[sc:review nota=4]

Deveria ter escrito antes o artigo sobre o episódio nove, me atrasei e por feliz coincidência o episódio dez não muda de tema, então vou escrever um artigo só para os dois. A bem da verdade, a linha principal do enredo do anime nesses dois episódios é bem simples e direta, sem muita coisa para se reparar. A diversão está nos detalhes. Alguns bem óbvios (e por isso nem tão “detalhes” assim, admito), até coisas que são pura especulação minha através de ligações aleatórios entre elementos disjuntos. Para não ficar um artigo muito grande, vou tentar escrever por tópicos.

Família é o tema dos dois episódios, e família em todos os sentidos: a família de sangue, a família composta pelas pessoas próximas com quem convivemos, e a família no sentido mafioso do termo. Vários dos garotos da Tekkadan tem famílias de sangue, e o Naze dos Turbines também tem uma família de sangue poligâmica bem grande. A Tekkadan em si se considera uma família, mais do que apenas uma empresa. É tudo o que aqueles garotos têm, afinal, são pessoas com quem cresceram e conviveram durante anos, faz muito sentido que seja assim. A Kudelia está desconfiada de sua família de sangue e por isso se sente solitária. Atra, ela própria uma órfã e sem nenhuma família de sangue que conheça, diz à Kudelia que a princesa também faz parte da família Tekkadan. A Teiwaz parece seguir um código de ética e uma hierarquia semelhante à máfia japonesa, a yakuza (não posso confirmar porque não conheço a yakuza o suficiente), e como ela trata a organização como uma “família”. É um conceito encontrado em outras máfias no mundo também, e é uma forma de sugestionar proximidade e responsabilidade maior do que o esperado de cada membro pela organização, que é sua “família”. A Tekkadan entra para a família Teiwaz como irmã dos Turbines, mas para não deixar o espectador confundir esse tipo de família com a família da Tekkadan, ambas sem laços de sangue afinal, são combinadas abertamente cotas de participação nessa “fraternidade”.

Tekkadan conversando com Barriston McMurdo, o Poderoso Chefão da Teiwaz

Tekkadan conversando com Barriston McMurdo, o Poderoso Chefão da Teiwaz

Agora as parte engraçadas do tema família: quando perguntava (muito constrangido) ao Naze sobre suas relações sexuais com todas as suas esposas, Orga não pôde evitar pensar o tempo todo em sua própria família Tekkadan, que é, como já disse, de natureza diversa da família do Naze. No final Orga saiu da conversa mais determinado a cuidar de sua própria família, o que naquele contexto, enquanto ele conversava sobre sexo com o Naze, deu a impressão de que pretendia começar a fazer sexo com toda a Tekkadan. Tenho certeza que foi uma piada não intencional, mas eu ri mesmo assim. Outra foi bem intencional: Atra conversou com Amida, aparentemente a “principal” esposa de Naze, e ela a explicou como alguns homens têm tanto amor que é simplesmente natural que tenham várias esposas, e isso não é causa para ciúme ou conflitos entre elas. Na hora pensei “ok, a Atra vai começar a pensar em poligamia agora”. A piada já estava feita mesmo se não a confirmassem, mas confirmaram: no episódio seguinte, quando conversou com Kudelia e disse a ela que ambas já eram da mesma família, Atra não pôde evitar pensar nas duas juntas com o Mikazuki. Com filhos e tudo.

Voltando às coisas sérias, o Fareed da Gjallarhorn falou em sua nave sobre como tem “contatos no submundo”. Duvido que seja algum peixe grande da Teiwaz, e é discutível se é sequer um peixe pequeno. Uma pessoa, contudo, me incomodou nesses dois episódios: Fumitan, a secretária pessoal da Kudelia. Ela sempre pareceu séria, mas nesses dois episódios passei a achá-la sinistra mesmo, sombria, triste talvez. Em dada cena ela estava sozinha na ponte enquanto digitava algo. Foi muito suspeito, com direito a close-up em um colar que ela havia acabado de ganhar da Kudelia, que o comprou em par para que as duas vestissem a peça combinando – ela não o estava vestindo. Não sei se ela é o tal contato de quem o Fareed falou, mas sendo a especialista em comunicações da nave não é impossível nem que tenha contato com a Gjallarhorn desde o começo ou que tenha estabelecido contato depois de ouvir a história de que a Kudelia seria “propriedade” de alguém. Não acredito que ela queira o mal da Kudelia ou a esteja vendendo nem nada assim, chuto mais ser o caso dela estar disposta a vender a Tekkadan para salvar sua protegida.

