Spy x Family – Vamos espiar essa família? – Primeiras impressões
Spy x Family é um anime do Wit Studio em parceria com o estúdio CloverWorks que adapta o mangá de Tatsuya Endou, um mega sucesso da Shonen Jump Plus que é lançado pela Panini no Brasil. Segue abaixo a sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).
“Há décadas, as nações de Ostania e Westalis promovem uma guerra fria sem fim. Para investigar os movimentos do presidente de um importante partido político, Westalis mobiliza Twilight, seu melhor agente, a montar uma família falsa e se infiltrar nos eventos sociais promovidos pela escola do filho do político. Mas por um acaso do destino, Twilight acaba adotando Anya, uma jovem com poderes telepáticos, e se “casando” com Yor, uma assassina profissional! Sem saberem das identidades uns dos outros, este trio incomum vai embarcar em aventuras cheias de surpresas para garantir a paz mundial.”
A apresentação charmosíssima do espião mestre dos disfarces, Twilight, já deu uma palinha do quão impressionante é o protagonista de Spy x Family, além de ter feito uma brincadeirinha sádica com o que seria sua missão seguinte, a Operação Strix.
“Casamento? Felicidade convencional?” Fazer isso, ainda que a princípio como fingimento, deve ser mesmo desafiante para alguém cujo padrão de normalidade é completamente diferente do de uma pessoa dita “normal”. Twilight? Loid? A gente sequer sabe o nome real dele.
Ainda assim, deu para conhecer bastante o personagem por essa estreia, como entender porque a Anya entrou na trama. Aliás, se o Loid é o protagonista, aquele que descasca os pepinos, a personagem principal é a Anya, minha aposta para ser a melhor personagem do ano.
A Anya não é apenas uma garotinha fofa, é uma garotinha fofa que lê mentes e mesmo assim consegue ser atrapalhada o suficiente para no primeiro dia de adoção já fazer o Loid duvidar de sua escolha. E nem vou falar das caras e bocas dela, a Anya é muito expressiva.
Aliás, vou falar sim, pois não é todo dia que uma personagem infantil tem um background tão pesado e ainda assim consegue entregar tanto no quesito comédia e slice of life. A atuação da Atsumi Tanezaki deu vida a Anya fazendo jus a expectativa criada para a personagem.
Sim, sou um dos leitores do mangá, mas não, não estou em dia com ele. Inclusive, talvez só volte a lê-lo após o anime, para apreciar a adaptação em sua plenitude. Adaptação essa que não achei tão boa quanto a própria história, mas boa o suficiente para entregar um episódio espetacular.
E sim, muito disso se deve a Anya, mas não podemos esquecer do Loid, de como é engraçado vê-lo “nas mãos” da pequenina que pode ler sua mente e decifrar todas as suas mentiras, usando essa vantagem como arma a fim de manusear o convívio entre dois estranhos familiares.
Mas por que estranhos familiares? Porque, como o roteiro e a direção fizeram questão de pontuar, eles são mais parecidos do que imaginam, tanto que no final a Anya lembrou o Loid da infância e, por mais que as circunstâncias sejam distintas, ambos são rejeitados por natureza.
Diante de todas essas circunstâncias ver a diligência do Loid para cumprir sua missão é reconfortante. Foi muito engraçado vê-lo sendo desafiado pelo convívio com a Anya ao passo em que se ele ainda não se deixou cativar por ela, foi vencido pelo fato de ser uma criança.
Spy x Family trabalha com essa ideia clichê de que o protagonista quer a paz mundial e é capaz de fazer todos os sacrifícios por ela, mas eu tenho a “ligeira” impressão de que uma hora isso não vai dar muito certo. Por quê? Porque sua família será tudo que ele mais desejará proteger.
Sei que as coisas não são necessariamente excludentes, mas me parece evidente como o convívio entre Loid e Anya, e com a Yor logo mais, vai brincar com essas possibilidades em algum momento, mas não sem antes construir bem o perfil de família inusitada que os Forger são.
Tem um trecho muito engraçado em que o Loid elogia os pais pela missão tão difícil que têm de criar seus filhos, o que é engraçado porque expõe como tem coisas que mesmo o maior espião do mundo não é capaz de fazer, assim como afaga o ego de qualquer pai e mão otakus.
