Black Lotus é um spin-off da franquia Blade Runner, se passa dez anos após os eventos do curta animado Black Out 2022 e aborda um acontecimento importante no que diz respeito a retomada na produção de replicante, os humanos artificiais que são o chamariz da história.

Na trama acompanhamos Elle, uma replicante que acorda sem memórias no deserto, mas flashes a levam a cidade e assim a uma jornada de vingança que vai muito além de sua própria origem. O que esse anime da Crunchyroll em parceria com o Adult Swin tem a nos oferecer?

Como Blade Runner dispensa apresentações, vamos ao que interessa. Black Lotus se trata de uma trama de vingança que conta com ótimas cenas de ação, uma trilha sonora que faz jus ao filme dos anos 80 e uma protagonista que se não é carismática, também não é mal escrita.

Claro, partindo do pressuposto de que você não vê problema na animação em CG, coisa que eu não vejo. Certamente ela não é a mais bonita, mas acho que caiu bem levando em consideração a característica do anime, um “bônus” de uma franquia de sci-fi muito maior.

Tanto é isso que Black Lotus está englobada na linha do tempo expandida com o filme de 2017, Blade Runner 2049, e que deve ser explorada na série da Amazon Prime Video, Blade Runner 2099, que foi anunciada recentemente, mas ainda não conta com data de lançamento.

Como podemos ver, a franquia está a todo vapor, e em mais de uma mídia. Com altos e baixos nessa animação, mas qualidade suficiente para valer a pena mesmo para quem não conhece nada da franquia. Mas sim, é claro que o mais indicado é ter visto os filmes e lido o livro.

Voltando a história, o maior problema da primeira metade do anime é como a vingança da heroína se desenvolve, senão com facilidade, com certeza com uma linearidade espantosa. Elle assassina seus algozes um a um, todos aqueles que participaram da caça às bonecas.

A “brincadeira” envolve figurões de Los Angeles que tinham relações com a Corporação Wallace, dando a entender desde o princípio o interesse de alguém, e que personagem aparece em 2049 e também no anime? Dada a natureza dos replicantes tudo esteve na cara o tempo todo.

Ainda assim, isso não quer dizer que a vingança por si só foi ruim, mas acho que ela tornou o anime um tanto quanto sem graça em seus primeiros episódios. A coisa muda um pouco de figura quando os alvos acabam e o que sobra é o grande mentor da vingança da heroína.

E não só isso, as revelações de que J, o “parceiro” da Elle, não era bem o que ela achava agitam a história, pois tanto impactam no destino da protagonista, como trazem ao debate questões mais profundas envolvendo a “humanidade” dos replicantes e a indiferença dos humanos frente a ela.

J é um ex-Blade Runner que largou o ofício após se apaixonar por uma replicante e perdê-la. O reconhecimento da humanidade dos replicantes, assim como a frustração da tentativa de controlar a vida da Elle, ainda que tentando ajudá-la, foram grandes contribuições do personagem.

Além dele temos Davis, que ora faz a policial má, ora faz a policial boa, mas sempre dá uma de policial aliada da justiça. Sua fome pela verdade e coragem não determina o caminho da Elle ou traz tudo as claras, mas certamente é o tipo de tentativa que se fazia necessária na trama.

Por fim, temos o Niander Wallace Júnior, que aparece vivinho da silva em Blade Runner 2049, além de não ter sido denunciado por seus crimes. Wallace é o grande antagonista do anime e a mente por trás das ações da Elle, só que precisávamos de alguma rebelião também, né?

Para afirmar sua individualidade e o controle da própria vida, Elle machuca os olhos de Wallace em um movimento que se não explorou todo o potencial de sua independência, tanto manteve o spin-off na linha do tempo original, como deu o mínimo que o público precisava.

Para quê? Para acreditar que replicantes, mesmo que controlados por seu criador, são capazes de se rebelar contra esse domínio e encarar as adversidades que se postam as suas frentes a fim de terem uma vida comum e, na medida do possível, livre. Quem controla a sua vida?

A religião, seus pais, seus desejos, você mesmo? Sempre há algo ou alguém no controle de nossas vidas, menos mal se formos nós mesmos, né? Creio que tenha sido essa mensagem que o anime quis passar enquanto floria o universo de Blade Runner, ainda que mantendo seu status quo.

Não, o anime não é uma obra-prima como o clássico de Ridley Scott, mas cumpre bem o seu papel, só precisamos entender a que público ele atende, não é só ao público otaku que vê anime costumeiramente, como também não é só ao público dos clássicos do sci-fi.

Nisso a produção se sai bem, ainda que careça de grandes momentos ou um aprofundamento de temas pertinentes, o que era possível fazer, mas, creio eu, nunca foi o objetivo. Blade Runner: Black Lotus é uma boa pedida se procura um anime de sci-fi com boa ação e uma heroína badass.

Até a próxima!

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