Healer Girl é um anime original do estúdio 3Hz que mistura duas coisas praticamente vitais a vida humana, a medicina e a música. Segue abaixo a sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).

 

“A música é capaz de curar as aflições do mundo, e é o que estas três garotas querem fazer. Conheça Kana Fujii, Reimi Itsushiro, e Hibiki Morishima: três Healers em treinamento na Clínica de Healing Karasuma, onde elas aprendem a arte de curar os males de seus pacientes através do canto. Junte-se a elas nesta aventura musical, cantando milagres poderosos e bondosos capazes de curar o mundo.”

 

Quem teve a ideia de fazer esse anime é um gênio. Aliás, não só quem teve a ideia, mas todo mundo que executou, pois essa estreia foi exuberante, misturou ótimas músicas com um roteiro competente e personagens cativantes. Essa foi minha surpresa da temporada.

Sempre achei que “quem canta seus males espanta”, mas não ao ponto do canto se tornar um terceiro ramo da medicina, coisa que o anime poderia ter abordado de maneira muito mais simplista e fantástica, mas não o fez, entregando a seriedade no ponto certo.

Por exemplo, no final do episódio, quando a idosa vai para o hospital, não sei o quanto a cura de uma profissional poderia ajudá-la, mas a ajuda médica “convencional” atuar em sincronia com a musicologia retratada no anime deu bem o tom de sua seriedade.

Sobre as protagonistas, todas elas são umas fofas e o anime não poderia ter começado de melhor maneira, com a principal delas, a Kana, já demostrando do que vai se tratar a obra, de cura através da música. Coisa que, aliás, ela sequer poderia ter feito.

E nisso eu entendo a bronca da sensei, a Kana e as outras são apenas aprendizes, ainda estão iniciando nesse ramo. Sendo assim, a responsabilidade do que elas fizeram é dela, mas não só isso, e se um dia, ao proverem um tratamento clandestino, o tiro sair pela culatra?

O conflito que se apresenta no final do episódio meio que explora isso, mas antes de chegar lá, preciso elogiar o restante da caracterização dessa forma de medicina, que se deu através dos diálogos, em que as personagens falam das técnicas de canto, mas também de prática.

Se as pessoas se qualificam para exercer a profissão de médico(a), por que não se qualificariam quando usam a voz para cura? Digo, há vários fatores que influenciam na voz; tanto físicos, quanto psicológicos; então é normal que elas treinem, afinal, são aprendizes de “curadeira”.

Sempre ouvi o termo “curandeira”, mas termologia a parte, tem outro detalhe que compõe essa complexidade do canto médico, que é o treino da respiração, o qual se dá mesmo dormindo. Aliás, a sensei não deve dormir à toa, né, deve ser para descansar físico e psicológico.

Enfim, outra coisa que adorei foi a caracterização das heroínas, cada uma com personalidade, perfil e interesses diferentes. Tem a Reimi, que é aficionada pela sensei e faz o tipo ojousama, a Hibiki, que já é mais zoeira, e a Kana, a transgressora cujo talento chama a atenção.

As interações entre elas, principalmente explorando a fofura e a comédia, preencheu bem vários momentos desse episódio, mas o que roubou a cena certamente foi a música. Eu não curto muito filmes musicais, nem animes, mas esse me cativou muito, muito mesmo.

A cena delas improvisando enquanto contam porque quiseram virar curadeiras foi muito legal, um show de atuação, ainda que improvisar uma canção, mais no ritmo de um diálogo que de música, não tenha o mesmo apelo, o mesmo lirismo, que uma composição propriamente dita.

O legal é que o anime não ficou entupido de música também, o elemento foi trazido ao primeiro plano da trama nos momentos certos, deixando o resto do tempo para a construção de mundo necessária a fim de comprarmos toda a ideia que estava sendo vendida.

Uma das ótimas sacadas, ainda que simples, foi a da Yui, a garotinha que agradeceu as aprendizes com broches, o que não só deu o tom de algo comum nesse ramo, que é o sentimento de gratidão dos pacientes, mas fez o elo de sustentação ao conflito empregado na reta final.

Durante alguns minutos do episódio pensei que a coisa se resumiria a slice of life e música, mas não, e até para explorar a premissa em todo seu potencial é que se fazia necessária o conflito, a adversidade, o desafio, que se apresentou na figura da paciente enferma e do dilema da Kana.

Ela recebeu ordens para não tratar pessoas por meio de seu canto e ainda assim cantou, mas não sem antes considerar sua situação e se dar o direito de encarar sua atitude por outra perspectiva, e uma até que adequada ao seu nível de experiência e as outras ações tomadas.

Ao bater de frente com um muro a Kana soube como escalar, tudo em prol de prover o cuidado que uma vez também recebeu. É um plot bem clichê, convenhamos, mas que é manjado por isso, por sua eficiência, por caracterizar bem a motivação de uma personagem central.

Além disso, seu canto encantou (com o perdão do trocadilho), ao ponto de ter-lhe rendido um afago da mestra muito também por isso, não só por seu discernimento da situação. Kana é um talento nato, que, como qualquer outro talento, precisa ser lapidado para chegar ao seu ápice.

Mas ainda na mocidade, ainda engatinhando como curadora, ela já demonstra muito recurso, o que incentiva suas colegas a darem mais e anima sua mestra e a ideia lúdica da imagem projetada, que a nós pareceu quase que palpável, foi a cereja do bolo para essa catarse final.

Nem vou elogiar as letras, pois é redundante escrever que foram ótimas. Prefiro elogiar a ideia como um todo. Poucas vezes li uma sinopse e não a levei a sério para quebrar a cara lindamente vendo-a ser executada. Healer Girl é um slice of life musical singelo como poucos.

A estreia apresentou saídas para todos os problemas que imaginei que o anime pudesse ter. A medicina não foi tratada como pseudociência (ainda que tenha seu quê de fantasia), o slice of life soube trabalhar o conflito (e um ótimo, por sinal) e a prévia indicou variações interessantes.

Por fim, veja Healer Girl, se você não for seduzido pela música talvez não valha a pena, mas se você não for cativado pela música, então, me desculpe, mas o problema é você! Esse anime teve uma estreia linda e super promissora, vá assistir o segundo episódio logo de uma vez!

Até a próxima!

Comentários