Uma Musume: Pretty Derby é um anime derivado de um jogo para celular em que garotas-cavalo disputam corridas e cantam iguais a idols. É um jogo tanto esportivo quanto musical regado a moe, elementos que também puderam ser vistos em seu anime, exibido na temporada de primavera japonesa, com um total de 13 episódios. Em uma época em que garotas-navio, garotas-avião, garotas-animal, etc, fazem sucesso, o que torna Uma Musume tão interessante e especial?

Se toda boa história começa com um sorriso…

A história do anime acompanha Special Week, que sonha em se tornar a maior garota-cavalo corredora do Japão e para isso vai para uma escola em que garotas-cavalo são treinadas para correrem. Lá ela conhece Silence Suzuka, torna-se sua amiga, entra para o seu time, o Spica, e daí começa a trilhar a sua carreia no páreo entre vitórias e derrotas, lágrimas e sorrisos. As garotas-cavalo da franquia são baseadas nos cavalos de corrida do nosso mundo, herdaram seus nomes, assim como certas características deles, e tiveram suas carreiras baseadas nas de suas inspirações.

Contudo, nem tudo seguiu diligentemente os fatos reais, mas comentarei isso mais a frente. Quanto aos cavalos que serviram de base para as garotas, o que acontece é que no mundo da obra não existem cavalos, apenas garotas-cavalo. É como se fossem unicórnios e existissem garotas-unicórnio no nosso mundo. Aliás, a partir daí posso comentar uma das qualidades que deram certa distinção à série em meio a tantas franquias com garotas fofas que tem jogo para celular: seriedade e coerência.

… e as lágrimas fazem parte do caminho…

Apesar de ter várias cenas de comédia e ser bem leve na maior parte do tempo, o anime tem todo um pano de fundo sério, sobre o qual trabalha suas personagens e as interações que elas têm antes, durante e depois das corridas. Além disso, há coerência na forma como os elementos são dispostos ao longo da trama, como os temas são trabalhados e o que podemos refletir sobre cada um deles.

Também acertam na verossimilhança – ou ao menos no que se esperaria de verossímil para um mundo em que garotas-cavalo existam –, pois existem telefones adaptados às orelhas de cavalo das garotas; personagens estrangeiros não falam japonês a torto e a direito; quando as garotas se machucam, o tempo de recuperação é similar ao que seria o dos cavalos reais do nosso mundo; a protagonista não é invencível por melhor que seja; e várias vezes o desequilíbrio emocional dela a prejudica em suas corridas, etc. O anime acerta nos detalhes para fazer o público sentir que, se houvesse um mundo em que garotas-cavalo existissem, ele seria muito semelhante ao exibido na obra.

… o importante é voltar a sorrir no final!

Mesmo com toda essa base sólida, isso não impediria a história de ser mal executada ao se valer de fanservice, situações clichês ou personagens rasas, não é mesmo? Sim, mas não é o que acontece, pois, a provável sexualização das personagens – imagino que vocês saibam que japoneses são bem fetichistas quanto a garotas-alguma coisa… – é deixada de lado para uma abordagem séria de treinos e corridas. As situações clichês ocorrem e, inclusive, a maioria das personagens não é amplamente desenvolvida, mas o fato de tentarem trazer certa variação a isso e aliarem esses momentos mais bobos com trechos mais sérios que trabalhassem bem tudo o que tinha a ver com a pratica esportiva, fez a tênue linha entre o medíocre e o criativo ser bem mais espessa. Usam da fórmula básica para franquias desse tipo sem esquecer de conferir certo carisma as personagens e trabalhar a elas e as situações que ocorrem com elas de forma criativa. Principalmente o segundo caso, pois mesmo se o telespectador não gostar de garotas fofas e divertidas, deve gostar do que ocorre com elas na obra.

E todos nós precisamos de uma Gold Ship em nossas vidas! ❤

Outro ponto positivo de Uma Musume, e talvez o mais importante, é a forma tortuosa como a jornada da Special Week até o topo é desenvolvida. É verdade que no anime a grande maioria dos resultados das corridas são espelhados em fatos reais, mas o desenvolvimento para se chegar até esses resultados dependeria exclusivamente da equipe de produção e nisso acertaram sempre – até mesmo quando parecia ruim foi bom –, pois conseguiram passar a sensação de que a personagem evoluía a cada resultado, fosse vitória ou derrota, e que mesmo polindo suas habilidades para a corrida, seu emocional tinha que ser explorado e “posto à prova” para que ela tivesse condições de ser a melhor de todas. Não bastava somente o talento e o esforço, mas também maturidade emocional sem deixar de lado os outros dois elementos. Uma jornada tortuosa que rendeu frutos excelentes!

Essa é a expressão de quem batalhou muito para ser uma vitoriosa!