E isso é algo que as interações dele com a Anya fazem muito também, por entregarem muita fofura da heroína, mas também pincelarem as dificuldades do protagonista, sempre nos lembrando que por mais que a Anya seja uma telepata, ela não deixa de ser uma criança.
Uma criança que gosta de série de espião, pistola com silenciador e quer viver as mesmas aventuras do pai, mas com isso os coloca em uma enrascada. É aí que na trama retorna o plot da espionagem e vemos como a leitura de mentes nas mãos de uma criança pode ser um problema.
Mas é claro que a coisa daria certo no final e que essa situação de risco também aproximaria os dois, mesmo com o Loid não sabendo que ela conhece suas mentiras. Mentiras essas que são gentis, de alguém que relembra sua motivação inicial ao se conectar com a criança.
Mesmo sem essa profundidade toda Spy x Family já cativaria pela fofura da heroína, a premissa inusitada e os momentos cômicos leves, mas de contrastes sombrios. O grande barato é que tem profundidade sim, e que com ela vemos essa família ganhando vida pouco a pouco.
O trecho da Anya chorando ao temer ser abandonado enquanto lembrava de como sofria enquanto “ratinho de laboratório” deixa qualquer um angustiado ao ponto em que a sequência climática, dela se deixando impressionar pelos ideais do pai, vem quase como um alívio revigorante.
É como se essa trama fosse tão íntima a todos nós por ter tantos pedaços que já vimos em outras histórias por aí, mas isso não a tornasse um Frankstein, pelo contrário, a tornasse magnífica, emocionante. Repito, mesmo sem a direção ter feito nada demais essa estreia foi excelente.
Por quê? Porque a história é tudo isso aí mesmo que o povo tá falando e faz o mangá ser um sucesso avassalador no Japão, mas também um hype estrondoso aqui no ocidente. E olha que nessa estreia a Yor só aparece na prévia do próximo episódio. Segura aí que a coisa só melhora.
Quanto a parte técnica, a consistência e beleza da animação, além dos breves trechos de luta, não tenho do que reclamar, até porque o mais importante mesmo são as cenas da Anya sendo fofa e divertida, e deu seu pai postiço se tornando um pai de verdade por tabela.
Gostei de como animaram a leitura de mentes da Anya, não tanto da narração, mas entendo a presença dele em alguns momentos. O Franky é o informante/suporte que não pode faltar em qualquer história de espião e foi badass a forma como o Loid pôs o Edgar em xeque.
Aliás, esse Edgar foi retratado de maneira bem caricata, mas aos olhos de uma criança tão sapeca não vejo muito como poderia ter sido diferente. Como a Anya tentando ler as mentes dos concorrentes na hora da prova era uma bola cantada e com a qual ri mesmo assim.
Não que fizesse muito sentido nenhuma das outras crianças saber o que fazer ali, mas o importante naquela cena foi ela lembrar do que fez com o Loid, em mais uma interação com o espião gentil e frio (olha que contradição) que vai se tornando seu pai a cada um desses momentos.
Família não é só laço sanguíneo, nem só convívio, família pode ser várias coisas, o único fator preponderante na equação são os sentimentos envolvidos. Nem sempre bons, mas não se pode ter tudo, né. Nesse caso, a gente não deve ter dúvidas de que não serão ruins.
Como não foi o desempenho da Anya, a primeira conquista do Loid em sua complexa e arriscada missão, algo capaz de fazê-lo relaxar na frente de um monte de pessoas e posteriormente dormir na frente de uma. Ver esse espião fodão desnudando suas fragilidades é irresistível.
Como foi o encerramento, uma bela canção para mais um momento fofo que foi capaz de concluir essa estreia com um pouco de tudo que mais tem em Spy x Family: fofura, comédia e até tensão. Não sou um grande partidário da “instituição” família, mas tem como não amar esses dois?
Dois que logo vão virar três, pois a assassina Yor está a caminho, uma mãe que também tem seus segredos e desafios, mas vai ajudar a compor esse cotidiano maluco que envolve uma missão muito mais desafiadora que a própria paz mundial, a missão de construir uma família.
Até a próxima!