Love Live! Nijigasaki High School Idol Club (Love Live! Nijigasaki Gakuen School Idol Doukoukai) é o quinto anime e o primeiro da terceira geração da franquia Love Live!, ou para efeitos de classificação, a franquia 2.5, já que Nijigasaki é considerado um “spin-off” que se passa no mesmo universo das outras gerações, mas tem diferenças bem claras, como a atuação solo das idols de maneira nunca antes vista nos animes da franquia e a ausência de uma escola a ser fechada. O anime teve 13 episódios, foi produzido (como sempre) pelo estúdio Sunrise e exibido na temporada de Outono de 2020.

Na história acompanhamos Ayumu Uehara e Yuu Takasaki, duas amigas de infância que em um belo dia presenciam a performance da idol chamada Setsuna Yuki, a então presidente do clube de idols escolares do Colégio Nijigasaki, onde as garotas estudam. Ayumu e Yuu se apaixonam por idols ao verem a performance contagiante de Setsuna e decidem entrar para o clube, que se encontra em hiato. Então, é junto das antigas integrantes que as amigas buscam reaver não só a sala do clube, como também a conexão perdida entre as idos escolares; dando vasão ao sonho que decidiram juntas.

Se conhece os animes da franquia Love Live! esse não precisa de maiores apresentações, se não conhece indico muito que faça isso antes de ver esse, mas se não quiser reforço as duas características que mais diferem esse anime dos outros da franquia; a importância e frequência das atuações solo e a ausência de uma problemática envolvendo a escola das personagens. Aliás, há uma terceira diferença, a figura da líder é dividida entre personagens e não centrada na protagonista como de costume. A Setsuna e a Yuu acabam sendo as verdadeiras líderes do grupo e de formas bastante diferentes.

Porque a Yuu não é idol, ela participa fazendo o trabalho de manager, dando suporte a sua melhor amiga, mas também as outras garotas do clube, o que considerei um grande acerto dessa geração por sobrecarregar menos uma só personagem (como rola um pouco com a Honoka do clássico e a Chika do Sunshine!), dando a oportunidade para vermos alguém de fora dos palcos interagir com as artistas, além de que não é uma má ideia usar a Yuu como uma conexão entre o público e as idols. Se um fã quiser pode se colocar no lugar da Yuu, tendo ideia de como é estar ali próximo as idols.

Enfim, se por um lado evitar o fechamento da escola das personagens é combustível para a empreitada delas no mundo das idols escolares, isso não ocorre nesse anime e acaba criando é um problema: a ausência de problemas. Mesmo que a Setsuna demore um pouco a reviver o clube e hajam as dificuldades habituais para fazer certas coisas, é inegável que o caminho das garotas da Nijigasaki é bem menos tortuoso, restando a nós ver dramas pessoais que na maioria dos casos não rendem tanto, não são tão complexos ou interessantes. O anime passa a sensação de que tudo é meio “fácil”.

Não sei se isso é melhor que o caminhão de adversidades que, por exemplo, o Sunshine! tem, mas assistindo o anime senti falta de uma trama maior, algo que as direcionasse além do desejo de se apresentar bem individualmente. Por outro lado, essa é uma das qualidades da série, as apresentações individuais em sequência das idols ao final dos episódios com certeza foram o ponto alto da maioria deles (talvez de todos) e mostraram toda a qualidade da franquia não só nos quesitos técnicos (montagem das cenas e as próprias canções), como também na capacidade de prover fanservice.

Porque você deve saber, Love Live! tem um jogo mobile de ritmo que reúne uma quantidade enorme de fãs, então a produção merece ser elogiada se pensa nesses fãs, em complementar momentos com elementos pertencentes ao jogo. E isso não significa que ter uma história não é importante, claro que é, sempre será, mas também é importante fazer o anime agradável para seu público principal (e que mantém a franquia como uma das mais rentáveis do Japão).
Nijigasaki é bom em explorar os memes, o fanservice e as referências, etc; só é uma pena que não potencialize isso como o Sunshine! faz (nem dá para perceber qual é meu favorito, né rs).

Na verdade, há uma personagem que torna muitas de suas cenas algo cômico (ainda que às vezes beire o patético hahaha), que é a Kasumi (ou como eu gosto de chamar, Kasumeme). Ela é uma pentelha que enche o saco com sua vaidade e animação, mas ao mesmo tempo é justamente quem mais procura unir o grupo e fazer algo de produtivo com isso. Ela é um ótimo alívio cômico em um anime que nem é sério demais, mas aproveita pouco o potencial que tem para a comédia também por lidar com menos adversidades que a média da franquia. Senti a falta de mais “besteirol” no anime, confesso.

