Kubo-san wa Mob wo Yurusanai (Kubo Won’t Let Me Be Invisible) é um anime de comédia e romance do estúdio Pine Jam que adapta o mangá de Nene Yukimori. Segue abaixo a sinopse extraída do site The Movie Database.

 

“O estudante do ensino médio Junta Shiraishi tem um objetivo simples – viver uma juventude gratificante. No entanto, atingir esse objetivo parece ser mais difícil do que o esperado, pois todos ao seu redor muitas vezes não o notam devido à sua falta de presença. Na verdade, a falta de presença de Shiraishi é tão severa que as pessoas pensam que sua cadeira na sala de aula está sempre vazia e assumem erroneamente que ele frequentemente falta à escola. Existe até um boato estranho se espalhando na classe, alegando que aqueles que localizarem Shiraishi com sucesso serão abençoados com boa sorte para o dia.”

 

Kubo é a grande heroína desse anime, mas o Shiraishi não é um mero coadjuvante em sua própria história, eu diria que é justamente o contrário, pois ao se deparar e digladiar com esse dilema é que o anime se mescla com mastreia as provocações do amor adolescente.

O primeiro acerto do anime certamente foi dar a Kana Hanazawa o papel da heroína, assim como a abertura. Ela tem uma voz angelical, mas experiência e talento suficientes para contrapor isso com sua atuação magistral, capaz de entregar uma estreia dos sonhos.

Kubo é a única que nota o garota invisível e isso, por tabela, a torna alguém especial, mas não para por aí, e em suas brincadeiras fica fácil perceber o carinho que ela tem por Shiraishi. Por quê? Porque ela nunca faz nada que o faça realmente mal, ela age onde o falta…

Falta o quê? Coragem. Coragem para quê? Para ser notado. Sim, Shiraishi está acostumado a ser um fantasma, mas não significa que ele não se incomode. É ao ter a Kubo perto dele, e sempre o instigando, que vemos como no fim das contas ela acaba o ajudando.

Além disso, a Kubo é muito fofa, como não perdoar ela? E mais, fica muito, mas MUITO na cara que ela gosta dele. Seria ridículo ele não notar não fosse a situação em que se encontra, de se achar coadjuvante em sua própria história e, portanto, indigno do amor de alguém como ela.

Inclusive, é aí que o anime acerta bastante, pois, apesar da piada dele ser “apagado” apelar a níveis absurdos, se nós nos concentramos em sua reflexão íntima e em como a Kubo desafia seus dilemas, o contraste de extremos acaba até que funcionando em prol da narrativa.

Mas tudo isso seria prejudicado se a produção não acertasse em cheio na parte técnica, com trilhas suaves que não tomam o holofote em meio a uma animação muito fofa, que vira e mexe apela até para o chibi a fim de trazer leveza a questão que poderiam ser mais duras.

Acho que, ao menos nessa estreia, tudo funcionou harmoniosamente, e muito por causa da atuação da Kana, que nos deliciou com uma doçura irresistível, capaz de extrair novas facetas de alguém tão “sem vida” como o herói, mas não alguém sem desejos, sem ambições.

Não, ela não é a vilã, e tudo que ela faz pode parecer maldoso, mas no fim de suas brincadeiras fica bem claro como é proveitoso para desabrochar o migo, que sofre com uma piada estupidamente exagerada, mas consegue, em momentos, saborear seu protagonismo.

E a cereja do bolo são os sentimentos que ela deixa transparecer em suas ações, os quais, repito, são gritantes, mas, repito, entendo o protagonista não perceber. É diferente de histórias em que isso é usado como um recurso covarde para atrasar o desfecho do romance.

Aqui as questões do personagem se ligam diretamente ao romance, que só terá a chance de se desenvolver em sua plenitude com a aquisição, pouco a pouco, de confiança e personalidade do protagonista. Sim, Shiraishi é o protagonista de sua própria história!

E um protagonista que dá muita sorte de ter uma colega ao lado que o desafia, fazendo com que ele cresça, devagar, mas vislumbrando longe. As situações apresentadas nessa estreia foram muito eficientes em demonstrar o potencial que a trama tem nesse sentido.

Houve comédia, romance e até toques de drama; tudo com uma roupagem mais serena, mas nem por isso sem peso, afinal, a ideia de gradação foi bem passada, e não só isso, a “enfermidade” que acomete nosso herói foi melhor contextualizada ao longo do episódio.

Chega a ser maldoso considerar o Shiraishi (ou melhor, notá-lo) um amuleto de sorte, mas isso é bom para destacar a presença da Kubo na trama, que se esparrama por ela e é quem move a história. Sem as ações dela, Shiraishi seria o estudante extra de Another, se muito.

Quanto as situações, destaco a última, da foto tirada no banco da praça, mais uma demonstração inequívoca do que a heroína sente, mas também um exagero de forma e uma conveniência que em nada prejudicaram ou banalizaram as atitudes de um e de outro.

Ela tinha coragem suficiente para pedir o Pine dele, mas não foi mais gostosinho que fizesse isso após tirar a primeira foto dos dois? E o melhor, a desculpa exagerada dele não aparecer na foto disfarçou minimamente o óbvio, que ela está com os quatro pneus arriados por ele.

Não que precisasse disso, afinal, ao Shirashi não falta só atenção, mas também uma percepção mais profunda e realista de si, de que alguém pode sim se interessar por ele e notá-lo, por que não? Inclusive, a “leseira” foi outra marca do quanto o garoto sofre com isso.

Para ele esquecer do game favorito em prol de pegar lenços quaisquer é porque não eram os lenços em si que importavam, mas ser notado por quem estava os dando, ser reconhecido como um ser humano digno de atenção, de um olhar, de ter sentida a sua presença.

Para conseguir isso Shiraishi é capaz de esquecer do que gosta porque no fundo é o que ele deseja também. Todos queremos ser notados, mesmo que por poucos, mesmo que por pouco tempo. É solitário viver sem ser alguém, e você só acha que é alguém se outro alguém reconhece isso.

Além disso, friso a evolução do romance nessa estreia, pois, mesmo que ele ainda não tenha notado, ela já pegou o número dele, faltou se jogar em seus braços (o motivou ao beijo indireto e tudo) e té combinou de saírem. Para um romance lento até que as coisas escalaram rápido.

Por fim, Kubo-san termina com o sorriso de contentamento da heroína, a perspectiva de uma onee-san para agitar a trama e um encerramento belíssimo; a cereja do bolo de uma estreia que acertou em tudo, absolutamente TUDO que tentou fazer em seus pouco mais de 20 minutos.

O que vimos foi o exemplo de um amor cheio de ternura e empatia, capaz de, nas pequenas ações e brincadeiras do dia a dia, tirar o que de melhor uma pessoa tem a fazer por si e muitas vezes não consegue sozinha. É ao interagir que mudamos aos outros e a nós mesmos.

E não se engane se pensa que a Kubo não muda a si ao ajudar o Shiraishi a ser “notado,” pois se ela o ama mesmo (como fica claro que ama), é normal que queira vê-lo bem e feliz, ainda que o ame mesmo quando ninguém mais o nota além dela, a heroína ao lado de seu herói.

Até a próxima!

 

Cantinho de apreciação a Kubo-san

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