Death Parade – ep 5 – Controle de qualidade
[sc:review nota=5]
ISO 9000 é pouco para uma instituição responsável pelo destino eterno de todas as almas humanas, por isso suponho que testes como o desse episódio sejam rotineiros. Brincadeiras à parte, esse teste é só a desculpa para revelar um pouco mais sobre a estrutura do lugar, apresentar mais alguns personagens e contar um pouco da história da Mulher de Cabelo Preto e sua relação com Decim.
Um começo incomum (um sonho da Mulher de Cabelo Preto) denuncia que esse não será um episódio padrão de jogos com almas. De fato, ninguém apostou a vida nesse episódio. Muito se pode dizer do sonho da Mulher de Cabelo Preto, e farei isso em breve. Ao acordar, a primeira coisa que ela faz é dizer que vem tendo esse tipo de sonho. Depois ela vai se trocar e ao abrir seu guarda-roupa digno da Turma da Mônica encontra uma única peça de roupa diferente das demais e não se lembra de já tê-la visto antes. Mas não fica pensando muito sobre isso, apenas se arruma e parte para o bar ajudar Decim.
Lá, Decim diz a ela que haverá trabalho e em seguida recebe as memórias das almas que irá julgar, contudo diz haver algo estranho. Isso já era o teste. Um homem e um garoto entraram pelos elevadores, mas o homem era um boneco com memórias falsas (além de maus modos e uma inclinação à violência contra crianças) e o garoto era outro juiz disfarçado: Ginti. Foi mesmo um teste do profissionalismo de Decim. Ele recebeu as memórias de uma das “almas” (o boneco), mas não da outra (daí que ele tivesse achado algo estranho no começo) e por isso, segundo Nona, ele deveria ter cancelado o jogo e ponto final. O que aconteceria caso houvessem duas almas de verdade e as memórias de uma delas não tivessem sido enviadas para o juiz? Não sei se isso será revelado, mas talvez alterem mais uma vez as memórias das almas e tentem reenviá-las para o jogo, vai saber.
Como Decim não cancelou o jogo, Nona o repreendeu. E Ginti tinha suas próprias intenções participando do simulacro também: ele quer que Decim julgue a Mulher de Cabelo Preto logo. Sim, julgá-la. Ela é uma alma de uma humana morta que quando chegou lá não havia perdido a memória de sua morte, razão pela qual não aceitou participar do jogo e Decim não pôde julgá-la. Então ele a fez adormecer e as memórias delas foram todas apagadas enquanto ela trabalha ali e recupera lentamente suas memórias para que Decim possa, então, julgá-la. O último episódio deve ser um jogo onde a Mulher de Cabelo Preto participará, se tudo acontecer como o óbvio dita. Ginti não gosta dessa solução, a despeito dela ter sido aprovada por Nona, e vai até lá só para brigar com Decim. Bom, a briga foi tola, mas isso tudo serviu para apresentar Ginti como um juiz muito mais extrovertido que Decim, com uma mentalidade mais simples e não necessariamente melhor ou pior.
Além de Ginti, outros dois personagens estreiam nesse episódio: Oculus, que se define como o ser mais próximo de ser um deus (e que parece acreditar que deus partiu) e parece ser quem manda em tudo ali, e Castra que parece estar no “departamento de recepção de almas penadas e edição de suas memórias”, ou algo parecido com isso. Dela não tenho muito o que dizer. A própria Nona, que já havia aparecido antes, nesse episódio tem confirmada sua posição de autoridade como gerente dos juízes, e se entendi bem, ela própria já foi uma juíza até ser promovida por Oculus a gerente.
A estrela do episódio e do show, na minha humilde opinião, dormiu durante quase todo o episódio. Começou dormindo, depois foi posta para dormir por Ginti ainda disfarçado de criança, permaneceu assim até quase o fim do episódio quando foi carregada por Decim de volta para sua cama, onde despertou pela segunda vez após ter outro sonho estranho com duas crianças. A garota chamada Chavvot, que é o nome de um livro onde elas são as personagens. A Nona é vista lendo esse livro após os créditos, e os personagens dele, um menino e uma menina, são os bonequinhos de pano que aparecem nas mãos da Mulher de Cabelo Preto no final da abertura. A palavra-chave e única pista do significado disso tudo, que não pode ser menos do que muito importante, é “Chavvot”.
Chavvot Yair é um livro judeu que trata de assuntos religiosos. Não consegui pesquisar a total extensão dos assuntos abordados nesse livro, mas entre outros temas um deles é o aborto e se ele deve ser considerado um pecado como o assassinato. Será a Mulher de Cabelo Preto uma mãe que abortou? Será que o Chavvot que a Nona está lendo e a Mulher está sonhando são suas memórias? Eu já tinha a sensação de que ela era a personagem mais importante, mas esse episódio elevou isso a um nível totalmente diferente: ela é a protagonista e o tema de todo esse anime! Como tal, permita-me especular um pouco mais e afirmar que o tema de encerramento do anime é todo sobre ela e apenas ela. É uma música depressiva de um eu-lírico desesperado, perdido e a ponto de cometer um grande erro – ou depois de já tê-lo cometido. No primeiro momento de mudança de ritmo na música, com uma rosa vermelha em primeiro plano, o verso diz “I don’t want to destroy life” (Eu não quero destruir vida). Parece com um aborto, não parece? O verso seguinte diz respeito à condição amnésica da Mulher de Cabelo Preto: “Remember” (Lembre-se). Fixo nos olhos da boneca – a janela da alma, que é o que está sendo julgado aqui. Então a mão da boneca tenta alcançar a rosa mas se espatifa antes (“I’m not gonna make it”, Eu não vou conseguir). Tudo começa a desmoronar. Em seguida os versos mais desesperados, perguntando se já está acabando, revelando que não consegue ver mais o caminho para prosseguir, e falando da solidão que sente. E daí o verso que considero mais revelador: “My blood is on the ground” (Meu sangue está no chão). Se isso não é um aborto ou suicídio, eu não sei mais o que pode ser! Especulo que a Mulher de Cabelo Negro estava grávida e ou morreu por consequência de um aborto ou se suicidou. E talvez não seja coincidência que a Machiko do primeiro episódio estivesse grávida e que a Mulher de Cabelo Negro tenha se apiedado tanto dela.