Meu Anjo de Vizinha Me Mima Demais (The Angel Next Door Spoils Me Rotten ou Otonari no Tenshi-sama ni Itsunomanika Dame Ningen ni Sareteita Ken) é um anime de romance e comédia do estúdio Project No.9 que adapta a light novel escrita por Saeki-san e ilustrada por Hamekoto e Kazano Kazutake. Segue abaixo a sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).

 

“Mahiru é um anjo de pessoa – estudiosa, gentil e deslumbrante. Amane, seu vizinho e colega de classe, não poderia ser mais diferente – desleixado e preguiçoso, sua casa é uma pocilga imunda. Mas depois de receber um gesto de gentileza de Amane, Mahiru decide recompensá-lo, e passa a garantir que ele leve uma vida saudável numa casa limpa e com refeições caseiras. Esta é a história de um doce e tímido romance que surge entre dois vizinhos.”

 

Um ato de gentileza pode mudar o mundo? Eu acredito que não, e você? Mas um ato de gentileza pode mudar a vida de uma pessoa? Sim, claro. Meu problema não é com o ato de gentileza que move o coração da heroína, Shiina Mahiru, mas com a recorrência desse padrão.

Sei que muitas vezes as pessoas se apaixonam pelas menores coisas, e não parece ter sido diferente dessa vez, eu só fico pensando em como isso é manjado na ficção, e como a própria trama tenta quebrar um pouco esse padrão com o desinteressado protagonista, Fujimiya Amane.

Ele faz questão de deixar claro que não tem segundas intenções ao se aproximar dela, ou melhor, ao ela se aproximar dele, coisa que a princípio parece mesmo apenas a retribuição de uma gentileza, mas a gente sabe como funcionam os animes, e a ficção em geral, né?

Ele levantar a questão de evitar mal-entendidos e não se aproveitar da boa vontade dela diz muito sobre a boa índole do herói, mas também é outro padrão recorrente na ficção, e dessa vez mais em animes, que é o homem ser mais “bocó” para essas coisas.

Na verdade, não é nem como se ele não tivesse interesse nela, mas é o interesse natural que qualquer garoto teria pela garota mais popular da história, e é diferente de um interesse palpável, pois como ele mesmo define mais tarde, a versão “real” da Shiina o agrada mais.

Diante desse cenário, como não torcer pela dupla? Mesmo se você for novo nesse universo de animes (e o título traduzido para português pela Crunchyroll ajuda a fisgar esse público) é impossível não antever a finalidade de qualquer história de amor por seu desenrolar.

Enfim, a segunda metade dessa estreia aprofundou os laços entre os protagonistas ao nos prover com algumas situações do cotidiano relativamente normais, mas que indicam coisas a mais tanto sobre um, quanto sobre o outro, e eu diria que mais sobre a heroína.

Só alguém com a autoestima muito “contida” para cair nesse papinho de autossatisfação dela, né? No Japão o plot do obentô do crush é velho e deveria ter chamado a atenção dele aqui. Em todo caso, isso pelo menos evidenciou como ele a enxerga de outra forma.

Não à toa até insiste em seu título de anjo, mas aceita parar de falar nisso quando percebe que a está incomodando. A quebra de expectativa da imagem idealizada que tinha da Shiina e o interesse que ela demonstra só para ele fazem a gente estimar mais o protagonista.

Do lado dela, o que sua vulnerabilidade a gentileza dele, mas também ao tratamento comum e relativamente justo que tenta dar a ela, não indica sobre a própria heroína? Sabemos que ela vem de uma “boa família” e teve criação estrita, mas o quanto disso não foi sem amor?

Se sua família é abastada, por que se incomodar em economizar, talvez por não querer se sentir em dívida com quem não conseguiu formar laços mesmo compartilhando do mesmo sangue? E na boa, está na cara que ela não está acostumada a ser tratada com “gentileza.”

Não que as pessoas a tratem mal, mas elas não a veem como alguém além da persona, da fachada, que ela criou e mantém desde pequena. Deve ser um saco ser assim e ter alguém com quem você pode ser você mesma, com qualidades e defeitos, deve ser um alívio.

Além disso, outra coisa muito bacana na dinâmica de interação deles é que ela faz as coisas para ele, mas não é como se ele ticasse parado lá apenas se aproveitando de sua boa vontade. Há um mínimo retorno, e se não isso, ele pelo menos procura fazer as coisas juntos.

Tanto que o “mimar,” em um sentido mais pejorativo, nem se aplica tanto aqui, pois ela não faz nada em excesso para ele, nada que ele não precise ou peça com alguma parcimônia e bom sendo. Resumindo, não cai na caricatura da submissão da mulher ao seu interesse amoroso.

Isso é ótimo, pois dá um tom de seriedade a história, fazendo com que mesmo amparada por clichês e estereótipos, a escrita consiga fazer essa a narrativa ir além, ou melhor, dê a entender que ela pode ir além da paixão nascida no pequeno e inusitado ato do guarda-chuva.

E é aí que pode morar o grande acerto da história, um romance que surge em um pequeno, mas notável, ato de gentileza, mas se consolida no dia a dia, na demonstração desse sentimento através de atos práticos, mas também da conexão emocional com a outra pessoa.

Os trechos do supermercado e da limpeza trabalharam magistralmente em favor disso ao nos passar essa ideia de que ele repara nela como uma mulher, ainda que não carregue segundas intenções em seus atos, conseguindo também fazer de ombro amigo quando preciso.

A quedinha dela e o amparo dele foi bem clichê, mas não estendeu o constrangimento e o contato além do razoável, além de não ter provocado uma reação desmedida em nenhum dos dois, não atrapalhando o desenrolar posterior, que foi a excelente conversa que tiveram.

Ao dividir uma pizza você consegue conhecer um pouquinho mais da pessoa, mudar minimamente suas impressões dela e até apaziguar um pouco de suas temeridades, nos mostrando que mais importante que a fachada é o interior, que pode ser acessado através do diálogo.

Mas para isso o gelo inicial precisava ser quebrado e foi com o ato de gentileza abnegado dele. Por isso escrevi mais acima que creio veementemente que um simples ato de gentileza não pode mudar o mundo, mas quem sabe ele não possa mudar o coração de uma pessoa?

Essa história nos mostra isso e acerta em tom e abordagem como outras já falharam anteriormente. Não é porque se trata de um romcom (uma comédia romântica) que tudo deve ser exagerado e virar piada. Dá para ser engraçado em um tom crível, minimamente verossímil.

Por fim, peço desculpas pela referência boba no título do artigo, agradeço quem leu até aqui e indico demais que você siga assistindo “Meu Anjo de Vizinha Me Mima Demais,” que tem tudo para ser um dos romances mais irresistíveis de sua temporada.

Até a próxima!

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