Fumitan sozinha na comunicação da nave

Fumitan sozinha na comunicação da nave

Crianças são mesmo tratadas feito lixo nesse mundo, e não só crianças pobres. Conforme já foi dito noutro episódio, a irmã do Fareed está prometida em noivado para Bauduin. Só que segundo o Bauduin ela ainda é uma criança, e por isso ele se sente incomodado. A tecnologia evoluiu, mas a moral recuou para o século 19 em Gundam Orphans. A história da Atra também é contada: órfã, ela trabalhava em um prostíbulo. Nova demais para trabalhar na atividade-fim do local, ela era uma espécie de “Cinderella” do lugar. Até que se cansou e fugiu. Ainda bem, não fosse isso certamente o brilhante futuro dela seria tornar-se uma prostituta. Aliás, ela provavelmente já seria uma, embora seja ainda uma adolescente. Pré-púbere, talvez, não faço ideia da idade dela, mas não quero acreditar que seja muito mais nova que a Kudelia porque a Atra tem aproximadamente a mesma idade do Mikazuki (conforme sua própria história conta), e seria estranho se Kudelia e Mikazuki tivessem idades tão diferentes assim.

Aproveitando a boa fase com a fraternidade estabelecida com os Turbines e com a grana da venda de saque da Gjallarhorn, a Tekkadan cai na farra. Os mais velhos, o anime não esconde (mas não mostra), vão para um prostíbulo. Para Eugene foi a primeira vez, e reforçar isso implica que, apesar de serem basicamente escravos nos tempos da CGS, outros garotos da Tekkadan de alguma forma já haviam tido suas primeiras experiências sexuais. Devem ter deixado de comer por alguns dias para economizar dinheiro, ou realmente conheceram alguma garota, quem sabe. O Orga não participou disso (e o anime deixa claro que ele ainda é virgem), mas tentou provar sua maturidade bebendo mais do que aguentava. E foi vomitando seu estômago para fora que ele conheceu Merribit, que mais tarde ele descobriria ser da Teiwaz. O Poderoso Chefão determinou que ela os acompanhe por um tempo, e Orga não esconde sua irritação com a óbvia espiã. Que por sua vez não esconde muito que provavelmente é mesmo uma espiã e está ali para ter algum controle sobre a Tekkadan. E Merribit faz isso ao estilo femme fatale, tentando o tempo todo estar perto do Orga e chamar sua atenção, além de já estar tentando seduzi-lo de forma bastante sutil (ele é menor de idade e virgem, não dá pra levar direto pra cama né).

De novo voltei a sentir que estou assistindo um anime da Mari Okada quando várias death flags foram levantadas sobre as cabeças de vários personagens. Notavelmente o Akihiro e o Takaki. O Akihiro está com um alvo no peito praticamente desde o começo do anime, mas ele revelou que tem um irmão mais novo que foi vendido como escravo e ele não sabe onde está, então acredito que sua chance de morte tenha diminuído um pouco. É muito mais dramático fazer irmãos se reencontrarem de lados opostos, não é? Ou fazê-lo descobrir que seu irmão morreu, ou o odeia, ou reencontrá-lo apenas para que ele morra em seus braços, ou ser forçado a trair a Tekkadan por causa do irmão, enfim, são várias as possibilidades e como esse irmão acabou de ser mencionado penso que o Akihiro está seguro por enquanto. Já o Takaki é o contrário: porque foi revelado que tem uma irmã, que cuida dela e que deseja mandá-la para a escola, sua chance de morte aumentou. Na verdade achei que pudesse ter morrido no episódio 10 mesmo, mas Mikazuki surgiu do nada (ele havia ficado para trás quando a Tekkadan partiu) na hora exata para salvar a pele do Akihiro (e o Takaki seria o próximo). Ufa! Foi só tudo isso! Semana que vem prometo (tentar) não atrasar!

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