Sekai Saikou no Ansatsusha (o que importa para identificar o anime) é um isekai baseado em light novel que conta a história do assassino que reencarna em outro mundo como aristocrata, mas também assassino.

Nesse novo mundo o protagonista, Lugh, é invocado pela deusa para matar o herói que, segundo ela, se tornará uma espécia de vilão após derrotar o Rei Demônio. Uma premissa perfeita para um anti-herói, não é mesmo?

E o anime, entrega o que promete? Para um isekai contemporâneo comum (de protagonista overpower com harém) eu diria que Sekai Saikou é um pouco acima da média, pois segue uma espinha dorsal que estrutura a narrativa e se não a livra de problemas, pelo menos adiciona qualidades a trama.

Antes de mais nada, Lugh Tuatha Dé não se chamava assim em sua vida passada, mas como o nome dele não é citado nela, vou chamá-lo só de Lugh mesmo. Ele era um assassino já idoso, mas extremamente habilidoso que sofreu queima de arquivo por motivos óbvios.

Porque, apesar de simples, essa caracterização é bem aproveitada no anime? Porque, como geralmente ocorre nos isekais, os contrastes entre a vida passada e a nova são bem explorados para resolver situações, mas também porque as circunstâncias da morte despertam um desejo no “herói”.

Lugh não quer mais ser uma ferramenta que apenas mata quem mandam matar. Em sua vida passada ele trabalhava para uma organização que o criou para ser um exímio assassino, em sua nova vida ele reencarna em uma família de assassinos e vira um de novo, mas um com escolha.

A própria aceitação da missão de matar o herói parte dessa ideia, afinal, ele não quer perder as memórias para não esquecer da frustração de sua vida passada, mas também é lógico querer matar o herói se este vai prejudicar o mundo no qual ele vai reencarnar. Tudo se entrelaça.

É claro que a construção do personagem enquanto assassino nascido em um mundo com magia e sob um título de nobreza delega vários dos clichês mais comuns aos isekais. Lugh é sob quase todo aspecto o rapaz perfeito. Inteligente, bonito, forte, gentil, etc.

Por isso não é estranho, apesar da gente saber que é conveniente, que as garotas que convivem com ele se apaixonem. Tarte, sua assistente pessoal, Maha, sua testa de ferro, e Dia, sua professora de magia que também aprendeu muito com ele. Obviamente todas o amam.

O legal disso é que todas têm motivos de sobra para gostar dele, nisso a trama não vacilou, pois ele não é um perdedor que reencarnou e conseguiu poderes demais, mas tem uma personalidade horrível. Sua personalidade é aprazível mesmo sendo alguém “frio”.

Por várias vezes o roteiro tenta vendê-lo como alguém frio e calculista, mas a gente sabe que isso não cola muito, não quando as situações que se apresentam a sua frente não exigem escolhas difíceis que não possam ser encaradas como atos de pura e simples bondade da parte dele.

Inclusive, tentar pintar ele como “edgy” ou como “mal” é um dos vacilos que o anime comete, mas claro, um menor em comparação com a mãe perturbadoramente carinhosa e invasiva, uma ou outra frase que mesmo em contexto soa machista e mudanças drásticas de personalidade.

Quanto a esse último defeito me refiro a Maha, a heroína que quase é abusada e tem em seu episódio de apresentação uma personalidade mais reservada, mudando dá água para o vinho no episódio seguinte. Além disso, o episódio dela é o mais desagradável do anime.

Sim, o autor de Sekai Saikou é o mesmo de Kaifuku Jutsushi no Yarinaoshi, mas não, se você não souber disso nem percebe, talvez exceto apenas por esse citado episódio, que se não me engano é o quinto. Okay, concordo que a situação era dramática e era bom explorar isso, só não precisava ter sido exatamente daquele jeito.

Em todo caso, o importante é que as heroínas são razoavelmente bem aproveitadas e que, se não cativam pelo carisma, pelo menos também não são apelativas ou mal escritas. Todas têm uma função de ferramenta parecida com a do Lugh em sua vida passada, mas isso com relação a ele.

A grande sacada é que, apesar disso, elas demonstram desejos que não se relegam as vontades do herói, se permitindo estar ao lado dele não por subserviência pura e simples, mas por respeito, carinho e até amor; como fica bem claro que as três sentem. Tem até beijo com uma delas, e mais de um.

Quanto as qualidades como assassino, Lugh tem todas e consegue resolver a maioria das situações sem nenhum sufoco. Contudo, o episódio final reserva um desafio que se não exige demais do protagonista, o coloca em uma situação na qual sua perfeição é desafia, para dizer o mínimo.

Lugh diz em alto e bom som que não é tão forte para vencer aquele que o desafia para um duelo, porém, o detalhe óbvio, mas magistral, é que ele não precisa. Ele é um assassino e como tal só o que precisa fazer é eliminar seu alvo, os meios são uma questão secundária e a trama usa bem essa ideia.

Além disso, o anime fecha com o salvamento de uma das heroínas, o encaminhamento do harém e a perspectiva do aproveitamento do herói (o provável grande antagonista da história) em uma possível segunda temporada. Sim, essa focou apenas em apresentar e desenvolver o protagonista lentamente, não seu objetivo.

Me arrisco até a apostar que, como ocorre várias vezes ao longo dos doze episódios da animação, a problemática apresentada pela deusa não é bem como ela pinta. Recaindo sobre esta figura muitas de minhas suspeitas sobre quem é a verdadeira vilã da história.

Não vou me aprofundar na questão porque eu mesmo não sei o que dizer, no máximo li spoilers por aí que sequer parei para checar, então só o que digo é que se você procura um isekai nos moldes de (quase) todos os outros que vêm sendo lançados ultimamente você tem que ver esse daqui.

Fazendo isso, se acaso já não tiver feito, volte aqui e escreva nos comentários se você não achou Sekai Saikou pelo menos mais consistente que a maioria. Há uma ideia por trás das coisas, há um relativo desenvolvimento de personagem e um satisfatório aproveitamento dos elementos dispostos na trama.

Por fim, há também questões delicadas como o fato da idade mental do protagonista ser a de um senhor de idade, mas acho que a trama suaviza isso, tanto que, por mais que as garotas se insinuem para ele, a coisa não engrena até perto do final. Final esse que é a cereja de um bolo de receita simples, mas modo de preparo satisfatório.

Até a próxima!

    • Olha Alex, tenho a impressão de que ele foi bem recebido pelo público japonês, e outro isekai mais ou menos na mesma situação, o Isekai Smartphone, ganhou sequência, creio que esse aqui possa ganhar também, mas se ganhar pode demorar uns anos.

Comentários