Tomodachi Game – Amigos, amigos, negócios à parte? – Primeiras impressões
Tomodachi Game é um anime do estúdio Okuruto Noboru que adapta o mangá escrito por Mikoto Yamaguchi e ilustrado por Yuuki Satou. Segue abaixo a sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).
“Yuichi Katagiri é um jovem colegial que aprecia a amizade acima de tudo, e leva uma vida feliz ao lado de seus amigos Shiho, Tenji, Makoto e Yutori… Contudo, um incidente os afunda em dívidas, forçando estes 5 jovens a participar do “Jogo do Amigo”, um jogo onde é preciso confiar plenamente em seus amigos para vencer. Deveria ser uma tarefa fácil para este grupo, mas… Será que eles vão confiar em seus amigos, ou vão trai-los? A verdadeira natureza da humanidade será escancarada nesta obra de disputa psicológica, cujo mangá já vendeu mais de dois milhões de cópias!”
Olha só que raridade, esse anime tem um protagonista mais liso que eu. Falando sério agora, gostei da estreia de Tomodachi Game por ela ter explorado bem a ideia central, que é a importância da confiança e da falta dela, afinal, é isso que move a história de Yuuichi e seus amigos.
Antes de comentar o que realmente importa, que é o jogo, gostaria de chamar atenção para a descrição dos amigos do protagonista. Todos eles são uma coisa e outra que se não é dissonante, pelo menos não é comum. Por exemplo, o cdf ser bom na comunicação, onde já se viu?
Ainda tem o riquinho trapalhão, a certinha casca grossa e a gatinha que sofria bullying. O protagonista seria o pobretão ardiloso? Não que ele seja má pessoa, mas a intenção me pareceu ser caracterizá-lo como alguém desconfiado, não que não tenha motivos para isso também.
Quanto ao jogo, a apresentação do anfitrião, aquele Manabu-kun bizarro, e as próprias regras do game distanciam um pouco Tomodachi Game de outras propostas de jogos mortais, geralmente battle royales, afinal, em nenhum momento foi dito que alguém poderia morrer ali.
Além disso, em nenhum momento vemos nada que confirme o sobrenatural nessa disputa. E tudo gira em torno de dinheiro, então dá para a gente imaginar que matar alguém e correr o risco de atrair a atenção da polícia não seja de interesse dos organizadores do evento.
Em todo caso, o ponto central do jogo é dinheiro, mas exatamente o pagamento ou o aumento da dívida que foi coletada por um deles, mas qual deles? Quanto ao pagamento da taxa de entrada, em algum momento o Manabu-kun deu a entender que ela foi paga conscientemente?
Digo, às vezes em uma história o que não é dito tem mais importância do que é dito, ao menos quando o que não é dito mantém possibilidades diversas. Além, é claro, das pessoas poderem mentir, não é como se devêssemos acreditar em tudo que o Manabu-kun diz não.
Sendo assim, não tenho como discordar da vice-presidente, que fala que eles deveriam confiar um no outro e trabalhar juntos. É claro que ainda pode haver um traidor entre eles, alguém que os colocou em uma roubada e só se preocupa em sanar a própria dívida, mas e se não houver?
Na verdade, o jogo gira em torno da confiança, aquilo que pode tanto ser a fraqueza, quanto a força dos personagens, pois se por um lado apenas confiar um no outro pode garantir a vitória, também pode significar a desgraça dos outros.
E nisso entra o Yuuichi, um adolescente que precisa trabalhar para sobreviver, aparentemente perdeu a mãe e não tem ninguém com quem contar. Ele tem todas as desculpas para desconfiar de alguém que não ele mesmo. Mas será que a dívida não é sua? Quem garante que não?
Digo, ele está na pobreza e a mãe dele o criou para valorizar a amizade em detrimento do dinheiro, algo que quem o ajudou em outro momento valorizava mais. Será que a dívida é da família dele e ele a herdou, cumprindo a condição de participação no jogo sem saber?
Não dá para confiar em quem sequestra cinco adolescentes para participar de um jogo bizarro desses, ainda mais quando o próprio anfitrião da disputa faz bullying com um dos participantes e vira e mexe fala alguma coisa que não compete a quem simplesmente deveria mediar.
Por que estou dizendo isso? Porque é fácil demais acreditar que as condições apresentadas para o protagonista na sua vez de perguntar no jogo da Kokkuri-san foram as mesmas que as dos outros três, ainda mais com o flashback envolvendo a quinta, que não se sente amiga dos outros.
Ao mesmo tempo, a equipe que fica por trás dos bastidores (as bonitonas tagarelas) fala que a quinta carta vai ser diferente, o que só reforça essa minha teoria de que as três primeiras cartas podem muito bem ter dado instruções que confundem quem não conhece seus conteúdos.
Em outro flashback o enredo dá a entender que a vice-presidente gosta do protagonista e conhece um segredo seu, mas não sei em que isso vai ter peso nesse jogo. Em todo caso, o que aviso para você é que deve ter cuidado com as induções que a narrativa tenta fazer o tempo todo.
Porque fomos induzidos a acompanhar tudo pelo ponto de vista do protagonista, alguém que antes mesmo do jogo começar já estava desconfiando dos outros. Repito, olha a vida lascada que ele leva, ele tem motivos para desconfiar dos outros, eu consigo entender ele.
O problema é que, mesmo o entendendo, não consigo deixar de pensar que sua atitude de quebrar as regras, dobrar sua dívida e com isso esticar conscientemente a participação do grupo no jogo tenha sido justamente o que os organizadores queriam. Ele caiu feito patinho.
Pensar no lado da quinta e tomar isso como justificativa é apenas conveniente a fim de dar vazão a sua desconfiança, pois poderia ser o caso de existir uma regra outra na carta dela que virasse o jogo de uma forma inesperada para eles. Acho que o Yuuichi agiu mais por si que por ela.
Por quê? Porque mesmo arriscando o próprio bolso, ele quer porque quer saber se existe mesmo um traidor entre eles e quem é. Diria mais, ele está convicto de que esse traidor existe. E aí fica a grande expectativa para a trama, se ela apresentará um traidor e quando/como fará isso.
Digo e repito, o Tomodachi Game se baseia na confiança, a sinopse diz isso. Sendo assim, sou tentado a imaginar que se ele tivesse confiado nos amigos os cinco se libertariam das dívidas e do jogo, mas ele não faz isso. Aliás, se fizesse nem teríamos história para começo de conversa.
O que acha? Há um traidor ou não? Acho que não. Por quê? Vimos a história pelos olhos do Yuuichi, quem garante que apenas não fomos induzidos a desconfiar como ele? A resposta é “amizade” ou “dinheiro”? Aposto na amizade, vamos ver se o Yuuichi concordará comigo.
Até a próxima!