Ao Ashi – Rumo ao topo do mundo do futebol – Primeiras impressões
Ao Ashi (Aoashi) é um anime do estúdio Production I.G que adapta o mangá de futebol escrito por Naohiko Ueno e ilustrado por Yuugo Kobayashi. Segue abaixo a sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).
“Ashito Aoi é um adolescente que mora no interior do Japão e é o artilheiro de um time de várzea. Após perder a final do torneio sub-15, ele é recrutado por Tatsuya Fukuda, técnico da categoria de base do Tokyo City Esperion FC, um dos maiores times da J-League, a primeira divisão do campeonato japonês. Tatsuya quer transformar o Esperion em um time de calibre mundial, e encontra em Ashito um talento a ser refinado e desenvolvido. Ao ouvir isso, Ashito aceita a oferta e decide se candidatar para a peneira. Perda, amadurecimento e amizade não faltam nesta obra cheia de espírito juvenil!”
Sério que meteram referência ao Luva de Pedreiro já na estreia? De duas uma, ou o tradutor do anime é boleiro ou zoeiro. Aliás, os dois se for o primeiro caso. Para incrementar, o protagonista dá uma de Zidane e mete uma cabeçada no adversário para começar bem a história.
Ao Ashi se apoia em velhos clichês de mangás/animes de futebol (prota craque, conversas longas no meio do jogo, um tutor ambicioso, etc) para contar sua história, o que se não é um mérito, acaba não sendo exatamente um demérito também, pelo menos não pelo que sai disso.
Por exemplo, já nos primeiros minutos do anime a imaturidade do protagonista o coloca em xeque, melando sua oportunidade de bolsa de estudos para jogar futebol, o que pesa muito para um garoto pobre do interior que tem no futebol a oportunidade para uma vida melhor.
Aliás, deixando de lado as zoeiras iniciais e falando sério agora, gostei do background do protagonista por como ele se assemelha ao de muitos jovens que aspiram jogar futebol no Brasil. Aoi é problemático, mas paga por suas burradas, além de não ter vida fácil no geral.
Não deve ser fácil ser rejeitado em cada time pelo qual passou, ainda que eu compreenda a reação dos colegas devido a atitude do protagonista, o tipo de coisa que não cabe mais no futebol “moderno” e que é interessante abordar justamente pela perspectiva de mudança.
Aoi tem predicados, mas precisa entender que o futebol é um esporte coletivo e, como tal, depende de tática, de sincronia e inteligência para raciocinar o jogo. Mas sabe o mais engraçado disso? É que mesmo refutando a tática ainda há conceitos primitivos dela em seu jogo.
E isso fica evidente com a chegada de seu futuro treinador a trama, uma figura um tanto quanto excêntrica, mas que não é nada nova em histórias de futebol. Quantos animes de futebol não têm um técnico que jogou na seleção japonesa e quer moldar a nova geração?
Pelo menos Ao Ashi faz um esforço para caracterizar bem o personagem ao entregar um perfil que satisfaz as necessidades da trama. Por exemplo, ensinar o “controle orientado” ao protagonista dá uma palinha de como ele treina, ao mesmo tempo em que expressa sua devoção.
Coisa que se escancara com o quanto ele fica impressionado pela capacidade de análise de jogo do protagonista, o qual entregou uma leitura que revelou coisas sobre o jogo que nem o técnico havia percebido a princípio. Aoi despreza a tática, mas na verdade a usa por instinto.
Se somarmos essa capacidade de ler o jogo ao talento do Aoi não tinha mesmo como não chamá-lo para a peneira do Esperion, o tipo de coisa completamente normal em um anime de futebol. Tentar alcançar o nível mundial a partir das categorias de base no Japão já empolgou.
Mas tudo bem, isso aqui é ficção, os caras podem sonhar, é que a realidade é um pouco mais dura que isso e não vemos um nível mais alto nos outros continentes além da Europa (e um pouco na América também) por mais motivos do que ideais individuais poderiam cobrir.
Claro, pode ser que ao longo do anime os esforços pareçam maiores e que as ambições do técnico apenas se encaixem no grande esquema das coisas. Em todo caso, o importante mesmo foi o quanto os personagens e a interação entre eles não surpreendeu, mas não desanimou também.
Em paralelo a isso houve a questão da provocação do goleiro que levou a expulsão do Aoi, o tipo de desculpas que acharia desnecessário pedir não fosse o garoto ter passado um pouco do ponto ao misturar a vida profissional da mãe (será que ela é uma hostess?) do Aoi na parada.
Sei que o estereótipo do atleta japonês é de ser leal, mas nem foi o caso de cair no clichê do jogador não querer provocar, praticar o mínimo da catimba. O lance é que o Aoi já havia sofrido muito pela forma como a mãe era mal vista e até por isso super entendo sua reação.
Além disso, ele também xingou os colegas do Aoi, os único que o aceitaram e contavam com seu talento para vencer. Por isso foi ainda mais doloroso o erro dele, mas o que podemos exigir de um garoto do fundamental? Aoi é um ser humano, assim como um atleta, em formação.
Até por isso entendo a mãe dar uma bronca e tentar cortar seu sonho na raiz, ela faz isso para protegê-lo de decepções. A gente vê muitas histórias de superação na TV por aqui, mas isso não acontece sempre. Para cada jogador bem sucedido tem dezenas que não conseguiram.
Entendo que ela sinta medo pelo filho e queira protegê-lo, além da questão financeira que não pode ser ignorada, mas com o tempo imagino que ela vá comprar essa briga com o Aoi. Aliás, os dois, pois o apoio emocional e financeiro que o mais velho ofertou foram preciosos.
Trabalhar o talento, a personalidade e a família do protagonista nessa estreia foi uma maneira bem bacana de tornar o Aoi um personagem com conteúdo o suficiente para querermos ver sua história se desdobrar a nossa frente, mesmo que os jogos ainda não tenham empolgado.
Porém, se trata do Production I.G, e os breves momentos de jogo com movimentação foram bons, então acredito que o anime pode entregar boas partidas de futebol, algo que ajuda muito no entretenimento que um anime de futebol, anime de esportes em geral, pode provocar.
Por fim, fica a perspectiva de que o Aoi passe na peneira e vá jogar na base do Esperion. Tem outro fator que complica construir um time world class a partir da base que é o financeiro (os europeus compram o jogador que quiserem), mas não estamos aqui para exigir verossimilhança.
Ao menos não ao ponto em que isso esmague os ideais dos personagens logo de cara. Em todo caso, o importante é que Ao Ashi não inovou, mas entregou uma estreia competente e interessante o suficiente para nos motivar a assistir o próximo jogo. Digo, o próximo episódio.
Até a próxima!