Mas nem tudo são espinhos, as apresentações de canções individuais certamente são um show a parte, tanto pela computação gráfica de melhor qualidade, quanto pela roupagem das cenas e a qualidade das músicas. Acho que do meio para o final as músicas ficaram melhores e acabaram ressoando melhor com o que o drama da personagem foco do episódio queria dizer, tanto é que os melhores episódios vieram a partir do meio; com o ganho de confiança da Rina, a demonstração do lado irmãzona da Kanata e a crise de identidade da Shizuko; menos o medo do palco da Karin, isso já foi mais comum.

De toda forma, o importante é que o anime fez o mínimo no que se refere ao desenvolvimento das personagens, ao menos das outras oito idols do grupo, porque a Ayumu e a Yuu tiveram todo um arco focado em sua amizade, o qual, inusitadamente, botou a Ayumu em um papel similar ao da Yuu do Sunshine! com relação a Chika, a diferença é que a roupagem aqui teve contornos um pouco mais pesados, mais “intensos” por assim dizer. A Ayumu demonstrou um lado mais egoísta do que normalmente se espera de uma idol, mas isso acabou até sendo bom para dar mais variedade a personagem.

Isso no sentido de que a Ayumu não era tão perfeitinha, tão sem graça quanto parecia até ali. Além disso, esse arco de desenvolvimento da relação das amigas também aproveitou uma bola que já havia sido cantada desde os primórdios do anime, o desejo da Yuu de mexer com música, de tocar piano, algo diferente do que ela já fazia ao apoiar as idols e também era um sonho seu, mas certamente algo diferente, algo que não tinha tanta relação apenas com ela. Isso faz ainda mais sentido se vermos que a Yuu não é uma idol e que mesmo tendo esse sonho externo, ainda é algo que pode se conectar as idols.

Não duvido nada que a Yuu acabe compondo para o clube, diria que seria um desperdício se não acontecer. Quanto ao draminha das duas, a caracterização das cenas, o cadenciamento dos momentos entre a apresentação do problema e sua resolução e o próprio desfecho foram muito bem feitinhos, talvez tenham sido os episódios mais bem dirigidos (o 11 e o 12) do anime e, honestamente, fazia mais sentido que fosse assim, porque eram os momentos que mais exigiam esses toques artísticos, nada tão acima da média assim, mas certamente acima da média para o que foi o anime até ali.

Enfim, sobre as personagens não tenho muito o que reclamar, mas também não tenho muito o que elogiar. Achei que foi meio bobo o exagero na sonolência da Kanata, por outro lado gostei da vibração positiva que a Ai tem, mas acho que ela foi subaproveitada. A amizade da Emma e da Karin também me agradou, mas acho que faltou personalidade a Emma, ela é muito boazinha e sem graça. A presidente otaku já foi um acerto, a comicidade e falta de confiança humanizou bastante essa figura cativa na série. Além disso, os pequenos núcleos afetivos foram até lembrados no fina, mas poderiam ter sido mais explorados.

Com a Shizuku, a atriz do clube de teatro, por exemplo, só deu para entender que a mais próxima a ela era a Kasumeme no episódio dela, antes a personagem parecia estar ali mais para encher linguiça, como a Kanata que antes do seu episódio era apenas uma bela adormecida cujo maior atrativo é ter a mesma seiyuu da Nezuko de Kimetsu no Yaiba. Não vou me alongar quanto ao cast, mas gostei bastante dele e acho que tem algumas seiyuus excelentes que agregaram demais a franquia; se beneficiando dela para se promover, mas também dando abertura para o surgimento de novos fãs.

Se não me engano o cast de uma geração de Love Live! nunca teve tantas seiyuus já renomadas. Mas voltando ao anime, ele é mais indicado para quem gosta muito da franquia, conhece seus memes próprios, torce para que apareçam em tela e curte o universo idol em si; nada muito diferente de qualquer produção do tipo. O grande diferencial foi mesmo a abordagem menos voltada ao drama (mas também não voltada a nada mais em particular) e focada na individualidade, nas idols primeiro como artistas individuais e só depois, no momentinho final do anime, atuando como um organismo único, vivo, coordenado.

Por fim, Love Live! Nijigasaki High School Idol Club é um anime mais indicado para quem é fã de idols e da própria franquia. Não é o melhor dela, não é mesmo, mas também não é desprezível por isso. Há boas ideias e algumas delas são bem executadas, há boas ideias e algumas delas são mal aproveitadas. Fica o registro de que um objetivo mais bem definido (mais pungente) e/ou uma dificuldade maior (mais complexa) muito provavelmente teria tornado o anime mais interessante para mim. Porém, não sei se esse é o seu caso, então talvez você já se contente com o que as idols escolares da Nijigasaki têm a oferecer.

Até a próxima!

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