The Promised Neverland 2 – ep 10 – Vamos todos viver?
E não é que se tratava de uma falsa traição e a lógica que apontei não se aplicava a situação? Com isso eu me surpreendi, mas ao mesmo tempo foi uma sacada razoável e que corrobora com o que foi Neverland até seu penúltimo ato. No embate de mentes alguém sempre tem que passar a perna em alguém, né?
Dessa vez, foi uma criança (no caso um adolescente e um jovem adulto) que enganaram o Peter Ratri, um adulto, o qual me pareceu subestimar um pouco seus inimigos, pois, pensa aqui comigo, alguém tão inteligente como o Norman realmente atacaria sem um plano sofisticado e uma ou duas cartas na manga?
Ele deveria ter aprendido algo quando o Norman botou abaixo a Lambda. De toda forma, seres humanos são soberbos, adultos ainda mais, então dá para aceitar que ele foi enganado, como dá para aceitar a forma como a situação se desenrolou, ainda que eu vá fazer várias ressalvas. Enfim, vamos ao texto!
O coitado do Phil ficou sem chão ao saber que todos seriam enviados e não teria como ser de outra forma, né? Por mais inteligente que ele seja, ele não sabia do que ocorria fora da casa, então só poderia torcer para a Emma e os outros saberem o que acontecia lá dentro. A sorte dele foi o cérebro privilegiado de seus irmãos.
Porém, não dá para esquecer que esse plano sofisticado que foi montado só foi possível pela informação detalhada das plantas das fazendas, o que até faz sentido que o William Minerva tivesse e passasse a outros revoltos, mas foi extremamente incômodo pela maneira conveniente como tudo se encaixou.
Mas deixando isso de lado, a ideia do plano e a execução em si me agradaram bastante porque eles realmente encurralaram os adultos e os demônios das fazendas, o problema é que a forma relativamente fácil como conseguiram avançar ao elevador para a fuga e as reviravoltas que lá ocorreram me deixaram um pouco incomodado.
Os detalhes do plano e a execução dele foram boas dadas as circunstâncias, mas a maneira como a direção levou a situação foi muito simples, eu esperava mais, honestamente. Por exemplo, se tiver mais uma reviravolta vai ser apenas em um episódio e da forma como esse acabou o que de ruim ainda pode acontecer?
Isso me incomodou, mas antes de focar nisso, posso escrever que gostei do reencontro da Emma com o Phil e do resgate das crianças das outras plantações. O problema é que isso também acabou sendo o mínimo. Ao menos não demoraram tanto tempo com a farsa da mama apontando a arma para seus filhos.
Como escrevi várias vezes desde que começou essa segunda temporada, era bastante previsível que a mama mudasse de lado, até porque, diferente do Ratri, não só ela, mas todas as mamas eram crianças e foram exploradas pelo sistema das fazendas. No fundo, é compreensível que topassem se rebelar.
O problema é que elas não conseguiriam fazer isso sozinhas, então no fim o que elas precisavam é que os demônios fossem restringidos e assim o Peter Ratri, o administrador desse sistema, cairia. Só acho “engraçado” que nenhum demônio das altas castas apareceu para tomar um chá e ver como as coisas estavam.
Isso é um problema da trama original e da falta de tempo ofertado a essa temporada porque no mangá há personagens demônios com alguma relevância e que têm contato com o sistema de abatedouro. O que aconteceu nessa temporada não foi completamente ruim, mas a história perdeu muito em vários pontos.
Inclusive, não acho que a rebelião social sustentada pelo sangue demoníaco da Mujika não faça sentido. Faz, o meu problema com ela é que nenhuma pista foi dada de que aquilo aconteceria, além de que tudo aconteceu rápido demais e por mais que a necessidade de comer carne humana sumisse, com ela o desejo sumiria?
Da maneira como a coisa evolui tão rapidamente fica parecendo que os demônios só precisavam de um empurrãozinho para subverter o sistema e talvez essa ideia em si não seja errada, mas é inegável que as coisas ficam um pouco estranha pelo encaixe. No fim, Neverand iniciou vendendo uma ideia que foi incapaz de manter.
Mesmo que os personagens principais sejam crianças, Neverland nos apresentou a um mundo de verdadeiro horror cheio de mistérios e dificuldades que precisariam demais dos cérebros geniais de seus protagonistas. E eles até o usaram, mas também contaram demais com a “sorte” e com a burrice de seus inimigos.
