Summer Time Rendering (Summertime Render) seria o tipo de anime ideal para se acompanhar nesse ano de 2022 não fosse seu streaming: o infeliz Disney Plus, o qual, até onde sei, não disponibilizou a obra para o Brasil até hoje. Será que a Panini lança o mangá por aqui?

E por que digo que o anime é bom de se acompanhar? Porque adapta mangá com história fechada, tem mistério, elementos sobrenaturais, casal com química, algum fanservice e vários plot twists. Quem não gosta dessas coisas, não é mesmo?

Antes de mais nada, se tem uma coisa em que Summer Time acerta é em sua heroína, Ushio, que passa a maior parte da trama “morta,” mas “viva” por causa de sua sombra, uma espécie de doppelgänger na história. Ushio transborda carisma do começo ao fim.

Ela usar maiô quase o anime todo não me incomoda porque é plausível, mas convenhamos, até um cego sabe que é por fanservice. Felizmente, o fanservice no anime é circunstancial, não gratuito, tanto que em nenhum momento toma o primeiro plano da história.

Acompanhamos e curtimos a heroína mais pelo que ela faz e diz, por sua personalidade e não pelos poderes que ela vai descobrindo ao longo da trama. Além disso, a química dela com o protagonista, Shinpei, flui muito bem desde os primeiros episódios.

Os dois personagens são razoavelmente bem escritos, têm cumplicidade e alternam momentos de protagonismo que aproveitam bem suas qualidades e até suas limitações, afinal, o Shinpei consegue viajar no tempo, mas é humano, não uma sombra.

Aliás, se chegou até aqui você sabe o que é uma “sombra,” né? A “doença” que parece mais um poder especial é a força motriz da trama e um ponto de crítica inerente a ela pelo quanto pede e também oferece a história. Sem isso Summer Time seria um triângulo amoroso?

Antes de chegar nisso, acho de bom tom pontuar a participação de algumas personagens femininas da trama, principalmente a Ushio, mas também a Hizuru, essencial para conectar o passado ao presente da história e refletir mais profundamente sobre a vilã, Haine.

Haine foi quem trouxe a doença da sombra para Hitogashima e é, ao mesmo tempo, uma vítima disso, pois finca raízes na ilha sem força suficiente para retornar para casa. Infelizmente, o anime peca ao não solidificar melhor o plot que envolve a personagem.

Entre erros e acertos no que se refere as explicações do que são as sombras e do que são capazes, achei que o drama da Haine fica um pouco inócuo quando diz respeito apenas a ela e, em algum nível, ao Shige, o “filho” que a usa para seu propósito “tosco.”

Parece muito que o autor pensou em conceitos muito bons como ideia, mas melhores do que consistentes quanto a enredo. Ainda assim, não jogo fora toda a “lore” do anime, pois várias coisas têm até justificativas razoáveis para não serem explicadas direito.

Além disso, concordemos que mais importante que detalhes de construção de mundo é a construção dos personagens, pelo menos quando o núcleo da história se sustenta nas relações interpessoais e os sentimentos gerados a partir delas.

Tirando o aproveitamento da Mio, sinto que todos os outros personagens foram bem utilizados dentro das necessidades apresentadas ao longo da trama. E por que pego no pé da Mio? Porque o “ponto de virada” dela nunca chega.

Não que fosse exatamente obrigado a chegar, mas por vários momentos se abre uma brecha para que ela deixe sua posição passiva e aja altivamente na história, e o que acontece? A Mio segue sendo a imouto a ser salva cujos sentimentos sequer são levados a sério.

Em uma trama com bons exemplos de personagens femininas relevantes (como a Ushio, a Hizuru e a Haine) me decepcionou demais que a Mio não tenha evoluído. Em algum momento me pareceu que isso não ocorreu por falta de tempo, mas UEPA!

Se não houve tempo para explorá-la, então quem escreveu a história errou. Repito, ela não escalar na trama não é o fim do mundo, mas subaproveita tudo relacionado a ela, a tornando uma decepção talvez maior que qualquer problema de roteiro que eu possa apontar.

Por fim, o que resta é uma animação instável em vários momentos, mas excelente em outros; cenas de ação mais pontuais (o que faz sentido dado o tom da história) e boas partes de drama com viradas às vezes surpreendentes (em tudo é perfeito, como sempre na vida).

O primeiro cour é bem contido, enquanto o segundo explora mais da ação e tensão da história, com o bom e velho “dar e receber” no que tece ao mistério, revelando informações importantes ao passo em que surgem novos e instigantes questionamentos.

Mesmo assim, o final me pareceu (refletindo já com algum distanciamento) um pouco estranho, mas não exatamente ruim, pois é satisfatório no que diz respeito a emoção. O máximo que posso reclamar é que o final feliz era óbvio para que se criasse suspense em cima.

Mas claro, entendo o suspense até o epílogo, que eclipsa as dores e os odores da trama após seu desfecho catártico, mas não só isso, muito porque, no fim das contas, o que mais importava era: um amor capaz de atravessar mundos paralelos, linhas do tempo e o verão.

Até a próxima!

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