In the Land of Leadale (Leadale no Daichi nite) é um anime do estúdio Maho Film (Uchi no Musume, I’m Standing on a Million Lives, Kami-tachi ni Hirowareta Otoko) da temporada de inverno de 2022 que adapta a light novel escrita por Ceez e ilustrada por Tenmaso. A série de livros ainda está em lançamento com 7 volumes. E do que trata Leadale? Confira abaixo na sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).

 

“Vítima de um trágico acidente que a deixou internada com metade de seu corpo paralisado, o único escape de Keina Kagami é o MMORPG de realidade virtual, Leadale. Certo dia, seu sistema de suporte à vida é desligado e ela falece… Mas ela acorda no mundo de Leadale, 200 anos no futuro. Agora vivendo como a elfa Cayna, sem nenhuma habilidade mas com atributos incríveis, ela precisa desvendar o que se passou nestes dois séculos em que esteve ausente, e firmar novos relacionamentos com os moradores do novo mundo… incluindo alguns personagens que ela mesmo havia criado!”

 

Antes de mais nada, a pergunta que não quer calar, no Japão hospital não tem gerador não? Eu sei, poderia estar com problemas, eu é que não poderia perder a piada, afinal, o que é Leadale senão um slice of life de comédia mesmo com todo o potencial para o drama que a trama tem?

Mas antes de comentar a história, devo elogiar o trabalho do estúdio Maho Film (um estúdio modesto e com poucas produções) que entregou uma boa abertura refinada pela bela música da TRUE. Ela não cantou a abertura de Violet Evergarden à toa, né?

Outro detalhe é no logo do anime ter “World of Leadale” quando o título internacional é “In the Land of Leadale”. Não é a primeira vez que vejo essa marmota, o que não entendo, afinal, não faria mais sentido padronizar o título até para fazê-lo grudar nas mentes dos otakus mundo à fora?

Enfim, Leadale conta a história de Canya (Keina Kagami), uma garota que vivia prostrada em uma cama de hospital e dependia de aparelhos e remédios para sobreviver, mas acaba morrendo e ganha em troca uma aventura no mundo do jogo de VRMMORPG que ela jogava.

Esse plot lembra algum arco de Sword Art Online? Sim, o arco Mother’s Rosario, que é inclusive meu favorito da obra, e muito por causa da Konno Yuuki, a co-heroína do arco que tem um background igualzinho ao da Cayna, a diferença é que não vemos sua mente ir parar no jogo.

Esse background dá margem para o drama, mas nessa estreia nada indicou que esse será o foco (ainda que, obviamente, seja tentador explorar o gênero alguma hora), então o que sobra a Leadale? Muito slice of life e comédia com uma animação econômica, mas uma direção competente.

Repare nos closes fechados no rosto da heroína, que algumas vezes apresentam um design muito bem acabado para a média do anime, e a ação mesmo, que não depende de muitos frames e nem de fluidez para passar uma noção de movimento; o suficiente ao menos nessa estreia.

Além disso, o desenvolvimento do roteiro ajudou nesse começo, pois a confusão da heroína ao acordar na taverna dentro do mundo do jogo é a nossa, assim como o clichê das diferenças entre o jogo e a vida real, que funciona muito bem para nos situar nesse mundo, “novo” até para ela.

Um isekai de jogo usar esses artifícios funciona como ponto de partida de uma trama que não se sustenta exatamente no drama ou no romance porque o grande chamariz é a aventura, ao mesmo tempo em que a trama evolui lentamente e progride enquanto a heroína se situa no mundo.

Além disso, essa estreia foi muito eficiente em jogar mistérios no ar que devem aguçar a curiosidade do público sobre como serão os outros jogadores, os NPCs da Cayna e por que sua mente foi parar em uma versão de 200 anos no futuro do VRMMORPG que ela jogava.

