Tenho uma interpretação para esse episódio que é altamente controversa. Com todos que conversei, em toda parte que comentei, foi mais fácil encontrar quem discorde do que quem concorde comigo. Quando algo assim acontece é fácil suspeitar de si mesmo, não é? Mas vou sustentar minha posição mesmo assim. Não porque eu sou teimoso, mas porque eu acho que mesmo as alternativas à minha interpretação levam ao mesmo resultado. Na verdade não apenas acho: já vi por aí interpretações diferentes que, no entanto, chegaram a uma conclusão parecida. Exporei minha posição, portanto, e listarei também algumas alternativas.

E de que estou falando afinal? Bom, não escrevi esse título no sentido metafórico. Eu realmente acredito que a Mumei matou a própria mãe nesse episódio. Além disso vou comentar sobre outras coisas desse episódio, então não feche a página agora ainda, mesmo se discordar de mim que a Mumei tenha matado sua mãe, poderá concordar noutras coisas, não é?

O que deve ser pouco controverso é que esse episódio fechou um arco de desenvolvimento pessoal da Mumei. Antes eu só podia especular, mas agora eu realmente entendo o que faz a Mumei agir de forma inconstante como veio agindo desde o começo do anime. Bom, entendo em grande parte, em linhas gerais pelo menos. Ainda há mistérios ao redor da kabaneri mais forte desse trem para os quais não há resposta, e suponho que todos eles se tornarão elementos importantes do enredo em algum momento.

O Koutetsujou fugindo da colônia fundida

O Koutetsujou fugindo da colônia fundida

A Mumei era só uma criança plebeia normal vivendo uma vida normal em uma vila normal, o que nesse mundo significa que ela vivia uma vida tensa junto com várias outras pessoas que diariamente tremiam de medo que os kabanes pudessem aparecer e destruir a frágil segurança a qual eles entregavam suas vidas por falta de opção melhor. Como não poderia deixar de ser, esse dia chegou, mas de algum modo Mumei e sua mãe sobreviveram. Elas sobreviveram apenas para viver a tragédia que é a vida de um sobrevivente, frequentemente curta sob o medo cego das demais pessoas: talvez sejam kabanes! E curta foi a sobrevida da mãe da Mumei, morta diante dos olhos da filha que protegeu com o próprio corpo. A menina teria sido a próxima se ela não tivesse sido salva por um homem misterioso, aquele que hoje ela chama de “irmão”.

Será que ela havia sido mordida? Ou será que foi transformada em kabane em algum momento depois de alguma outra forma? Pelo pouco que entendi, bastaria injetá-la ou forçá-la a ingerir sangue ou outros fluidos de um kabane para que ela fosse infectada, essa parte é fácil, estou curioso é para saber como impediram a transformação completa – enfim, essa curiosidade que tenho desde que descobri que ela era um kabaneri no começo do anime. Ela não foi a única de seu tipo, mas é a única sobrevivente: todos os demais eventualmente se transformaram em kabanes. Como só aparece uma mulher nos flashbacks da Mumei, não ignoro a possibilidade de que fossem todas mulheres – pode ser fetiche do “irmão” ou algo fisiológico que torna as mulheres mais adequadas para essa transformação. Todos foram mortos, e por isso ela morre de medo de se tornar um kabane.

Ao mesmo tempo ela ainda é grata ao “irmão” por tê-la salvo e seu instinto irresistível de derrotar kabanes vem de sua lealdade a ele: se for para morrer, se for para eventualmente se tornar ela própria um kabane, pelo menos quer ter matado o máximo possível deles antes. Por isso ela é tão imprudente, por isso ela se meteu e meteu o Koutetsujou junto com ela nessa enrascada em que se encontram nesse episódio. Também de seu “irmão” vem a ideia de que só os fortes sobrevivem, se ela morrer então é porque é fraca e não merece mesmo viver. Essa parte específica de sua ideologia eu não seria rápido em atribuir diretamente ao “irmão”, pode ser apenas uma conclusão a qual ela chegou sozinha, baseada no resto.

