[sc:review nota=2]

Pena que esse anime está tão errado, porque os temas que ele levanta, mesmo sem querer, são bastante interessantes. Esse artigo por exemplo deriva em grande parte de uma enorme bobagem que foi falada durante o anime. Nesse episódio, o Tsukasa estava tão preocupado com a possibilidade de um giftia ter suas memórias e personalidade reimplantadas porque isso o permitiria salvar a Isla daqui a um mês que ele acabou negligenciando a Isla hoje. O amor pode ser muito egoísta às vezes.

Vou direto ao ponto: a bobagem a que me refiro. Em dada altura o Tsukasa saiu perguntando a todo mundo se seria possível reimplantar as memórias de uma giftia depois dela ser recolhida e reinstalada. Todos foram unânimes em dizer que não. Quando chegou a vez da Michiru, ela se saiu com essa: “A perda de memória das giftias é completamente diferente da perda de memória das pessoas, pois as partes internas são totalmente trocadas por novas.”. Vamos lá: o processo pelo qual as giftias passam não é comparável a uma simples amnésia ou mesmo demência, mas à morte. A perda da memória é apenas parte de todo o processo de obsolescência de um giftia, e o Tsukasa e a Michiru sabem disso. Agora, se fosse só uma questão de memória, de dados, a pergunta dele é bastante razoável: por que os dados não podem ser salvos e depois reescritos no equipamento consertado? O problema não é trocar as peças, é porque os dados não podem ser recuperados. O problema maior disso, contudo, é tentar traçar uma diferença entre homens e máquinas onde, pelo que o próprio anime estabeleceu, eles não deveriam ser tão diferentes assim. Ao se reforçar que giftias são máquinas, Plastic Memories provoca o espectador a perguntar: afinal, por que a perda de memória é inevitável? Uma leitura mais engraçada, um pouco forçada admito, é que, a menos que se troque “todas as partes internas” de uma pessoa, nenhuma perda de memória que ela tenha será definitiva. O que não faz o menor sentido em vários níveis.

Mas o que realmente preocupa Tsukasa é perder a Isla, e para ele o que define a Isla como uma entidade individual são suas memórias e sua personalidade. São mesmo nossas memórias que nos fazem ser quem somos? Se você tivesse outras memórias, você seria outra pessoa? Não estou perguntando no sentido de ser diferente do que você é, mas de realmente ser outra pessoa. Se você tivesse as memórias do seu vizinho, você seria seu vizinho? É claro que não. E para quem precisar de um exercício mental para entender, aqui vai um: lembre-se de sua primeira memória, a mais antiga que tiver. Naquela época, você por óbvio não tinha nenhuma das memórias que você possui hoje. Mas você já era inequivocamente você. Entende onde eu quero chegar? Nossas memórias são importantes nos relacionamentos com outras pessoas, mas enquanto tivermos nossa consciência, eu serei eu e você será você, sem sombra de dúvida.

O grande problema é que quem está preocupado com a morte da Isla (e a consequente perda de suas memórias) é o Tsukasa, aquele que irá viver, e não ela. Se você se lembra, a preocupação dela no começo do anime era não se aproximar de ninguém, justamente para não criar novas memórias. Assim ninguém teria expectativa dela, ninguém ficaria triste quando ela partisse. Mas ela deixou o Tsukasa se aproximar, e agora falta pouco para que essa Isla que ele conhece só continue existindo em suas próprias memórias. Ele quer desesperadamente que ela “continue existindo”, mesmo que isso signifique simplesmente copiar as memórias dela em outro robô. Seria a mesma Isla? Sem dúvida, esse robô acreditaria que é a Isla. Mas seria a Isla? Se já concluímos que possuímos nossas memórias mas não somos definidos por elas, é óbvio que não. Outro exercício mental: se suas memórias fossem copiadas inteiramente para outra pessoa, ela seria você? Não. Se as memórias da Isla forem copiadas para outro giftia, ele não será a Isla, ainda que acredite ser. No fundo, isso é egoísmo. Talvez por isso a Isla tenha rejeitado ele depois que se declarou no final do episódio.

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