“Kotonoha no niwa”, ou “Jardim das palavras”, é um filme animado que foi escrito, dirigido e editado por Makoto Shinkai, dono de obras como “5 centimeter per second” e “Kimi no nawa”.

Neste filme sobre o qual comentarei, o autor utiliza, nos 46 minutos, dos sentimentos que cada personagem carrega dentro de si e a maneira de escapar desse mundo real, para conduzir a história.

“Talvez seja assim,

Como um vago trovão

No céu nublado

Trazendo a chuva

Se for, faz-me companhia?”

Esse tanka*, fala de um dos protagonistas, representa bem o clima que faz parte do cenário nos encontros dos protagonistas, cuja ambientação é o parque Shinjuku Gyoen.

Takao Arizuki é um adolescente de 15 anos que tem o sonho de se tornar um designer de sapatos, porém, devido à dificuldade financeira para pagar o tão desejado curso, trabalha meio período para juntar o dinheiro necessário.

Acredito que para a idade, Takao tem muita certeza do que quer, além de maturidade para correr atrás. Achei admirável ele, tão novo, correr atrás do que almeja, lutando contra as dificuldades. Eu, nos meus 15 anos, sabia o que queria fazer, porém, muito dificilmente o que se quer no início do ensino médio, por exemplo, é o que iremos querer no final da vida escolar. Particularmente, só fui me encontrar no penúltimo ano da faculdade, quando definitivamente tive certeza de que não queria seguir na área em que iria me formar. Imaginando o futuro de Takao, tenho certeza de que ele mudaria muito até o fim da escola, mas acredito que não seria algo que afetaria seu maior sonho.

Yukari Yukino, uma moça de 27 anos, é um mistério ao longo de boa parte da história. Só após metade filme que ela é definitivamente apresentada, em meio a uma confusão, ao telespectador e até mesmo ao Takao.

Os dois possuíam sentimentos diferentes dentro de si, mas uma mesma vontade: fugir da realidade que viviam. O parque e os dias chuvosos (que acabaram se tornando o desejo de ambos para que chegassem), fizeram parte desses encontros sem hora marcada, em que os personagens iam se conhecendo um pouco mais – na verdade a Yukino conhecia mais o Takao, já que ela não falava da sua vida, nem das suas vontades. Para o jovem, ela por meses foi um mistério, mas ele não forçava nada.

Takao queria fugir daquela vida na escola, local do qual julgava não pertencer, acreditava que era perda de tempo estar ali. Ele queria pertencer ao mundo dos adultos, no qual está a Yukino. Em parte, muito provavelmente, para realizar o seu sonho e sair do local onde mora.

Já Yukino, que mais tarde ficamos sabendo que é uma (ex)professora da escola onde Takao estuda, se sente deprimida e frustrada. A vida dela não era boa, e ela se sentia incomodada com isso, mas aparentemente não era capaz de fazer algo para mudar esse fato, apenas fugia. Ela me faz pensar que por mais que queiramos mudar, nem sempre é fácil. É muito mais fácil adiarmos, procurarmos um escape, uma desculpa que seja para não encararmos a realidade.

Em seus encontros, eles vão se ajudando sem nem perceberem que estavam precisando. Ela, ao permitir que ele usasse seu pé como modelo para confeccionar um sapato, estava dando a motivação a mais que ele precisava, dizendo, de certa forma, que acreditava na capacidade dele. Ele, ao descobrir o motivo que a levou a sair da escola e tentar defendê-la, demonstrava, do jeito dele, que estava ao lado dela, e mais que isso, que estaria com ela independente dos dias de chuva:

“Como um vago trovão

Mesmo sem chuva

Depois de chegar até aqui

Ficarei ao seu lado.”

O filme não aprofunda tanto a história entre os dois, nem as características da Yukino, o que não vejo como algo negativo. Até porque o objetivo é mostrar como cada um lida com seus sentimentos: Takao andando, focando naquilo que mais quer, e Yukino parada (inicialmente). Os poucos diálogos refletem bem a monotonia da vida de cada um, mas mesmo na ausência deles podemos entender perfeitamente o que está se passando pelas expressões de cada personagem.

Já adianto que por mais que eles tenham desenvolvido um pelo outro um sentimento amoroso, a história não corre por esse lado. Então não vá esperando algo dramático nesse sentido. É claro que você vai querer os dias de chuva, assim como os protagonistas, mas esse enredo vai muito além de uma relação amorosa. E por ser assim me agradou, pois não fugiu da essência, que era mostrar como cada um ia lidar com as agonias – apresentadas ao longo do filme -, que carregavam dentro de si.

Kotonoha no Niwa é para que pensemos a respeito das emoções que carregamos e como um ombro amigo ou mesmo de um desconhecido (como na história), pode nos ajudar a seguir em frente, assim como ajudar para que acreditemos mais no nosso potencial.

*Tanka é um estilo de poesia japonesa de 31 sílabas. Cada verso tem, respectivamente, os seguintes números de sílabas: 5-7-5-7-7.

Seção curiosidade: Filme também é cultura!

Você pode ter estranhado e até achado um absurdo eu não ter comentado sobre o cenário do filme. Mas eu fiz de propósito, achei que seria mais proveitoso deixar um espaço dedicado exclusivamente às reproduções dos locais que fazem parte da realidade. 

Sendo o que mais me chamou atenção nesse filme, fui surpreendida ao descobrir que aquele cenário realmente existe, e que foi representado tão bem, com ricos detalhes.

Comparando as fotos dá para notar que os traços são praticamente idênticos aos ambientes reais:

Parque Shinjuku Gyoen

Parque Shinjuku Gyoen

 

Para mais fotos, segue a fonte:Today Humor 

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