Vlad Love é o novo anime original do renomado diretor Mamoru Oshii (Ghost in the Shell, Tenshi no Tamago), a produção é do Production I.G com um tal de estúdio Drive (do qual nunca ouvi falar) e esbanja boa e estilosa animação com muita irreverência.

O anime brinca no ponto certo com os “clichês” do vampirismo, que não precisam mesmo ser seguidos ao pé da letra quando a intenção é simplesmente divertir e Vlad Love fez muito bem isso em sua estreia.

Na história acompanhamos Mitsugu Banba, uma colegial que adora doar sangue. Em um belo dia, em um posto móvel de doação de sangue, ela cruza caminho com Mai Vlad Transylvania, uma bela loira que procura por sangue e se apresenta como uma vampira.

Contrariando um pouco as expectativas, Mai não chupa o sangue de Mitsugu diretamente, mas a colegial a leva para casa e decide ajudá-la, saciando também sua obsessão.

Quando o posto móvel de doação de sangue (que é um ônibus) explodiu do nada pensei com meus botões se o Mamoru Oshii não é uma espécie de Michael Bay japonês, mas vendo o resto do episódio me toquei da blasfêmia.

Só um comentário aleatório antes de falar da estreia de Vlad Love, como americano é aproveitador, né? Michael Bay é produtor de um filme que usa a Covid-19 para vender ingresso nos EUA em meio a uma pandemia que mata demais por lá.

Não vou dizer o nome porque vi o trailer e achei tudo de muito mal gosto, mas é incrível como Hollywood só liga para a grana.

O mesmo não vale para o Japão, que lida com sua indústria de entretenimento de maneira mais responsável em meio a essa pandemia global que estamos vivendo.

Enfim, se Mamoru Oshii é a grande figura por trás do projeto de Vlad Love, isso se justifica já nos primeiros minutos do anime, nos quais fica clara a pegada mais “nonsense” da obra, mas ainda assim muito bem executada.

A produção entende a mídia com a qual está trabalhando e se aproveita bem disso para vender uma história divertida e estranha que não demonstra em nenhum momento a intenção de ser convencional.

Por exemplo, tem alguns momentos em que a protagonista, Mitsugu, sequer parece falar, pois não mexe a boca, mas o que ela pensa é ouvido pela enfermeira da escola e a garota leva umas belas bofetadas por isso.

A própria explosão foi um exagero de forma muito claro (eu só fiquei pensando se as enfermeiras que trabalhavam ali morreram), assim como o trecho em que ela conta seu passado, o qual era para ser dramático, mas acaba sendo é cômico.

Tudo no anime grita para que você não leve a sério e apenas se divirta com a excentricidade das personagens e da trama.

Inclusive, a construção nada ortodoxa do vampirismo de Mai é prova inequívoca dessa predileção da produção em privilegiar o inusitado ao que é mais básico.

Se por um lado Mai tem todas as características de uma pessoa viva, por outro quando vê um membro cheio de sangue para morder a garota libera asas de morcego da cabeça e muda sua expressão.

Seu vampirismo certamente não pode ser considerado “clássico”, mas isso não é relevante, acaba é divertindo mais e o mais legal é que quando convém o roteiro uso do comum para o vampiro (o de tornar outros em vampiro se sugar sangue diretamente) como ferramenta de roteiro.

Mas essa acaba sendo uma ferramenta de roteiro positiva porque dá abertura para a construção de um desenrolar mais interessante e não necessariamente apela a algo que faz pouco ou nenhum sentido.

Mai já é uma vampira “esquisita”, boazinha, então faz sentido que não queira se alimentar diretamente do sangue de uma pessoa a fim de não torná-la uma vampira também.

Isso acaba cruzando com o clichê de “assumir a responsabilidade” que toda hora aparece em animes e mangás, e imagino ser intrínseco a sociedade japonesa, o que acaba facilmente caracterizando a heroína e talvez até facilitando a simpatia do público.

Além disso, convenhamos, esse tipo de anime, mais “descolado”, funciona melhor com um elenco mais vasto e a excelente abertura já mostrou várias garotas que devem se juntar ao dia a dia agitado da Mitsugu e da Mai.

A ideia do clube por si só não fazia muito sentido, mas com a Mai é bem razoável, ainda mais porque, repito, a trama flerta com o absurdo o tempo todo.

A própria enfermeira, Chihiro Chimatsuri, sexy e arrojada (mais próxima de uma mad scientist que de uma doce educadora) corrobora com o absurdo e traz comicidade ao tipo de trama que precisa constantemente desses reforços.

Não tenho dúvidas de que as outras garotas também vão ser bem estranhas, cada uma a sua maneira, e que nem todas devem ter obsessão por doar sangue como a Mitsugu tem, mas vão topar ajudar a alimentar a Mai e se divertir na companhia de uma vampira tão atraente.

Aliás, não fica muito na cara que a Mitsugu se deslumbrou pela Mai, quase que tornando o anime um yuri bait? Seria a Mai o “amo de carnaval” da heroína ou esse amor vai durar?

Veremos, acho que o anime dá abertura para diferentes desenrolares, cada um mais legal que o outro, claro, se a pegada se mantiver divertida e interessante. Ademais, Vlad Love tem mesmo uma ótima direção e isso se prova no entendimento da proposta em seus mais diversos aspectos.

Por exemplo, o “ecchi” do anime é todo usado em prol da comicidade, mas não deixa de existir certo erotismo em uma censura enorme e branca que realça os contornos não censurados e essa sensualidade é bem coerente com a proposta de atração juvenil, desejos carnais e certo tom de mistério que o anime tem.

Um bom anime entende os elementos que quer usar para construir sua trama e consegue trabalhar bem com eles mesmo que a proposta não seja das mais sérias. Inclusive, penso que Vlad Love foi tão agradável para mim em sua estreia justamente por isso, porque não tenta ser sério e sequer finge tem uma grande história além da diversão.

Pode até ter, não descartaria isso, mas não precisa, a história pode ser legal e ser bem divertida como esse episódio foi, mantendo essa roupagem mais moderna e despreocupada de vampirismo no século XXI em um Japão com suas colegiais excêntricas.

O primeiro episódio você encontra com legendas em inglês no canal oficial do anime (é sério, é oficial, pode ir lá ver, só não sei quanto tempo vai estar lá), corroborando com essa pegada mais “descolada” da empreitada.

Para você ter ideia, vai ter um encerramento para o ocidente e outro para o oriente e o anime mesmo só estreia em fevereiro, não respeitando o cronograma padrão de temporada, ainda que tenha 12 episódios programados para essa belezura.

Até a próxima!