Mumei sempre foi forte e sempre conseguiu superar sozinha todas as situações. Ou melhor, quase todas: na batalha nos túneis ela não aguentou lutar até o fim. Mas sua ideologia não foi abalada por aquilo porque enquanto ela parou no meio do caminho, o Ikoma continuou e venceu basicamente graças ao seu próprio poder, o que está totalmente de acordo com o que a Mumei pensa. Nesse arco foi diferente: ela principalmente, mas também ele, tomaram decisões estúpidas e acabaram em uma situação desesperadora – para não mencionar que deixaram o trem em uma situação tão ruim quanto ou pior. Convencida de que aquele era o limite de sua força, Mumei estava pronta para desistir. Mas o Ikoma estava lá para ensinar a ela que força individual não é tudo.

Aliás, Ikoma dá a entender que pode ser exatamente o contrário: eles lutam porque são fracos, não porque são fortes. E eles precisam continuar lutando enquanto forem fracos. Como ideal isso é uma excelente frase de livro de auto-ajuda. Pense bem, não faz tanto sentido, faz? Mas era o que a Mumei precisava ouvir. Como são fracos, sempre vão precisar lutar. E ela sempre poderá lutar. De acordo com o ideal dela, Mumei estava prestes a abrir mão da própria vida. É ou não é uma forma de pensar melhor, no sentido de ser mais útil, ainda que falaciosa? E mais: o dia que não precisarem mais lutar não terão mais nenhuma preocupação. Na prática, a Mumei descobriu que, já que ela é fraca, ela pode ser humilde, ela pode depender dos outros. Os fracos precisam se ajudar.

E é com esses dois ideais antagônicos que a Mumei chega ao clímax do episódio: a Mumei do passado que acreditava na força e a Mumei do futuro que acredita no esforço. Qual das duas Mumeis irá sobreviver? Ela salta para atacar o coração da colônia fundida e lá dentro enxerga sua mãe. Ela literalmente matou seu passado. Eu já havia dito que essa seria a parte controversa do meu artigo, não foi? Bom, para essa conclusão ser plausível não é necessário que fosse realmente a mãe dela ali, poderia apenas ser parecida e a lembrar dela. Outra alternativa que li por aí é que a Mumei enxergou a si mesma no coração da colônia (de forma metafórica ou ilusória, tanto faz). De novo, a conclusão é a mesma: no embate entre as duas Mumeis, venceu a Mumei da esperança no futuro, a Mumei que é fraca mas tudo bem, porque ela encontrou várias outras pessoas fracas e todas elas juntas se esforçam para sobreviver.

  1. Este episódio foi muito bom esteve ao mesmo nível do episódio de Re: Zero da semana passada. Este episódio finalmente mostrou um pouco do passado da Mumei e assim dá para perceber o porquê de ela agir de forma descontrolada com os Kabanes ao ponto de por a sua vida e a dos demais em risco só para exterminá-los. Quanto ao Ikoma, nunca pensei que ele fosse por a sua vida em risco para salvar a vida da Mumei mas ele fez exactamente isso, mas acho que compensou aquela cena em que a Mumei recupera os sentidos e não vê o Ikoma, e vai à procura dele não tem preço (ao menos mostrou que a Mumei também é humana). O estúdio está de parabéns este episódio mostrou que a equipa técnica do anime se esmerou, aquela cena da Yukina a maquinista da locomotiva blindada tira o sobretudo (capa) para ter mais flexibilidade esteve muito boa, os detalhes dos movimentos dos músculos estava excelente (e como tu bem referiste na tua outra matéria ela é linda).
    Outra coisa que eu gostei bastante neste episódio, foi o esmero nos detalhes da própria locomotiva em si, aquele canhão estava muito bem feito já para não falar daquela cena em que a Yukina põe a locomotiva a todo o vapor para aumentar a acção do episódio (nunca pensei que um anime que gira em torno de uma locomotiva fosse ser tão interessante).
    Como sempre uma excelente matéria (a outra matéria sobre a Yukina é nota 10).

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      A Mumei já tinha mostrado que era humana brincando com criancinhas e se importando com a opinião dos outros sobre ela, mas agora finalmente deu para entender porque às vezes ela parece uma maluca com sede de sangue. Eu acredito que ela já tenha superado isso com esse episódio, ou pelo menos esteja muito bem encaminhada.

      Já o Ikoma eu acho que está ficando para trás, ele está precisando de algum desenvolvimento. A história da pedra na mão dele foi muito pouco.

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