Bom dia!

No artigo de primeiras impressões eu prometi que cobriria Psycho-Pass 3, e cobrir Psycho-Pass 3 estou começando.

Serão apenas 8 episódios, mas todos de dupla duração, o que vale por 16 episódios “normais” – tempo total intermediário entre a primeira temporada, que teve 22 episódios, e a segunda, que teve 11.

E nesse segundo episódio teve o encerramento do primeiro caso e o começo do segundo. Teve Kougami e Ginoza (e Frederica). Teve a confirmação da situação da Akane, mas ainda mantendo o mistério de como chegou-se a tanto.

Teve mais cenas e diálogos crípticos entre os jogadores (??) do “roundrobin”, ou “bifrost”, ou sei lá eu, e mais divertido de tudo, teve uma sensacional animação explicando como ocorre uma bolha imobiliária nos moldes da Crise Mundial de 2008.

As causas e como aconteceu a Crise de 2008 não são nada muito difícil ou complexo de entender, mas, como a maioria dos temas macroeconômicos, costuma ser muito mal explicada para a população geral. Mesmo em matérias que fogem do jargão e usam termos mais simples o tom costuma ser entediantemente burocrático.

Isso não funciona dentro de um anime. Psycho-Pass 3 apresentou uma divertidíssima animação que foi ao mesmo tempo fácil de entender e razoavelmente completa.

O ENEM é hoje, será que muita gente que vai prestar assistiu a esse episódio? Vai que cai na prova.

 

Essa animação é uma graça

 

Eu não consigo me segurar então preciso escrever a minha própria explicação também. Vou ser bastante sintético porque o anime já fez muito melhor do que eu sou capaz de todo modo.

A Crise de 2008 foi uma crise imobiliária. Havia muito crédito disponível e os bancos emprestaram todo esse dinheiro gostosamente, inclusive para muitas pessoas que normalmente não teriam condições de pagar – nesses casos os juros eram muito maiores.

Como os preços dos imóveis vinham subindo, isso era suficiente para que tudo funcionasse: mesmo sem renda, alguém poderia tomar um empréstimo, comprar uma casa, vendê-la quando valorizasse, pagar o empréstimo e ainda sair lucrando. O lucro era reinvestido da mesma forma. É uma aposta no constante aumento dos preços dos imóveis.

E se os preços começarem a cair, como aconteceu a partir de 2006? Daí quem não tem renda não consegue mais pagar e o banco que emprestou fica cheio de créditos podres, recursos que ele nunca mais irá reaver.

O que transformou uma crise imobiliária americana em uma crise financeira mundial foi que, como o anime explicou, os bancos emitiram títulos tendo como garantia justamente esses empréstimos, que mais tarde se tornariam podres. Por motivos ainda mal compreendidos, esses títulos foram considerados seguros e rodaram o mundo, adquiridos por diversas instituições financeiras que, assim, investiam no mercado imobiliário americano.

A Crise de 2008 é considerada a maior crise econômica mundial desde a Crise de 1929, e se não for abusar muito de sua paciência, vou explicá-la brevemente também, porque foram eventos bastante distintos.

Se a Crise de 2008 foi uma crise imobiliária, a de 1929 foi uma crise de superprodução. Após a Primeira Guerra, as economias europeias e seus parques industriais estavam em frangalhos. Assim, as exportações americanas passaram a suprir as necessidades dos mercados europeus, o que garantiu enorme crescimento econômico para as indústrias americanas. Isso levou a um aumento da produção.

Quando as economias europeias começaram a se recuperar e assim importar menos dos Estados Unidos, de repente se estava produzindo mais do que a demanda poderia comprar. Produtos começaram a desvalorizar, empresas começaram a ter prejuízos, e, na Quinta-Feira Negra, em 24 de Outubro de 1929, houve uma enorme desvalorização das empresas na Bolsa de Valores de Nova Iorque, conforme a maioria dos investidores vendia suas ações.

Empresas faliram, trabalhadores foram demitidos, a deflação acelerou e em pouco tempo a crise varreu o mundo industrializado.

A Crise de 1929 foi uma clássica crise de superprodução, um tipo de crise que foi conceitualizada primeiro por Marx, que previu, então, que elas seriam cíclicas, por causa da natureza do sistema capitalista.

A ideia de crises de superprodução cíclicas foi superada pela própria realidade, dado que nunca mais se viu algo da magnitude de 1929. Mas houve outros tipos de crises, como a de 2008, e a teoria evoluiu para abraçar qualquer tipo de crise econômica como parte de um ciclo de crises inerente ao sistema capitalista.

