Platinum End – ep 19 – Deus é um conceito através do qual mensuramos a nossa dor
O Dr. Yoneda instituiu o horário político em Platinum End e vamos encurtar o papo aqui, a única proposta sustentável era a do Mirai mesmo, o resto não entendeu a periculosidade da situação, mas você entendeu? Se sim, e se não, a hora de nos debruçarmos sobre ela é agora!
Antes de falar da proposta única e razoável do Mirai, que tal apontarmos os defeitos das propostas dos outros candidatos? Que a direção de Platinum End nunca foi um primor você já sabe, mas colocar um nerd tosco e uma pessoa idosa para concordar com o projeto de L foi dose.
Ficou caricato, e pior, foi ofensivo, até porque a premissa samba na cara desses exemplos ao não ter nenhum nerdola e nenhum idoso entre os candidatos. Além disso, precisava mesmo disso no país com mais suicidas no mundo? Não já está implícito o apoio que isso teria no Japão?
Já a candidata fútil, da qual sequer lembro o nome, foi pior, pois dá uma ideia que agradaria a todo mundo caso ela soubesse como pôr em prática. Falar e repassar a concretização da teoria para um terceiro é cilada, e pior, a proposta dela sequer é possível de realizar?
E aí temos o Susumu, que muito infantilmente pede o fim de coisas que são sim tóxicas, mas mais por culpa de quem usa do que pelo propósito original delas. E nem vou me estender na questão de dar flechas brancas a todos, pareceu criança armamentista porque ter arminha é legal.
Por fim, temos a Saki, ela nos apresenta a um desejo um tanto abstrato e nobre, tão nobre quanto utópico e tolo. Pelo menos ela foi a menos egoísta entre eles, tirando o Mirai, que não exatamente por ter compreendido o quadro geral, e mais por caráter, teve a “melhor” ideia.
A complexidade da resposta simples do Mirai, “Eu não faria nada”, me surpreendeu, mas faz todo sentido, pois entre todos ele sempre foi o mais consciente sobre toda esse lance da disputa e a interferência divina na vida das pessoas, ainda que eu discorde dele em muitas coisas.
Pois mesmo muitas vezes usando do senso comum e caindo em contradição, a verdade é que ele nunca usou os poderes para excessos, sempre demonstrando muita cautela para usar suas flechas vermelhas e nunca usando a flecha branca, nunca agredindo, apenas se defendendo.
Não me parece que o Mirai recusou o “poder transformador” de deus exatamente pelos mesmos motivos do Yoneda, mas ele certamente se deu conta da armadilha embutida. Essa dependência de deus é nociva na medida em que deus é um ser humano na prática e por definição.
Sendo assim, o mais esperto é abrir mão de qualquer mudança a fim de evitar a tirana que essa dependência pode propiciar. Mas claro, isso de acordo com o raciocínio proposto pelo Dr. Yoneda, e com o qual eu concordo. Digo, me parece razoável pensar em deus dessa maneira.
Respeito as crenças das pessoas, respeito e entendo a necessidade de conforto espiritual para o ser humano, de esperança, mas convenhamos, não é ofensivo ou incoerente tomar uma outra rota. imaginar que o inconsciente coletivo tome parte na ideia concreta de um deus existir.
Mas claro, tudo não passa de uma teoria, pois ainda que seja elogiável o desafio de bater de frente com o senso comum, que seria apenas acordar com a existência de deus e dizer amém para tudo o que dizem os anjos, não é impossível que um plot twist aconteça.
O plot twist agora seria a galinha ter vindo antes do ovo e não o contrário, que é o que o anime busca propor. E sim, apesar de simples, esse exemplo é bem eficiente para fazer mesmo o mais leigo entender quais são as ideias que querem ser passadas, até aí tudo bem.
Infelizmente, a animação medíocre para baixo e a própria falta de ações além de diálogos engessaram demais esse episódio, o tornando em ideias mais interessante que todos os demais do anime, não em execução. O cliffhanger, apesar de desajeitado, foi um desafogo nesse sentido.
Voltando ao argumento do doutor (que dá a entender que será no máximo um antagonista, não exatamente um vilão), só discordo dele em um aspecto, nessa ideia de “deus falso” que ele reforça. Se um deus existe, logo ele é verdadeiro, independentemente de sua “origem”.
O que acontece é que a expectativa da humanidade em geral (não segundo os dados do anime, 0,1% de crença real em deus me parece um exagero também) é de que deus preceda a raça humana, que ele defina a existência e não seja definido por ela, seja a criatura e não o criador.
Isso não negativa a existência do deus que deu ordem para começar a disputa, só mudaria a função social que ele tem, o que a longo prazo talvez o tornasse ainda menos relevante do que aparentemente tem se tornado a cada século, não abruptamente, isso só provocaria o caos.
E é pensando nisso que tendo a concordar, pelo menos em parte, com o ponto de vista da Saki, que também é compartilhado pelo Mirai, de que refutar deus e jogá-lo no lixo abruptamente não é uma boa ideia justamente porque o conceito de deus tem uma função até “estratégica”.
Claro, você pode dizer que ele é usado para o controle das massas, mas pensando no indivíduo, com todas as suas dores e angústias, seria de uma violência sem igual arrancar a ideia de deus que muitas pessoas conservam, até pensando em quantos suicídios isso poderia causar.
O Dr. e o L de araque estão dispostos a fazer esse sacrifício, mas é muito fácil quando quem vai se ferrar não é eles, e mesmo se for, eles não ligam. O Mirai já é mais consciente sobre isso, sobre o perigo de quebrar o status quo a fórceps, o que nem todos aceitariam.
Limpar a imagem negativa que o suicídio tem na sociedade é uma coisa, banalizá-lo, até motivá-lo, é outra. E nisso a trama se encaminha para uma polarização quase inevitável, afinal, enquanto o Dr. e o L 2 querem destruir o mundo celestial, o Mirai e as garotas não.
Imagino que o anjo perigoso citado entre os cinco seja a Nase, afinal, ela tem uma personalidade para lá de peculiar, mas, principalmente, ela é o anjo do protagonista. Como ela vai se opor a Muni ainda é um mistério, mas com o envolvimento da sociedade há várias formas de fazer isso.
Aliás, o tiro que o Susumu recebe não só acaba o episódio acrescentando uma nova camada de tensão a trama (apesar da cena em si ter sido bem mal feitinha), como solidificando a interferência desse elemento externo a disputa, mas não exatamente estranho a ela.
Por quê? Porque é o destino da humanidade que está em jogo, então nada mais natural que os interessados se envolvam. E não, o Susumu ter flechas brancas não justifica tomar um tiro, mas ele pode muito bem ser usado de mártir para um dos lados ou até coisa pior.
Por fim, a frase que dá título a este artigo é bem clara e cabe muito bem no que foi debatido nesse episódio, mas ela não é minha, é só minha tradução de um trecho da música God do John Lennon com a Yoko Ono. Sugiro que a ouça, acompanhe a letra e reflita sobre o assunto.
Até a próxima!