Police in a Pod – A importância dos sacos de pancada – Primeiras impressões
Police in a Pod (Hakozume: Kouban Joshi no Gyakushuu) é um anime do estúdio Madhouse (One Punch Man, ACCA, Boogiepop wa Warawanai, takt op.Destiny) da temporada de inverno de 2022 que adapta o mangá de Miko Yasu. Confira abaixo a sinopse extraída da Funimation (o streaming oficial do anime).
“A oficial Mai Kawai está cansada de ser policial… mas a chegada de uma brilhante (e bela) detetive craque faz com que ela mude de ideia.”
Esse é o tipo de anime que já começa me conquistando de cara com a declaração da protagonista de que ainda vai se arrepender muito do “encontro predestinado” com sua senpai, o que é uma tentativa clara de não romantizar o ofício delas, nem o encontro, que é ser policial.
Além disso, não é mais fácil comprar a ideia de uma policial que só queria a vida estável de funcionária pública que a ideia de um sonho nobre? Nós vivemos no Brasil e se tem algo que entendemos bem é como, para o bem e para o mal, o serviço público é uma garantia de vida.
Digo isso porque é óbvio que tem quem só quer mamar nas tetas do governo e não é fácil se livrar de gente assim, mas ao mesmo tempo é um alento que pelo menos o serviço público tenha estabilidade e autonomia. Vamos fingir que o segundo funciona sempre, ok?
A corrupção faz parte da sociedade e imagino que isso possa ser abordado eventualmente no anime, que em sua estreia se preocupou mais em construir personagens divertidas, cheias de minúcias, e que demonstram uma idealização praticamente zero do serviço que fazem.
Mas antes de comentar esse aspecto, devo elogiar a caracterização da Fuji como alguém que não é só bonita e imponente, mas sabe executar bem seu serviço, ainda que tenha sido um tanto fácil a abordagem dela com o ladrão de casas, mas ele parecia predisposto a se render, né?
Outros detalhes que não poderiam me passar batido foram a abertura do outro policial para comentar detalhes de suas atividades mesmo na frente do criminoso e a ideia perspicaz da Fuji de deixar sua kouhai aos “cuidados” do meliante. O tipo de flexibilidade a se esperar do anime.
Não que seja algo irreal, só parece irreal olhando da ótica de um brasileiro, pois o Japão não tem o mesmo nível de violência daqui, e nem de educação, além deles, como a própria Kawai zoa com isso em alguns momentos, não serem inspetores, policiais de crimes grandes ou violentos.
Nesse cenário, de um posto policial de bairro, eu super entendo a abordagem mais descontraída e a transferência do criminoso para um órgão superior. O que fica de interessante são as sacadas da senpai para executar seu serviço e o tom cômico, e até crítico, da narrativa sobre ele.
Porque as cutucadas são distribuídas para todos, mesmo na visão da Fuji sobre policiais gentis das propagandas há esse tom de crítica, senão exatamente as policiais ou às mulheres, mas a ideia de que elas seriam assim, quando seria até logico pensar o contrário.
Nisso acho que ela foi um pouco preconceituosa, como se o estereótipo de dona de casa não servisse para executar os afazeres de uma policial. Acho que, por exemplo, aqui no Brasil faria mais sentido pensar assim, no Japão nem tanto. De toda forma, é inegável que ela tem um ponto.
Mas não vamos nos atrelar a isso e sim a caracterização da Fuji, que mais uma vez sai pela tangente ao xingar baixinho quando seu nível de estresse sobe, e como a Kawai é dada a contar histórias a fim de justificar suas reações, recurso aproveitado além da comicidade nessa estreia.
Nisso acho que mais uma vez o anime acertou, pois o belo discurso da heroína não invalidou a visão mais realista que ela tem de seu trabalho como policial, além da quebra cômica com a Fuji no fim da esquete ter também reaproveitado uma ideia anterior a fim de gerar comédia.
Por mais que ser policial tenha seus problemas e o anime explore bem isso, é inegável que a reflexão a qual a Kawai chega faz algum sentido, pois elas são agentes da lei, pessoas cujas ações corrigem e influenciam. Admitir o papel social da polícia não é romantizá-lo.
Okay, talvez a ideia do pai colocar a multa no pedestal no qual reza diariamente a fim de não esquecer de sua infração por causa do impacto que isso teve na filha seja um pouco romantizado sim, mas se penarmos que o pai é estilo tiozão do pavê acho que temos nossa contrapartida.
O elogio totalmente sem noção que ele faz a Fuji (não que ela não pareça mesmo atriz pornô ou seria atriz de hentai?) e sua preocupação com o site para maiores que frequentava (provavelmente para ver JAV de jovens mulheres como a diretora) dão bem a medida de como é a criatura.
Aliás, pedir ajuda para a filha policial para lidar com coisas assim é bem o tipo de coisa que a gente imagina que a família faça mesmo, então eu super entendo o que o pai faz, até a bebida ele deve ter levado para amaciar sua pequena ferinha, que ele não quer entristecer desde a infância.
O legal de tudo isso é a ideia de que as ações dos policiais impactam, ainda que indiretamente, a sociedade positivamente mesmo que no fundo as multas, o exemplo explorado nesse episódio, não sejam todas imparciais, ainda que também não caracterizem uma “indústria da multa”.
É esse nível de contradição que eu espero do ser humano, e por que não de uma policial? Police in a Pod tenta trazer uma visão mais pé no chão do que é o trabalho da polícia com muita comicidade e perspicácia e acho que se saiu incrivelmente bem em vender seu peixe nessa estreia.
Não sei se vão deixar a peteca cair, mas me contento com a certeza de que dá para tirar sarro sem perder o mínimo de seriedade, e até de responsabilidade social, de vista. O anime me agradou demais e mal posso esperar para ver o que essas policiais vão aprontar daqui para frente.
Até a próxima!
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