Bom dia!

Está pronto para o anime mais hypado da temporada? Ou estava pronto, caso já tenha assistido? Pronto ou não, o anime estreou. Será que estreou na Netflix? Até o momento em que esse artigo é escrito (madrugada do dia 10 para o dia 11) ainda constava no site do serviço que a suposta estreia seria dia 11. Suposta, porque, ao contrário do que muitas notícias informaram na imprensa especializada afora, não houve confirmação nenhuma – o anime apenas foi adicionado lá, e lá permanece até agora. Eu quero que o Netflix lance e entre no mercado de simulcast, mas cansei de argumentar por aí que, na falta de uma confirmação oficial, não seria surpresa nenhuma se fosse só um erro e o anime não fosse lançado. Será que foi?

E eis que escrevi um parágrafo inteiro sobre o Netflix. Oh, bem, onde estávamos? Ah, sim, está preparado para o anime? Preparado ou não, ele já estreou. E preparado ou não, aqui vão as minhas primeiras impressões!

Atualização às 3:45 da tarde: Acabei de acordar (ei, eu estava escrevendo o artigo de madrugada, não me julgue!) e descobri que, de fato, o Netflix lançou. Viva! Mais opções de simulcast, hein? Mais do que isso: a nossa primeira opção de simuldub. Aproveitem 😃

Eu passei o episódio inteiro procurando descobrir qual a natureza da Violet. Ela é um robô? Uma humana? Uma ciborgue (meia humana, meio robô)? Há pistas para todos os gostos. Ela tem braços robóticos, então mesmo se for humana, é em alguma escala robotizada. Claro que os braços podem ser apenas próteses, não a caracterizando então como ciborgue. Também é dito que ela “desde pequena” (ou desde criança, ou talvez seja só uma imprecisão da tradução mesmo) foi treinada e usada pelo exército, bem como é dito que a família Evergarden irá dar guarida a ela “até que seja maior de idade”. Se ela cresce, deve ser humana, certo?

Mas daí tem tudo o que o ex-coronel Claudia Hodgins (ele se chama Claudia, eu juro) fala consigo mesmo sobre a Violet, e sem dúvida ele dá a entender que ela é um robô (nem mesmo ciborgue, robô mesmo). E tem também as bonecas. Um cliente entra na agência de correios e pergunta a Violet se ela é uma boneca, e há de fato um punhado de bonecas lá cujo trabalho é escrever cartas para quem não sabe escrever. Elas parecem notavelmente humanas, mas não consigo conceber que humanas sejam chamadas de “bonecas”. Mas a Violet, de novo segundo o Hodgins, é uma espécie de “projeto secreto”, então ela pode não ter nada a ver com as demais bonecas.

Ou pode ter a ver. Conforme pensar sobre isso me consumia, eu entendi que talvez não haja uma resposta nesse ponto da história. Pensar nisso me levou a outra pergunta: faz diferença o que ela é, dada a história apresentada? Não, não faz. Vejamos: Ela desde sempre lutou, só conhece a guerra, e agora tem que se acostumar com a vida normal, em paz e em sociedade. É um drama pessoal, psicológico. Faz diferença ela ser humana ou não? Não faz. Ela não teve nenhum amadurecimento emocional, ela não entende o que é o amor, ainda que muito provavelmente esteja apaixonada (tragicamente, por um homem morto). Faz diferença ela ser humana ou não? Não faz. Destaque qualquer conceito importante sobre a personagem, qualquer característica relevante, qualquer qualidade que ela precisará desenvolver, e se faça a pergunta: Faz diferença ela ser humana ou não? Aposto que a resposta será “não faz” para qualquer dessas perguntas. Realizar isso me deixou em paz com a natureza da personagem.

Dito isso, é claro que muito da forma dela agir, de seu comportamento, é obviamente robótico. Ela vive para obedecer ordens, para se subordinar. Ela não sabe se comportar em sociedade e não tem nenhum trato social. Ela aguarda a autorização até para comer. Isso não necessariamente indica que ela seja um robô; pode ser apenas o resultado de uma vida inteira devotada apenas à guerra, à batalha, ao exército e à hierarquia. Há que se considerar ainda que ela é supostamente jovem, menor de idade – por isso deveria ter ficado sob tutela da família Evergarden. Sobre eles, aliás, sobre eles não, permita-me dar uma volta panorâmica sobre o mundo do anime.

O cenário de Violet Evergarden é vitoriano, embora uniformes e tecnologia bélica em geral pareçam já eduardianos, da época da Primeira Guerra Mundial. O relevante aqui é que a Era Vitoriana (e também a Eduardiana, apesar de alguns progressos sociais) foi um período bastante conservador nos costumes. Quando alguém fala em “puritanismo”, frequentemente está se referindo à práticas morais surgidas ou reforçadas nessa época. Assim, uma declaração de amor direta, mesmo que em um campo de guerra, sem nenhuma cerimônia, seria visto como um ato recriminável. O que não quer dizer que não se comunicassem sentimentos românticos ou mesmo que não se trocassem mensagens que de outro modo seriam recrimináveis de todos os tipos, até mesmo eróticas – apenas não poderia ser algo direto. Uma forma de fazer isso, por exemplo, era através de cartas. Outra era através da linguagem das flores.