Mas é claro que isso não valeria de nada se a heroína não fosse minimamente cativante e o mundo em que ela está não fosse diferente do que conhecia, ainda que sua grande força e fama se preservem, e isso é bem traduzido em detalhes com potencial para explorar contrastes na trama.

As cenas da invasão ao quarto dela e de sua embriaguez são bons exemplos disso, de contrastes entre a força da heroína e sua personalidade, refletida por atitudes que denotam certa inexperiência de vida, o que não bate com sua idade élfica, 317 anos, mas com sua idade humana.

Aliás, por que eu escrevi que a Cayna é carismática? Honestamente, acho que essa é uma análise muito subjetiva do telespectador, então o que posso é falar por mim, que achei o roteiro, as falas e os pensamentos, bem escritos a fim de explorar tanto a comicidade quanto a simpatia dela.

Sua relação, de uma literal “onee-san”, com a Lytt é muito eficiente para nos vender a heroína sob uma ótica positiva, que se não é sofisticada por sua barriga feroz ou sua vergonha eventual, ainda funciona porque todo o entorno favorece o tipo de personagem que ela é.

Isso cobra seu preço, e este é o drama de sua vida passada ficar um pouco de lado nesse início. Por um lado, podemos imaginar que ela morreu e foi “presenteada” por alguma entidade com a vida em seu jogo favorito, por outro, essa pode ser uma questão relevante mais a frente na série.

Qualquer que seja a escolha, isso não importa agora devido ao fato de ser apenas uma esteia e de que outros gêneros são mais, e muito bem, trabalhados na narrativa. Leadale não foi uma grata surpresa porque era a minha aposta para a temporada. Ele apenas cumpriu expectativas.

Sim, sei que em sua maioria são clichês que dão o pontapé inicial na história, mas ao mesmo tempo me senti muito reconfortado com a forma como a história progride e a heroína age, além de em alguns detalhes ter sido realmente surpreendido, o que ocorre com os NPCs, por exemplo.

Por fim, o que posso falar mais sobre Leadale? Que a Cayna é uma Konno Yuuki que deu certo? Okay, isso seria maldade. Vou reformular minhas palavras então. A ideia de morrer após ficar imobilizada em um hospital e viver uma aventura em um mundo de jogo foi recompensadora?

Creio que em detalhes, como na vez em que ela se surpreende com sua liberdade de movimento ou se anima com a possibilidade de comer normalmente, foi passada essa ideia de que essa experiência é bem significativa para ela, ainda que seja similar a quando ela jogava o jogo.

A questão é que não sabemos de maiores detalhes de sua vida passada, então não podemos inferir nada, como também fica difícil cobrar saudades da família ou objetivos incompletos que ela deixou para trás. Não acharia tão estranho se ela tivesse só o Leadale a “sustentá-la”.

Então sim, acredito que devemos confiar no que essa estreia entrega, que o anime vai ser um slice of life de aventura com comédia sem grande animação, mas carisma e doçura de sobra. Pegue pelo encerramento, que explora mais da relação com a garotinha, um ponto alto desse início.

E sim, em mundos medievais (sejam estes de fantasia ou não) é bem comum ver crianças trabalhando, ainda mais quando é para ajudar nos negócios da família. Outra coisa que me chamou atenção foi a mudança no valor da moeda, que foi motivada pela unificação dos reinos?

Aliás, acho essa ideia de tornar o contexto do jogo mutável mais interessante que apenas tirar ou adicionar mecânicas (mais ou menos como é em Log Horizon). Não que só explorar diferenças pontuais seja um demérito, mas não tende a exigir mais (re)adaptações das personagens.

Cayna larga na frente por ser poderosa e ter uma base sólida (sua torre do dragão pessoal com direito a um anfitrião que é uma figuraça), mas isso não significa que sua aventura não possa ser desafiadora e divertida. Mal posso esperar para saber como é viver em um mundo de fantasia.

Eu sei, atualmente só o que tem é anime que faz isso, mas que mal tem se quero acompanhar essa experiência pelos olhos da Cayna?

Até a próxima!

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