Se isso é ou não necessariamente verdadeiro não importa, porque o relevante aqui é que parece ser a posição de Psycho-Pass, em todo caso.

Outra crise, de característica similar a de 2008, teria acontecido em algum momento do século 21, e essa Mãe de Todas as Crises teria degringolado em um conflito de escala provavelmente global, que deixou o mundo em ruínas, tendo o isolacionista Japão sobrevivido como único oásis de prosperidade. O Sistema Sibyla entraria em operação depois.

Esse mundo em calamidade não é visto, apenas mencionado, nas duas temporadas anteriores. Mas no Filme e no Sinners 2 e 3 ele dá as caras – e a coisa está mesmo uma lástima. Kougami passou alguns anos como rebelde auxiliando povos pela Ásia a conquistar sua liberdade, uma espécie de Che Guevara versão anime cyberpunk, e nessa temporada está de volta.

 

Kougami luta contra dois executores ao mesmo tempo, enquanto Ginoza lutava contra Kei

 

E voltou em grande estilo! Sendo justo, ele e o Ginoza só precisavam ter explicado que prenderiam o sujeitinho que planejou o assassinato do primeiro episódio, mas não teria sido tão legal quanto vê-los trocarem sopapos com Kei, Kazumichi e Tenma. Essa temporada não é do Kougami, não devemos ter muito tempo de tela para vê-lo e ao Ginoza em ação, então cada oportunidade é preciosa, suponho.

O cara que todos estavam atrás, um tal de Sasagawa, queria justamente provocar uma bolha imobiliária nos moldes da Crise de 2008. Como ele sabia o que estava fazendo desde o começo, pretendia deixá-la estourar, com todos os efeitos negativos que isso provocaria, mas o seu lucro estaria garantido.

Não pareceu, no final das contas, que ele estivesse diretamente relacionado aos grandes vilões da temporada, que por enquanto estou assumindo que são aquelas pessoas naquele ambiente virtual maluco fazendo apostas financeiras.

 

O responsável pela bolha imobiliária e pelo assassinato do primeiro episódio é preso por agentes do Ministério de Assuntos Estrangeiros

 

Me pareceu, isso sim, é que eles aqueles caras do Bifrost (Roundrobin?) têm uma rede de informações que escapa aos olhos até mesmo de Sibyla e a usam para fazer seu jogo.

Daí o episódio moveu-se para outro caso totalmente diferente e eu achei que ficou bastante estranho. Um episódio duplo é legal, mas se ele parecer que é apenas dois episódios normais colados nem tanto, e tão pior quando os episódios em questão parecem ser de arcos diferentes, como foi o caso dessa vez.

Em todo caso, estamos apenas no começo. Psycho-Pass costuma ter um formato bastante episódico no começo, para mais ou menos a partir da metade começar a mostrar de que forma tudo estava conectado.

Podemos tentar adivinhar os segredos de seus mistérios, mas no mais das vezes isso será improdutivo porque muita coisa é revelada apenas na hora em que é descoberta, com pouca ou nenhuma pista antes. É um thriller policial. O que eu sei que não vai me impedir nem a ninguém de fazer as perguntas e tentar obter respostas, não é?

Até o momento, esses são os grandes segredos dessa temporada de Psycho-Pass:

 

Akane está presa, mas continua tendo contato com o mundo exterior. Com quem?

 

Por que Akane foi presa? Só consigo imaginar que tenha sido porque ela quis. Ao final da primeira temporada ela descobriu a terrível verdade sobre Sibyla e mesmo assim não mudou sua forma de agir ou seus objetivos. Com efeito, ela usou sua posição privilegiada para tentar influenciar no sistema, com razoável sucesso.

Sibyla só estaria mais feliz com ela se Akane aceitasse passar a fazer parte da matriz de cérebros que compõe o núcleo de seu superprocessador. E se quisesse se livrar dela, teria o feito antes. Ou pelo menos não a teria deixado presa.

Isso tudo considerado, mais o pouco que temos ouvido direto de Akane, me faz crer que ela não acredita mais em conviver com esse sistema – pelo menos, não sem que toda a população saiba e concorde com ele. A única coisa possível a se fazer com alguém assim é tirá-la do convívio público.

