve ser acessado com o tempo e que pode sim equilibrar um pouco mais essa relação doida dos dois.

Por fim, acabei gostando bastante dessa estreia por sua produção bem redondinha e atenta aos detalhes, mas principalmente pela dose de romance que a série demonstra que deve ter logo de cara e o destaque dado aquele que talvez seja o grande apelo da Nagatoro, suas caras e bocas e sua voz expressiva. A Nagatoro é uma verdadeira moleca sedenta por dar umas risadas, mas também interagir com o sexo oposto.

Esse lance de os opostos se atraírem pode não ser uma verdade absoluta, mas é um conceito trabalhado a esmo na ficção e que mesmo assim geralmente dá certo. Ele me convence em Nagatoro pelas diferenças entre os dois, as quais podem esconder semelhanças e por que não abrigar afinidades? Nagatoro e seu senpai são meio maluquinhos, cada um a sua maneira, e parecem gostar da interação peculiar que desenvolvem.

Tem tudo para ser um anime divertido de assistir e, na boa, quem nunca quis ser importunado por uma garota fofa que grite o primeiro “senpai”.

Até a próxima!

Mais caras e bocas da Nagatoro (e um pouquinho do senpai)

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