Peter Grill to Kenja no Jikan – O “herói” da traição – Primeiras impressões
Peter Grill to Kenja no Jikan é um anime problemático, para dizer o mínimo. Do tipo que eu com certeza malho em uma crítica mas, devo confessar, me “diverte”. Soa contraditório, eu sei, mas humanos são contraditórios para dizer o mínimo, então…
Enfim, nunca traia outra pessoa, fica a dica!
Peter é um guerreiro de um mundo de fantasia que ao vencer um torneio obteve o direito de noivar com a filha do chefão da cidade. O problema já começa daí, mas há sempre a desculpa do mundo de fantasia e melhor, ou pior, ele já namorava com ela anos antes, então o peso negativo de noivar com ela por causa disso meio que “diminui”. Mas diminui mesmo?
Caso ele mantivesse a resistência aos avanços das ogras e não “caísse” na tentação, aí daria para engolir essa construção das coisas, mas como não é o que ocorre e a piada do anime é justamente a traição que vai praticar recorrentemente com a noiva (e você já deve imaginar que o anime vai girar em torno disso), acaba que tanto namorar ela escondido ou tentar não traí-la não serve para nada, foi só enrolação.
Para piorar, a noiva dele é uma santa. Ele teve dois anos para contar a “verdade” para ela, mas não o fez e a libido reprimida pareceu justificar a traição, mas não justifica. A culpa continua sendo toda do homem e acho ainda pior, porque não é nem como se ela o rejeitasse ou também o traísse, Luvilla é apenas a vítima de um noivo que parece bonzinho, mas no fim não é nada diferente de boa parte dos homens. Diria até que ele é pior dadas as circunstâncias, sua falsa moralidade.
Poxa, ele é um guerreiro forte que poderia afastar as garotas de perto de si, mas não foi o que fez. Sei que a tentação é forte e a carne é fraca, mas a carne é o que a pessoa é, trair (ainda mais fazendo “doce” para tanto), não deixa de ser uma escolha, independentemente da influência de um instinto ou de qualquer desculpa esfarrapada que alguém possa querer arranjar e não vai colar comigo.
E olha que nem recrimino a ideia de se relacionar com outros parceiros, beijar outras pessoas ou transar com elas, mas a mentira sim, e ele vai mentir para ela o tempo todo. Quando o anime foi anunciado parei para dar uma olhadinha no mangá e só piora. Peter Grill é um mangá machista que banaliza a traição, o sexo e a confiança entre parceiros. Dane-se que é um mundo de fantasia, sequer contextualizaram a traição e/ou poligamia?
Não, pelo menos não nessa estreia, mas mesmo que façam isso em um episódio posterior não dá para engolir dada sua resistência em trair. Me pareceu que o peso da traição no mundo dele é igual ao que é no nosso e ser esse namorado que trai com a desculpinha da tentação é ridículo. Mas, ainda assim, não vou mentir, me “diverti” com essa porcaria, gosto de ecchi e da complexidade do tema traição, apesar de que o anime deve fazer tudo menos se aprofundar nisso. Vai ser só chifre para todo lado e “comédia”.
Enfim, a animação é bem mediana, a trilha sonora não fedeu nem cheirou (mas ouvi haha), as músicas de abertura e encerramento não encaixaram com as imagens (foi um trabalho bem meia boca), e no máximo posso escrever que o trabalho dos seiyuus foi okay. O ecchi, então, teve aquela censura ridícula e fora ela foi pouco ou nada erótico, com direito a já batida brincadeirinha com o elefante. A produção é bem fraca, mas o que esperar de um plot assim, né?
A cena das irmãs assediando o Peter na rua foi das mais toscas, e o pós-noitada bem qualquer coisa. A história apenas lança a piada e não a explora bem, o que por um lado é bom, a piada é escrota, mas por outro é questionável, nem em ser bom na porcaria que se propõe a fazer o anime é. Decepcionante. Não que eu esperasse alguma coisa de melhor, ainda mais por já ter dado uma olhadinha no mangá, mas é que tentar tornar tudo menos pior do que é só piora.
Se você abomina o machismo nos animes não há o que acrescentar, passe longe desta bomba, e se quiser fazer campanha de difamação até ajudo haha. Mas se você já é mais flexível, até mesmo hipócrita, veja Peter Grill e sofra. Se você não se incomodar aí tem algum problema com você, espero não precisar apontar qual, creio ter ficado claro ao longo do texto.
Até a próxima!
P.S.: A estreia vazou ou saiu mais cedo, não sei, a única diferença para a exibição regular deve ser a censura, então não vai fazer diferença de fato. Talvez assista a versão sem censura porque gosto de ecchi, mas não indico perder mais doze minutos do seu tempo com isso.
ADRIANO DE MEIRA MARTINS
Excelente episódio, muito divertido. Diferente de você tenho outra visão sobre o suposto ‘machismo”. Estamos assistindo uma obra de outro país, outra cultura e muitas pessoas fazem questão de criticar totalmente embasado em sua visão de mundo como se isso fosse certo. Não se pode criticar uma obra cultural de outro país querendo impor sua visão de mundo como se ela fosse a certa e a do outro país é errada. Isso é um novo tipo de colonialismo cultural, uma maneira imperialista de impor sua cultura sobre a outra. Por favor não faça isso, não gostou da obra pela sua visão de mundo? Isso não é um defeito da obra e sim a cultura de um país e merece ser respeitada, mesmo eu não gostando disso e nem vc.
Kakeru17
Olha, o próprio protagonista se recrimina pelo que faz, se ele não acha certo, por que eu acharia?
Mas vamos lá, até onde sei nesse aspecto o Brasil não é tão diferente assim do Japão, não é como se lá houvesse uma cultura que obrigasse as mulheres a aceitar uma traição ou não se separar do parceiro por isso (lá a sociedade também é bastante machista, como a brasileira, mas também vem melhorando, como a brasileira).
O problema do anime é banalizar as ações dos personagens, e nem é só do Peter não, mas também das mulheres que o assediam, apesar de que, como escrevi no artigo, a culpa é dele e de mais ninguém, e ainda sob a desculpa esfarrapada da tentação. Se o anime fizesse um esforço para aprofundar a questão eu me esforçaria para ver um outro lado, mas não tem como, não há contextualização cultural de porcaria alguma para a gente trabalhar com a ideia de que a traição é algo tão menor que não seja passível de recriminação, na verdade, parece exatamente o contrário pela forma desesperada que ele tenta não trair, mas “fraqueja”.
No fim, Peter Grill é a extrapolação de uma indústria machista que banaliza assédio, e agora parece a fim de trazer a banalização da traição aos holofotes, desde muito tempo, talvez desde sua criação, afinal, como toda forma de entretenimento, a indústria dos animes e dos mangás é um reflexo da sociedade, e a sociedade japonesa ainda é machista para burro, caso não saiba.
Não tentei impor minha visão de mundo sobre nada, o problema é que não havia visão de mundo alguma sendo aprofundada no anime (que sequer apresenta uma sociedade minimamente similar a japonesa, mas sim um mundo de fantasia gênerico), apenas a exploração de fetiches dos mais diversos para agradar a um público sim machista, só assim para não ver problema no conteúdo e na forma.
E eu nem desgosto de traição em anime, pelo contrário, um dos animes que mais gosto é Kuzu no Honkai, que chafurda no tema, o problema é tocar no assunto de forma rasa e machista (sempre a buscar limpar a barra do homem e diminuir a gravidade do problema), como animes muitas vezes fazem não só quando tratam de traição, mas de muitas outras coisas.