Perfect Insider – ep 11 final – O que foi e o que poderia ter sido
[sc:review nota=4]
E depois de malhar o anime semana sim, semana também, eu sinceramente gostei desse último episódio. É insuficiente para redimir uma série inteira, claro, mas pelo menos não estou morrendo de ódio. Terminei de assistir esse episódio sorrindo, inspirado até. E pensei: por que todo o resto não foi assim? Por que Perfect Insider não foi desde o começo uma história sobre um relacionamento entre duas pessoas, Moe e Souhei, com um mistério correndo paralelamente no fundo com parábolas e metáforas sobre o relacionamento deles e sobre relacionamentos e sobre seres humanos em geral? Teria sido muito melhor que um mistério cuja resolução é tão artificial quanto óbvia – duas coisas que mistérios não podem ser em hipótese alguma. Provavelmente as duas coisas que mistérios menos podem ser, dentre todas as coisas do Universo.
Só de tentar explicar (e acredito, entender o que eu tentei explicar) o que eu acho que a história deveria ter sido já é complexo o bastante. Como assim um mistério que é só pano de fundo e serve apenas para produzir significados conotativos para a história principal? Apenas pensando ou falando isso alto, depois de já ter captado o conceito, nem parece tão difícil. Mas tente imaginar tal história! Se Perfect Insider fosse tal história, ele seria … praticamente igual ao que foi. Muda apenas o foco. Mas quando você tem dois assassinatos é difícil conseguir focar em qualquer outra coisa, principalmente quando os protagonistas estão justamente investigando esse assassinato. Não foi por acaso que S. S. Van Dine (Willard Huntington Wright) escreveu em 1928 entre suas Vinte Regras para Escrever Histórias de Detetives que uma história de detetive deve ter um cadáver, deve ser sobre assassinato. Assassinatos são simplesmente fascinantes assim.
Então Moe e Souhei deveriam ter se envolvido menos? De forma alguma. Aquela investigação foi também para eles descobrirem mais sobre si mesmos. Isso absolutamente não ficou claro ao longo do anime exceto talvez em algumas raras cenas, mas ainda acho que a forma como elas foram executadas serviram mais para fazer a Moe parecer uma excêntrica histérica. E embora ela seja de fato impulsiva, isso deveria ter sido trabalhado como uma característica sua e não ter destoado como uma ferida aberta durante todo o anime cujo único efeito era interromper o bom andamento da história.
Não sei como, mas eu sei que dava para ser diferente. Poderia ter sido diferente. Arrisco dizer que essa que proponho é a história original, a do livro. Só por isso a história continua mesmo depois desse caso. No anime ficou parecendo que era tudo sobre a Magata, e Souhei e Moe eram apenas transeuntes que por acaso tropeçaram em seu cadáver e meio que ficaram curiosos. Por que eles sairiam resolvendo outros casos depois? Porque resolver casos não importa. É só uma forma (com rodeios, claro) de contar o quão difícil é descobrirmos um ao outro, e talvez mais difícil ainda descobrirmos a nós mesmos. É sintomático que a Moe comece a história com amnésia sobre um acontecimento importante de sua história (a morte de seus pais e o papel do Souhei em sua recuperação do trauma).
É incrível como todo o relacionamento que os dois têm hoje seja resultado de suas experiências de vida e do desejo de ajudar ou estar perto um do outro. E como são incompreendidos nisso. E como aos poucos, e em grande parte graças ao caso Magata, eles passaram a se entender um pouco melhor, a aceitar mais um ao outro – sem exigir mudanças, apenas genuína e bem intencionada aceitação.
Infelizmente Perfect Insider focou demais na Magata, a ponto de em seu apogeu ela ser ao mesmo tempo criminosa e vítima de si mesma. Nesse último episódio, apesar dela ter ocupado bastante tempo de tela, o adequado e necessário foco na relação entre Souhei e Moe (até a Magata perguntou sobre a Moe para o professor) finalmente deixou clara qual era a função dela ali nessa história desde o começo. Ela não é um gênio, não é especialmente inteligente, e com certeza não é alguém em quem se espelhar para nada, mas ela tem uma boa percepção da natureza humana. Não aquela bobagem sobre morte, mas o fato de que não importa o quanto nos envolvamos com outras pessoas e com o mundo ao nosso redor, no fundo estaremos sempre solitários porque as vastas profundezas de nossas próprias mentes são absolutamente inacessíveis para os outros, não importa o que sintamos por eles ou o quão próximos sejamos. Mas estamos o tempo todo tentando nos conectar a outras pessoas e é por isso que vivemos.