Depois de tanto tempo sem uma certa personagem aparecer, nada mais justo do que a sua presença ser o grande acontecimento desse episódio. E se podemos dizer que ele tem um grande nome, então este é Annie Leonhart.

Apesar de conhecermos essa personagem como alguém antipática e distante, aqui a vimos interagindo com alguém que mantinha certa intimidade. Ainda que uma intimidade um tanto quanto peculiar. Fato é que, seja por estarem há tanto tempo em companhia uma da outra, inclusive ouvido e conhecendo mais sobre a outra durante esse tempo, podemos dizer que elas tinham sim certa relação de proximidade.

E isso justifica o fato da Annie ter se aberto para aquela pessoa que aparentemente até então não tinha nenhuma intimidade. Isso sem dizer que depois de ficar tanto tempo sem poder interagir e tendo em conta a situação caótica em que elas se encontram, torna-se ainda mais justificável aquele desabafo. E sobre isso, além de nos revelar mais da personagem ainda nos lembra do quanto ela se ocultava nas primeiras temporadas do anime.

Mesmo um curto “flashback” foi capaz de esclarecer as motivações da Annie, que mesmo não justificando suas ações ao menos podemos ter certa empatia pelas ações da mesma. Que ela errou, errou, mas não é injusto ter pena dela pelas circunstâncias que a levaram a cometer aqueles atos.

E isso só pode acontecer porque agora nós conhecemos muito sobre a situação histórico-social em que ela foi criada e que influenciou em suas ações. Não é dizer que ela é inocente, apenas que é vítima também.

Vítima de uma nação que a oprimia, de pessoas incapazes de amá-la, de uma organização militar e finalmente do pior de todos os opressores; si mesma. A sua negação em ouvir a voz de sua própria consciência foi a sua grande culpa. Se bem que como ela mesma disse, chegou uma hora onde não havia voz alguma para ser ouvida.

O que destaco nessa nova perspectiva dos fatos é não apenas aqueles que víamos como vilões, mas também aqueles que víamos como heróis. Ou melhor, sendo ainda mais preciso, falo daquilo que víamos como heroísmo.

É interessante notar como o comportamento do exército que antes parecia heroico agora se mostra com uma cara diferente. O “tatakae” agora significa continuar um genocídio enquanto o “shinzou wo sasageyo” é se dispor a sacrificar inocentes.

Creio que na verdade já haviam sinais disso desde o começo do anime, mas fato é que sempre vimos isso tudo coberto por um idealismo. E de todo modo, era de fato algo diferente disso que vemos agora. O “entregar os seus corações” significava sacrificar a si mesmo pelos outros, agora se torna uma desculpa para sacrificar os outros para si.

O que o Eren está fazendo não é um sacrifício pessoal para um interesse coletivo, mas um sacrifício coletivo para um interesse pessoal. Ele está levando até as últimas consequências as suas ideias de liberdade e nesse processo esmagando a legitimidade de seus ideais.

E isso é facilmente identificável no Floch e em seu discurso. Muito daquilo que ele diz não é muito distante daquilo que ouvíamos em temporadas anteriores, mas por algum motivo parece ser ao mesmo tempo tão diferente. Pode-se argumentar aqui que de fato o conteúdo daquilo que ele defende, ainda que utilizando as mesmas palavras de outrora, agora foi substituído por novas ideias e objetivos.

O ponto é que isso não importa tanto, pois tanto a corrupção de uma ideia quanto a substituição dela por outra que a substitui não muda o fato de que algo que parecia certo agora não parece mais.

Uma coisa era matar titãs, outra bem diferente é assassinar humanos. É inegável que a situação mudou completamente. Então sim, os velhos conceitos do exército devem ser contestados uma vez que a situação não é mais a mesma. E note que o próprio anime cria diversas circunstâncias onde essas várias dúvidas são muito propícias.

É, portanto, a hora daqueles que assistem o anime se permitirem contestar aquilo que veem na sua frente. Ao menos seria um grande desperdício se negar a fazer isso apenas por sentirem simpatia por alguns personagens ou coisa que o valha. Até mais.

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