O lance da caneta, a rebelião com a qual não contavam, a ajuda da mama; e isso só para ficar no que compreende essa reta final. A própria existência da Mujika e do Sonju, assim como o fato deles terem salvado as crianças dos perseguidores, foram coisas que não estavam nos planos da Emma, do Ray e do Norman.
Não que eles também precisassem controlar tudo, mas a quantidade de fatores que superavam a inteligência deles e os levaram a essa situação aparentemente favorável foi demais. Nisso essa segunda temporada “trai” a primeira e se distancia bastante dos ótimos jogos mentais que vimos na primeira temporada.
Repito, gostei do plano, de sua execução e até de seu desfecho, mesmo que ainda precise fazer ressalvas sobre ele. O que pegou foi o que havia por trás disso tudo, que representou uma queda de qualidade considerável em comparação a primeira temporada. Sobre as ressalvas, eu lanço uma pergunta, seria a Emma uma versão piorada do Naruto?
Não sou “Naruteiro” nem nada do tipo, mas até onde sei ele usa o “Discurso no Jutsu” para ficar de boa mesmo com os inimigos, a diferença é que Naruto é gigante, dá tempo de contextualizar o mínimo, e tem porrada. Em Neverland não tem exatamente isso, a Emma apenas não quer que ninguém se ferre com seus planos.
Mas pensar nas vidas dos guardinhas ela não pensou, né? Ou eles só foram desacordados mesmo? Em todo caso, se você se incomodou com o “perdão” que ela oferece ao Peter Ratri, saiba que eu também me incomodei, apesar de concordar que faz sentido com a construção da personagem até aqui.
E isso também me incomodou porque por mais que Neverland tenha crianças como protagonistas, se até Neverland, em que havia a oportunidade de ser menos clichê em alguns pontos chave, não apela ao diferente, eu me pergunto quando veremos um anime que fará isso. Neverland é da Jump, né, talvez eu que tenha criado a expectativa errada…
Não que isso não estivesse no retrovisor, o que pega é que eu também concordo com a Emma sobre evitar mortes, perdoar e tentar seguir em frente; mas acabam exagerando nisso quando em um episódio só ela demonstra ter construído laços com demônios, aceita a mudança de lado da Isabella e estende a mão ao Peter Ratri.
É muita bondade para uma personagem só e se Neverland em algum momento mostrou que seria uma história mais pragmática, mais lógica, a verdade é que a construção foi toda simplória. Nem vou dizer medíocre porque gostei de vários pontos e acho que houveram ótimos momentos, mas nenhuma oportunidade de fazer diferente do comum foi aproveitada.
E essa era uma coisa que só daria para ver no final, pois o que foi trabalhado até esse episódio não impedia de, por exemplo, a Isabella matar o Peter Ratri, um demônio importante aparecer para negociar, se mostrar o minimo que desse base a rebelião cívil que se implantou, etc. No fim, tudo está acabando bem demais e pode ser um problema até se houver uma reviravolta.
Por quê? Porque pode não haver tempo, ou melhor, pode complicar algo que, apesar de ter desembocado em um final medíocre, também não é péssimo. Sim, reconheço que narrativamente esse final é bem pobre, mas não acho que o caminho até aqui seja péssimo. Na verdade, não acho que na soma das temporadas o saldo seja negativo.
Contudo, é inegável que a primeira é a que foi acima da média e a segunda foi vítima da história original, do número pequeno de episódios e, é claro, da falta de coragem do roteiro. A direção não deixou o barco afundar, mas isso foi muito pouco para uma história que prometia e poderia mais. O anime de Neverland deve se encerrar de forma melancólica, quer acabe tão feliz quanto parece que vai acabar ou não.
Por fim, ainda gostei do episódio mesmo com tudo o que escrevi porque acho que não tinha muito o que mudar em sua espinha dorsal, o que pegou foi a covardia em fazer mais, em fazer diferente. Ao mesmo tempo, como isso ocorreria com a construção narrativa feita até aqui? Aquela bullshit do episódio anterior praticamente enterrou qualquer chance de um final acima da média.
E olha que pelos spoilers que peguei nem do final do mangá eu gostei (apesar de não ter visto como se chegou até ele), mas a esperança que tinha de um final melhorzinho foi pelo ralo. Ou melhor, não é nem que o final vai ser ruim, pois dado o que vinha sendo essa segunda temporada ele tem tudo para ser até aceitável, só é uma pena que seja suficientemente bom apenas para uma anime esquecível, o que Neverland deve ser.
Até a próxima!