O reencontro prometido entre irmãos foi mais rápido do que eu esperava, mas não deixou de ser impactante, provendo um clímax razoavelmente digno para o que foi o anime até aqui, mas que claramente não é o final da história, pois além de faltarem dois episódios até o fim do cour, outro sairá daqui uns meses. Isso significa que a ideia passada no final perde peso? Sim. Esse é um problema tão grande? Não.

Antes de mais nada, o protagonistas e os quatro personagens mais participativos morrerem seria um golpe enorme na própria lógica da obra, coisa que só ocorre quando há um suporte a essa proposta ousada, algo que não podemos encontrar apenas na personagem da Lena, e que na verdade não faria sentido narrativo, ao menos não se a ideia for continuar explorando os Eighty-Six e os Albas em algum aspecto.

Para isso, precisamos dos dois protagonistas vivos. Sendo assim, isso significa que todas as mortes de coadjuvantes que se acumularam até aqui não tiveram peso? Errado. Eu consegui simpatizar bastante com a Kaie, assim como com o Daya, que era o par romântico perfeito para a Anju, mas acabou morrendo de forma bastante dramática. Houve peso nas mortes, ainda que tenham sido poucas as relevantes.

Mas é aquilo, foram apenas nove episódios, né? Inclusive, essa é uma fonte de descontentamento para mim porque o volume 1 da novel acaba nesse episódio, o resto é um epílogo bem curto, então ou vão adicionar material nos dois episódios finais ou vão trazer coisas que não foram tão exploradas nos episódios anteriores. Além disso, talvez já introduzam o próximo arco nesse final, o que acharia estranho, talvez até inadequado.

Voltando aos irmãos, eles se reencontram, lutam, fica claro que cada um quer matar o outro por seus motivos, e são bons motivos, mas a luta não é tão longa e nem tão impactante quanto poderia ter sido. Apesar disso, gostei da interferência dos companheiros, ela fez todo sentido e não interferiu no enlace narrativo entre os irmãos, que acabou acertando em um ponto sensível que deve ter incomodado muita gente até aqui.

O choro do Shin, em toda sua demonstração de fragilidade, era necessário para nos mostrar que esse personagem tão cool poderia se abalar com alguma coisa, se abalar ao ponto de desfazer a pose e se entregar de todo o coração. Não havia momento melhor para isso, apesar de eu ter achado que o drama entre os irmãos poderia ter sido melhor explorado, por exemplo, com mais espaço para contextualização.

Ainda assim, deu para entender razoavelmente bem que o Shin queria dar descanso ao que sobrou de seu irmão e ele queria seguir em sua trajetória de vilão que, na verdade, habitava uma zona cinza bem interessante porque ao mesmo tempo em que ele deveria ser recriminado por ter tentado assassinar o próprio irmão caçula, claramente não era uma pessoa “má”, tanto que carregou esse arrependimento até o fim da vida.

Com isso dito, Shin dá descanso ao que sobrou do cérebro do irmão e consegue se libertar da última amarra que o prendia a um mundo cruel, cínico e insustentável. Claro, se não ocorrer nenhuma reviravolta, mas há todo espaço para tal, afinal, pensa comigo, não seria um desperdício dar fim aos Albas depois de tudo que aconteceu? Se tem algo em que 86 ficou devendo foi na contextualização do que levou ao genocídio dos Eighty-Six.

Por outro lado, se tem algo em que 86 acertou o tempo todo, principalmente nesse episódio, foi na construção da heroína, que desde o começo se demonstrava muito bem intencionada, mas pecava demais na compreensão do seu entorno e do que envolvia os Eighty-Six. Dessa vez a Lena foi capaz de lutar contra o sistema usando de artifícios ardilosos, mas nem por isso errados, ainda mais quando vidas humanas estavam em jogo.

Ela entendeu que o sistema não mudaria, mas que não haveria preço real a pagar por transgredi-lo, não para ela que, como qualquer Alba, não teria a sorte (nesse caso o azar) de um Eighty-Six. Diferente da Annette, ela decidiu não se acomodar com sua própria “vilania” e sim agir dentro de seus limites, chegando até mesmo a coagi-la a participar, se aproveitando da culpa que a amiga sentia. A Lena encontrou a sua resposta.

Se ela não pode mudar o mundo, que ao menos faça todo o possível para mudar a vida daqueles que estão a sua frente e ela pode salvar, ou ao menos achava que podia, já que o final do episódio deixou claro que não. Era óbvio que matar o irmão era a última missão que o prendia aquela vida, com a qual os companheiros queriam ajudá-lo. Com isso superado era hora de seguirem em frente rumo à verdadeira liberdade.

Se voltassem seriam enviados em outra missão suicida, não tinham como fugir (ao menos em nenhum momento isso foi indicado) e desejavam eliminar o maior numero de inimigos que desse para atrasar o máximo possível a destruição da República, país que eles podem até odiar, mas no qual foram criados, sabendo que nem todos os Albas são iguais e que a maior derrota de todas seria se vingar fazendo o mesmo que eles.

Se esse desfecho não puder ser considerado lindo por seu simbolismo eu não sei mais o que seria. Shin e os outros avançaram no território do Império dominado pela Legion (foi isso, né?) e seguiram sem perspectiva de volta, abraçando o desconhecido. Isso confere certo peso a narrativa porque a gente pode até saber que eles não devem morrer, que esse desfecho seria anticlimático demais, mas nada na trama “garante” isso.

Digo, a saída pode até ser forçada ou conveniente demais, mas, convenhamos, os detalhes para contextualizar um fato novo já foram dispostos. Os Albas podem não saber da verdade sobre a Legion porque estão embriagados pelo comodismo de uma guerra em que não lutam de verdade, sempre saem ilesos, mas em um cenário no qual as tropas avancem e recolham cérebros em melhor estado, o que não pode acontecer?

O Spearhead, que era formado pelos melhores entre os melhores combatentes, foi reduzido mesmo lutando com Pastores só aqui e ali, imagina com mais Pastores e Pastores mais inteligentes, a ameaça que isso não representa para o continente? O pior é que escrevi que a não interferência internacional mesmo com as atrocidades cometidas na República não fazia sentido, mas olhando para a história e atualidade, será que não faz mesmo?

Infelizmente, a história nos mostra que estamos fadados a cometer os mesmos erros, que é difícil quebra o ciclo. Felizmente, esforços individuais, ainda que raros, nos fazem acreditar que nem tudo está perdido, que da segregação e do ódio também podem surgir a dignidade e o respeito, ou melhor, que essas qualidades podem não ser soterradas. E foi tudo o que nossos heróis fizeram em seus próprios caminhos de “redenção”.

Até a próxima!

P.S.: Nada como uma referência a uma música perfeita para um clímax narrativo, não é mesmo? Ouça Exogenesis: Symphony Pt. 3 (Redemption), o ponto mais alto da sinfonia tripartida da minha banda favorita, Muse. Essa canção tem tudo a ver com o clímax arrasador e triste da primeira temporada de 86.

Comentários