Rin em destaque do começo ao fim. No episódio nove de Blade presenciamos uma saga completa de desenvolvimento, ou melhor, estabelecimento, da determinação inquebrantável de nossa protagonista. Mais do que vingança, ela deseja enfrentar a realidade e a brutalidade humana. Anotsu pode ser alguém mais complexo do que ela esperava, e ela mesma se depara com uma complexidade particular que nunca imaginou existir em si.

 

 

O líder da Itto-Ryu foi bem-sucedido em enganar a Mugai-Ryu. Seu plano exitoso garantiu que esse cruzasse a barreira migratória em destino a Kaga, e devido a informações mal contadas e enviesadas por parte de Abayama, o “braço direito” do bando, o espião infiltrado da Mugai-Ryu não foi capaz de coletar ou fornecer dados suficientemente precisos para que o grupo da Mugai-Ryu emboscasse Anotsu. Entretanto, embora o anime não explicite, o preço pago pela Itto-Ryo para efetivar o seu plano custou muito caro. Não menos do que nove de seus membros foram assassinados, e mesmo uma das garotas disfarçadas que serviram de isca para os perseguidores acabou perdendo uma perna e, até o momento presente da história, se encontra à beira da morte.

 

 

Rin está abalada após todos esses eventos, fisicamente ferida, mas psicologicamente inconformada. Ela coloca em mente que precisa a qualquer custo se reencontrar com Anotsu, e mais uma vez se precipita por uma inconsequente escolha egoísta e afobada. Abandona Manji para perseguir o seu alvo, descobre as consequências tardias do ato efetuado por Shira no episódio anterior; entra em pânico por um momento ao compreender que a sua própria cabeça, junto com a de Manji, está a prêmio. Eles não são culpados pelas atrocidades cometidas pelo membro da Mugai-Ryu, mas as testemunhas da cena, como foi bem destacado ao final do episódio passado, assim relataram às autoridades.

 

 

Rin recorre à cozinheira, prostituta e nova amiga, para entender se é possível cruzar o posto de inspeção e adentrar na província, e ela sabe que somente ela tem alguma chance de conseguir efetivar essa ação. Embora eu particularmente ache que a Ryakurin até poderia conseguir, ou mesmo quem sabe o misterioso chefe e financiador do grupo poderia conseguir os documentos necessários para que algum deles cruzasse esse posto de inspeção, mas como existem muitas coisas que ainda não sabemos sobre esse misterioso grupo e o seu obscuro líder, é compreensível que essa opção aparentemente não seja factível.

 

 

Complementando as informações de que Rin necessita, Gyiti, em um encontro fortuito para com ela, cede aquilo que descobriu no decorrer de sua caçada aos membros da Itto-Ryu. Essa cena é importante, pois, para além de direcionar a moça exatamente para o local em Kaga em que Anotsu deve se estabelecer, nos mostra o mercenário carregando a cabeça de um dos integrantes do bando da Itto-Ryo, a qual vale, como já antes mencionado, cerca de 1,5 ryos. Isso coloca em destaque a principal motivação do grupo, que diferentemente da motivação de Rin, não tem nenhum lastro com o fator vingança, mas sim dá a entender que é apenas um trabalho como qualquer outro.

 

 

Embora essa saga da Rin seja organizada de modo bem diferente no mangá, a escolha de condensar todos os momentos em uma única sequência, oferecendo completo destaque para o conjunto de eventos que ela protagoniza para adentrar em Kaga, foi uma ótima escolha por parte do diretor e da equipe do anime e, ainda mais, foi belamente executada. O vínculo criado com os “coiotes”, moradores da região fronteiriça que costumavam atravessar pessoas pelo posto de controle, foi muito bem desenvolvido e apresentado, e é impressionante o quando um único episódio conseguiu transmitir adequadamente toda a gama de tensão e complexidade que essa travessia envolve.

 

 

Rin consegue materializar feitos incríveis, os quais são conquistados através de sua convicção inabalável. Sua determinação transborda em cada um de seus gestos, sinceros e comoventes, com os quais ela convence o casal, Sato e Nakaya, que mesmo estando hesitantes, concordam em ajudá-la a atravessar o posto de controle da estrada principal de Edo, chamado de Portão Kotoboke. Eles bem sabem da rigidez, sagacidade e profissionalismo já tradicionalmente estabelecidos em relação aos oficiais que ali desempenham a função de inspeção e controle no fluxo de pessoas.

 

 

O plano é simples, uma vez acolhida pelo casal, Rin precisa se passar por uma parente de um deles, pois os moradores locais podem transitar sem documentos pela estrada que o portão gerencia. É um ato arriscado, já que ela não é uma moradora do local e não é conhecida pelos guardas. Ainda mais devido ao agravante de que, há alguns anos, o casal em questão fracassou em sua missão, o que custou a vida de uma de suas clientes e quase levou à ruína a própria estabilidade dos mesmos.

 

 

Adequadamente instruída por Sato, Rin é acompanhada por Nakaya, o seu marido, o qual busca convencer o comissário local de que ela é, na verdade, a irmã mais nova de sua esposa Sato. Desdobra-se um inquérito astuto entre o experiente oficial e a intrépida Rin, em que esta demonstra uma habilidade sem igual na arte da dissuasão, interpretando perfeitamente o papel que acabará de incorporar. Sua atuação é convincente e milimetricamente precisa, pois os guardas locais possuem informações das mais diversas, particulares e corriqueiras, sobre os moradores locais e seus familiares.

 

 

Sem cometer qualquer deslize, Rin responde adequadamente e de forma contundente a todas as provocações do comissário, e mesmo quando obrigada a se expor, devido a uma jogada perspicaz do homem inquiridor, ela revela, sem fraquejar e de forma muito digna, uma cicatriz recém-forjada para ludibriar a qualquer questionamento da veracidade de sua identidade. É uma linda cena.

 

 

Motivada por seu passado trágico, Rin não apenas consegue a liberação de sua passagem no posto de inspeção, mas também a amizade e o laço afetuoso do casal que a ajudou com empenho sem igual, e isso não implica de modo algum em um menor impacto na sua poderosa atuação ao efetuar o convencimento, ou enganação, dos oficiais locais; usando de um blefe irresponsável e de uma camuflagem fugaz, ela conquista o seu objetivo. Um episódio que propositalmente nos direciona o olhar para essa jovem impetuosa e corajosa que cresce a cada momento junto à história que protagoniza.

Esse episódio  possui grandes diferenças em relação a ordem dos acontecimentos em comparação ao mangá. Debato adequadamente estas, entre outras coisas, no vídeo deste Hiperlink.

 

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