86 Eighty-Six – Vidas marcadas pela guerra
86 Eighty-Six é um anime que trata de guerra, sobre as vidas modificadas e perdidas pela imbecilidade humana que é uma guerra. Nesse caso, a guerra se dá entre um Império de máquinas autossuficientes e as nações ao seu redor, sendo a principal delas San Magnólia.
Na história acompanhamos Shin e os Eighty-Six, os segregados raciais (em uma clara alusão aos judeus perseguidos pelos arianos alemães no período da Segunda Guerra Mundial) que são obrigados a lutar a fim de manter uma paz ilusória e perigosa, afinal…
Antes de mais nada, devo frisar que já conhecia a light novel de 86 antes do lançamento do anime. Li o primeiro volume, o cobri aqui no blog e desde então venho acompanhando a obra. Isso significa que darei piti de fã do original? Nem teria como fazer isso.
Por quê? Porque o anime é excelente, tanto no quesito adaptação, quanto nos pontos em que carecia da produção dar o seu toque característico. Cheio de alusões visuais, lutas de drones em CG (bom) e trechos dramáticos de impacto; 86 entrega o melhor do drama e o pior da guerra.
Mas não posso deixar de falar dos personagens, do sexteto de heróis e principalmente da dupla de protagonistas, Shin e Lena, que tem histórias de vida cruzadas por causa de um evento peculiar de suas infâncias, o tipo de coisa que parece ficção (e nesse caso é).
Mas as coincidências entre os dois não ficam aí devido as suas personalidades. Ele é um lobo solitário que carrega muitas dores ao longo de sua dura jornada de vida, ela é uma garota privilegiada que decide lutar por seus princípios e sua incapacidade de indiferença.
A cooperação entre os dois começa com toda a boa vontade, mas ignorância, dela, que precisa de tempo e experiências a fim de entender onde estava se metendo e o quão era difícil andar na mesma raia que os Eighty-Six, segregados por seu povo, os Albas.
Explorar esse abismo de reconhecimento entre personagens com a mesma faixa etária, mas trajetórias e destinos completamente distintos, é uma sacada narrativa muito boa e coerente quando se aborda temas como segregação e guerra, que é o caso de 86 Eighty-Six.
Além disso, vale o elogio as duas fases do anime, o primeiro cour, que aborda a relação de Lena (a Handler One) e seus comandados (os membros do esquadrão Spearhead) até a separação, e o segundo, que adiciona novas tramas e personagens, expandindo a história.
Infelizmente, nem tudo são flores, se os episódios não foram claramente prejudicados por questões técnicas, o mesmo não podemos dizer da exibição, que sofreu com diversos atrasos, fazendo com que a adaptação terminasse apenas em 2022.
Mas claro, o mais importante é que o estúdio merece os parabéns pela animação e os simbolismos visuais agregados aos momentos mais dramáticos da história, que teve seus alívios cômicos, mas apostou mesmo foi em tramas cruzadas e marcadas pela guerra.
Isso se escancara no segundo cour em que uma nova heroína, Frederica, surge. Ela carrega consigo uma perspectiva nova na trama, afinal, era a Imperatriz que iniciou a guerra, mas também se tornou uma de suas vítimas, tendo perdido seu ente mais querido nela.
Ver o Shin dividindo seus traumas, se abrindo por meio desse conflito, foi um dos maiores baratos do segundo cour, que fez um serviço competente em abranger a história, adicionar novos personagens, novos contextos e até mesmos novos objetivos aos heróis.
O primeiro cour adapta a primeira novel, que tem um final fechado exceto pelo epílogo, o qual foi adaptado no final do segundo cour, concluindo um arco narrativo muito importante para a série, pois solidifica o que ela é em essência, além de cumprir algumas “metas”.
Metas essas que me pareceram muito claras ao longo do segundo cour, sendo elas a “cura” dos traumas do Shin e o reencontro com aquela que se tornou sua salvadora ao longo da jornada, sendo esta a Lena, a qual, inclusive, passa a “pegar em armas” como os Eighty-Six.
A queda de San Magnólia simboliza o fim da dinâmica de segregação, mas não apaga todas as feridas. A guerra segue com todas as suas mazelas, a diferença é como Shin, Kurena, Anju, Theo, Riden e Lena terminam o anime; com um objetivo claro e a mente em paz para persegui-lo.
Até a próxima!