A parte boa do episódio foi muito boa. Provocante. Não é uma provocação original, mas mesmo assim é incomum. Que eu me lembre, nunca vi um produto de cultura pop mainstream que tocasse na ferida dos jogos estilo RPG e fantasia em geral: por que os monstros são “monstros”? Que direito tem os pretensos “heróis” de matarem e saquearem eles? Muitos jogos resolvem isso com uma história. A maioria – incluindo aí a maioria dos jogos de RPG de mesa – nunca resolve nada. O herói é quem mata o monstro e o monstro é aquele bicho feio que mora fora da cidade onde os heróis moram, mesmo quando são pacíficos e não representam perigo para ninguém. Grimgar trata disso de forma bastante direta.

Infelizmente a parte boa do episódio foi relativamente curta. E o resto … não foi ruim em si, mas não foi boa também, e os problemas de animação são grandes demais para ignorar.

"Aventureiros" fracassados, aparentemente

“Aventureiros” fracassados, aparentemente

Vou falar sobre os problemas antes e daí termino o artigo com um tom positivo, falando do que o anime teve de melhor. Logo no começo do episódio, depois da abertura, percebi uma notável ausência de patrocinadores, e isso me deixou preocupado. Preocupação que infelizmente se provaria acertada. Está apenas no segundo episódio ainda, animes costumam ter entre três e cinco episódios finalizados antes de começar a transmissão, com os primeiros recebendo tratamento cuidadoso para que pareçam bem aos olhos dos espectadores e conquistem a audiência. Mas é só o segundo episódio ainda e Grimgar têm:

  • Animação ruim com personagens tortos
  • Longa sequência com insert song e pouca animação
  • Longa sequência com os personagens com animação simples andando sobre fundos estáticos
  • Eventualmente nesses fundos estáticos havia uma coisa ou outra que se movia, como o martelo sobre uma bigorna ou uma singela boca em um personagem no fundo

Isso tudo é necessariamente ruim e feio? Boa parte disso é sim ruim e feio, uma parte apenas parece preguiçoso, e quase tudo é tempo desperdiçado que seria melhor aproveitado contando a história. E tudo isso é sintoma da falta de recursos, dinheiro, talvez até tempo e bons profissionais para fazer algo melhor. Lembra aquela falta de patrocinadores? Pois é. Desse episódio eu ainda gostei, de verdade. Mesmo nessas cenas ruins houve uma ou duas coisas muito interessantes, que acabaram sendo contadas de uma forma bastante criativa (ainda que talvez acidentalmente).

Para terminar com as coisas ruins do episódio, a que foi indesculpavelmente ruim. A pior de todas. A que derrubou a nota do episódio (eu estava pensando em dar talvez até 4 estrelas, apesar dos problemas de produção). Em um episódio sério, que toca num assunto muito sério (e clichê) de jogos, animes e outras obras de fantasia, o personagem mais afetado pelo dilema moral imposto decide esfriar a cabeça … espiando as garotas nuas no banho. Sério mesmo? Vamos discutir moral, mas vamos também espiar garotas nuas no banho? Eu sei que isso é um clichê, mas é justamente por causa disso. Não estou assistindo Dungeon. Não estou assistindo Utawarerumono. Não estou assistindo um anime cheio de clichês, ou do qual eu espere clichês. Estou assistindo um anime sério, que está se propondo a lançar uma luz de seriedade sobre um clichê. E o cara vai olhar garotas nuas no banho. Na hora que ele disse o que pretendia fazer eu ainda pensei “bom, isso é ruim, muito ruim, mas pode ser a forma encontrada para segurar segurar o espectador: fanservice vende”. Mas nem fanservice teve! Eu não teria gostado de fanservice, mas teria entendido. Existe um jeito certo até de errar, e Grimgar errou do jeito errado. Problema de direção, talvez? Quem conhece o diretor não me fala bem dele.

Agora o que teve de bom. O principal eu já adiantei né? O dilema moral que é matar supostos “monstros”. Por que será que eles têm que matar goblins? Será que existe uma ameaça distante tentando se aproximar da cidade, e por isso estão recrutando novos aventureiros? Porque senão, o local parece tranquilo o bastante, com goblins e tudo, não entendo mesmo. Imagino que eles sejam um estorvo para viajantes, ladrõezinhos, talvez até capazes de matar pessoas em caravanas, mas para isso não é necessária uma guerra de extermínio, apenas guardas nas imediações das cidades e escoltas nas caravanas. Eles não são em número grande para ameaçar a cidade. Talvez pela existência dessa política de genocídio? Talvez.

Por enquanto os nossos aventureiros de Grimgar têm todas essas mesmas dúvidas que eu, que nós, e nenhuma resposta. Só o que sabem é o que está na frente dos olhos deles: estão matando goblins para roubar seus itens e vender. Como saqueadores da pior laia. Os goblins, como eles, só querem viver. Os aventureiros foram alertados assim que despertaram ali perto da cidade: eles não têm opção senão se tornarem aventureiros – e, pois, assassinos e saqueadores. Será que os goblins têm muitas opções também?

Enquanto pensavam sobre o que haviam feito (literalmente) e passeavam em frente de cenários lindos (porém estáticos…), houve algum desenvolvimento de personagem interessante se tiver consequência nos próximos episódios. O líder do grupo, Manato, se aproximou da maga, Shihoru. Parece que algo pode rolar entre os dois (o que na verdade coloca uma death flag na cabeça deles, principalmente na dela, eu acho). E o Moguzo, o guerreiro grandão, esculpiu um avião em madeira. Lembra que eles não têm memória nenhuma do mundo de onde vieram e embora palavras saltem à mente de vez em quando eles não sabem do que se trata? Saltou à mente do Moguzo a imagem de um avião, e ele certamente não faz ideia do que seja. Será que ele gostava de aviões? Morava perto de um aeroporto? Era um piloto? Não é grande coisa, mas esse tipo de desenvolvimento que serve só para tornar os personagens mais humanos é muito bom de se ver. Estou comedidamente ansioso pelo próximo episódio, e espero estar redondamente enganado quanto à falta de recursos do anime e a queda exponencial de qualidade que eu acredito que ela irá causar.

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