E no anime temos Violet querendo trabalhar escrevendo cartas para os outros, para transmitir seus sentimentos. Nada é à toa. Esse é o primeiro passo de seu desenvolvimento pessoal, a primeira decisão em sua vida que ela tomou por conta própria. Sendo ela mesma uma “flor”, Violet também transmite o que pensa e o que sente de forma direta. Ela entendeu o que ia no íntimo do coração da senhora Tiffany Evergarden: ela própria estava enlutada após a guerra por causa da morte do filho e queria preencher esse vazio com Violet. A protagonista rejeitou-a completamente. Como Violet não é, de verdade, uma violeta, e mesmo depois de ter ouvido da anfitriã que poderia falar tudo o que quisesse, sua honestidade foi vista como inapropriada, como rude, e os Evergarden não mais a querem morando com ela, embora pretendam honrar o compromisso com Gilbert de acolher, de alguma forma, a garota.

Violet é rude com a Senhora Evergarden

Violet se mostrou impressionada com a capacidade de Cattleya, uma das bonecas que trabalham na agência, de entender o coração de outra pessoa, mas ela provavelmente possui essa capacidade também. Tanto faz se ela for humana ou não. Talvez ela ainda não perceba isso totalmente. Talvez ela esteja negando para si mesma o seu verdadeiro sentimento em relação ao finado Gilbert, e talvez ela esteja negando para si mesma o que ouviu dele naquele fatídico dia em que se separaram derradeiramente. Assumir essas verdades seria doloroso demais, pois seria admitir a derrota, uma vez que seu amor é impossível. Mas ela vai precisar fazer isso. E fará, eventualmente, com a ajuda de seus novos colegas e de desconhecidos que irão abrir seus corações para ela.

Um robô pode chorar?

  1. Caramba… o que dizer
    Gostei muito, a sensação que tive vendo o anime foi muito boa, a animação dispensa comentários.
    De fato acho que a questão dela ser uma humana, robô, ciborgue ou alguma outra coisa, não tem a relevância pro que foi apresentado ali, achei que o amor vai ser a temática a ser abordada, os significados, abrangendo-o de variadas formas.
    Com o decorrer do anime ela vai desenvolver a capacidade de interpretar tais sentimentos.
    Gostei demais.
    Ótimas primeiras impressões Fábio, o texto tava muito bom como sempre.
    Sobre a Netflix, gostei da versão dublada, vale a pena conferir.
    Flw

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Talvez eu assista alguns episódios dublados na Netflix só para comparar, hehe. De todo modo, fico feliz que tenhamos mais uma boa opção para assistir animes no país, e uma mais acessível (porque muita gente já tem Netflix, é mais fácil assistirem algo de um serviço que já assinam do que assinarem um serviço diferente só para assistir).

      E fico mais feliz ainda que tenha gostado do meu artigo! =)

      Obrigado pela visita e pelo comentário, volte sempre!

      Vou te contar e você vai ser o primeiro que não é da equipe do blog a saber: vou cobrir Violet Evergarden aqui no Anime21, com artigos sobre cada um de seus episódios =)

      • Vou acompanhar seus artigos de Violet Evergarden aqui no Anime21 toda semana.
        De fato, acho que vai ser mais acessível para outras pessoas, muitas não gosta de ver algo legendado, eu até venho indicado bastante Violet pra outras pessoas que não é familiarizada com animação japonesa justamente por causa da dublagem, espero que tenha bastante investimento nesse seguimento aqui no nosso país, com o sucesso que é o streaming atualmente a tendencia é inovar também, sempre haverá mudanças.
        vlw

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Obrigado pela confiança no nosso trabalho! E se gostar do que ler, indique também o blog para seus amigos? =D

  2. oi gostei muito do seu artigo mas tenho uma duvida, as moças que escrevem cartas são mesmo robos? Achei que eram humanas, porque eu assisti legendado e elas são chamadas de autônomas autômatas, algo assim, mas eu achei que era só a posição delas ou coisa do tipo

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Elas são chamadas de “dolls”, bonecas. Pela sinopse da light novel (é só sinopse, então não é spoiler, certo?), um certo cientista as criou para ajudar sua esposa cega a escrever livros. Depois foram mais desenvolvidas e passaram a ser alugadas. Como foram feitas para entender sentimentos, são capazes de agir basicamente como seres humanos. Ou isso foi o que eu entendi. Mas se me perguntar só pelo que vi na tela, elas realmente não parecem nada com máquinas…

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

  3. MARCOS ANTONIO DE OLIVEIRA SOUZA

    PERFEITO! A trama o enredo, muito bom. daria 9,9
    momentos de choro sim, momentos de alegrias. Amine forte e suave ao mesmo tempo.
    Muito bom muito bom

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      As histórias que a Violet ajuda a contar e as pessoas que ela ajuda a resolver seus problemas são incríveis mesmo. A história da própria Violet … nem tanto. Acho que a resolução foi arrastada, melodramática demais, para uma história sobre comunicação, as histórias da Violet sobre a Violet comunicaram bem pouco, e as cenas de ação são pura vergonha alheia.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

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