 

Ainda não entendi bulhufas do que essas caras fazem

 

O que querem os apostadores de Bifrost/Roundrobin? Eu tendo a achar que eles não têm nenhum objetivo. Como apostadores, estão nessa apenas pela emoção e, talvez, pelos lucros. O sistema em si pelo menos não deve ter um plano maior ou um projeto de poder, embora alguns de seus jogadores talvez possam acalentar tais planos e projetos.

 

Arata Shindo, filho do ex-Ministro do Bem-Estar Social, pesquisando sobre seu pai (e Akane)

 

O que aconteceu com o pai do Arata? Bom, essa é fácil: ele morreu. Mistério encerrado. Ok, na verdade não era esse o mistério em si, mas sim as circunstâncias que levaram a isso, bem como no que isso influi nos objetivos de Arata hoje.

Se eu entendi direito, ele era justamente o Ministro do Bem-Estar Social, ao qual o Departamento de Segurança Pública está vinculado. Ou seja, é o ministério do Sistema Sibyla. Provavelmente a história dele tem muito a ver com a história de Akane, e terá muito a ver com a história de Arata, que pode até acabar se tornando um antagonista nessa temporada.

Ele fica com o olho sinistramente vermelho quando usa a Dominator, a na animação de abertura ele e Kei aparecem apontando suas armas um para o outro.

 

Karina Komiya, ex-idol e atual candidata política, um ex-psicólogo de sua equipe morreu tentando fugir do hotel onde estava preso, em tratamento

 

Mas tudo isso a gente vai demorar a descobrir, provavelmente. Por enquanto, o que temos é o caso da vez, um psicólogo morto que trabalhava na equipe de uma ex-idol e atual candidata a governadora provincial (ou algo assim).

De várias formas o episódio parece querer que acreditemos que a candidata é a responsável pelo crime, mas não sei se estou convencido.

Ele parecia bastante fiel a ela. De fato, parece que ele fugiu (e acabou morrendo) porque pretendia avisá-la de algo. Queria ajudá-la. Queria protegê-la. Mas por enquanto sabe-se muito pouco sobre isso, e o candidato adversário, um ex-lutador, não parece o tipo de pessoa que seria culpada de nada.

E CADÊ A YAYOI??

 

  1. E aí peoples, Grande “Mexicano” na área de novo Gracias a Dios!!!

    Bem anime é anime e história é história (tô chatão lá em Babylon). Não vou aqui discutir economia política em um forum que não é para isso. Mas não deixando a peteca cair, 1929 foi uma crise de alavancagem (as pessoas apostavam que o rendimento de um ativo seria maior que os juros de captação) e deixar de dizer que 2008 foi também uma crise de alavancagem (as pessoas, neste caso as “pessoas” eram bancos que, apostavam que o rendimento de um ativo seria maior que os juros de captação). Qualquer dúvida cartas a esta redação….

    E vamos a PP3, como sempre e típico em PP, pretensioso, grandioso e…Sempre com momentos “Deus ex machina” (em PP3 ainda a ver, mas não me surpreenderia se acontecesse). Mas a gente gosta e com resenha do Fabião que é um azougue no assunto fica melhor ainda!

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá James! Já notou que estou tentando colocar os comentários em dia, né? Tenho vários artigos para fazer e também estou procurando emprego, então peço que tenha pena de mim, por favor 😂

      Alavancagem é um jargão legal, né? A coisa é que “alavancagem” não é algo com existência concreta, é um tipo de operação com valores que já são em si abstratos, ligados eles sim, finalmente, a coisas do mundo real. Não sou economista, mas apostaria que toda bolha é causada por algum tipo de “alavancagem”.

      O que diferencia a alavancagem de 1929 e a de 2008? O bem alavancado. Em 1929 se apostava no crescimento das empresas, garantido por sua produção crescente. A bolha estourou, crise de superprodução.

      Em 2008 se apostou na valorização sem fim dos imóveis nos EUA. Bolhas imobiliárias não são de todo incomuns e os EUA já são um país calejado para lidar com qualquer tipo de bolhas (a Bolha da Internet estourou anos antes sem maiores consequências). O problema foram os instrumentos financeiros utilizados para esconder a bolha imobiliária, fazendo créditos de má qualidade passarem por créditos de excelente qualidade. Com isso, sobrou dinheiro para apostar na bolha e ela inflou mais do que seria possível para empresas e governos suportarem sem maiores consequências. Enfim, a bolha estourou, e a crise era sim imobiliária.

      Agora vamos continuar acompanhando Psycho-Pass, a franquia cyberpunk da década 😊

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

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