Tirando a protagonista e a co-protagonista Silence Suzuka, o anime não se concentra tanto nem se aprofunda muito nas outras personagens, mas as usa de forma eficiente enquanto personagens de suporte que agregam ao ambiente competitivo um pouco de carisma, mas bastante saudável, em que todas se encontram. Eu não diria que as coadjuvantes roubam a cena, mas são essenciais para criar no telespectador a sensação de que o time principal é sim uma família.

Voltando a falar de fatos reais, a Silence Suzuka foi o maior acerto do anime nesse sentido, pois o cavalo no qual ela foi baseada realmente se lesionou na mesma corrida em que ela sai machucada no anime, embora ele não tenha voltado às pistas e ela sim. Sendo que tanto o seu período de recuperação, quanto o seu retorno ao esporte, foram importantes para a evolução da Special Week, sua grande amiga. E não só isso, mas deixaram de lado a inspiração quando poderiam, e deveriam fazer isso, a fim de proporcionar mais corridas emocionantes e o desenvolvimento das suas personagens principais.

Tanto que as duas, que tinham apenas uma a outra como amigas, passaram a se considerar rivais justamente por terem o desejo de correr juntas, mas souberam que, devido à lesão da Suzuka, esse sonho estava ameaçado. Lesão que veio para mexer com o emocional delas de formas diferentes, proporcionando momentos nada agradáveis que foram úteis para fazer as personagens mudarem.

Mas elas conseguiram contornar a situação emocional em que se encontravam para serem capazes de voltar a correr sorrindo e a se divertir como o técnico delas bem as orientava. Aliás, o treinador foi um ótimo personagem – uma pena não ter tido um nome, o que acontece com todas as principais figuras masculinas desse tipo de anime – que soube trabalhar bem o emocional de suas atletas, se valeu de meios não tão convencionais para treiná-las e confiou no potencial delas sem deixar de orientá-las da melhor maneira que podia dentro de cada situação que foi apresentada na história.

“Bem-vindo ao lar que você construiu para nós, Treinador!”

Outro ponto extremamente positivo da obra foi ter tido um forte objetivo desde o princípio – a Special Week se tornar a melhor garota-cavalo do Japão – cuja concretização aconteceu no final, dando a recompensa emocional que o público naturalmente gostaria de ter. E não só isso, mas adicionar um objetivo no meio da jornada – Special Week e Silence Suzuka, além de pelo menos todas as outras garotas do time Spica, correrem juntas – e também concretizá-lo no final foi outro grande acerto, porque fechou bem tudo o que era importante ter uma conclusão no final do anime.

Com a ferradura da sorte e os seus sonhos a vista, ela ganhou os corações de todos no Japão!

Focaram suas personagens e a forma como a carreira delas se desenvolvia, trabalharam elas muito bem – a mudança de ambas em comparação ao começo do anime foi perceptível – e criaram um entorno muito prazeroso de se acompanhar para quem não se incomoda com personagens moe e várias pitadinhas de comédia. Some a isso as corridas emocionantes que iam muito além dos simples movimentos das corredoras no páreo. No que tudo isso resultou? Em um anime extremamente divertido que não deixou de falar sério o tempo todo e que deu ao seu público várias reflexões positivas sobre a prática esportiva e sobre a formação da maturidade de uma atleta. O esporte tem essa função de desenvolver as pessoas em várias áreas das suas vidas e isso pôde ser visto em Uma Musume.

Que essa mentalidade perseverante tenha contagiado a todos os telespectadores!

O elemento musical da obra foi usado apenas para realçar certos episódios, o que não foi um grande problema já que se tratava primeiramente de um anime esportivo, então o foco deveria fica na corrida. A animação ficou a cargo do P.A. Works, um estúdio muito bom que só foi ter uma queda na qualidade da animação na reta final – e nem foi assim tão grande. A trilha sonora da obra foi boa, e as insert songs vêm todas dos vários CDs que já saíram com músicas cantadas pelas dubladoras das garotas-cavalo, um verdadeiro prato cheio para quem gosta de músicas com um apelo mais moe – meu caso. A abertura e o encerramento também são cantados por elas e as achei todas excelentes!

Se gostaram das músicas e quiserem ouvir mais delas indico que confiram este vídeo!

No final, o saldo de Uma Musume: Pretty Derby é superpositivo, pois o anime conseguiu ir além do básico, sem perder a simplicidade e o apelo emocional que precisava ter para ganhar a empatia do público. Foi um anime divertido que me fez rir, chorar e sorrir; uma obra que indico para quem já gosta de animes de “garotas fofas fazendo coisas fofas” e também para quem não gosta ou quer perder um pouco do preconceito com eles. Que as garotas-cavalo também ganhem os seus corações!

Rufem a fanfarra garotas-cavalo que conquistaram o meu ❤!

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