SK8 the Infinity – Skate way of life – Primeiras impressões
SK∞ (ou SK8 the Infinity) é um anime original do estúdio Bones dirigido por Hiroko Utsumi (Free!, Banana Fish) que trata do skate de uma forma bastante colorida, alto astral e moderninha. Na história conhecemos Reki, um colegial louco por skate que compete em verdadeiros “rachas” e trabalha em uma loja de skate. Em um belo dia ele conhece Langa, um aluno transferido nipocanadense que chega do Canadá para viver no Japão e está atrás de emprego, mas mal sabe ele que se envolver com skatistas o levará a relembrar experiências do passado.
SK8 teve uma animação do c*ralho e por ser do prestigiado estúdio Bones não duvido nada que tanta qualidade se mantenha, mas o principal nem é isso e sim o quanto essa estreia consegue divertir entendendo tão bem a sua proposta. Ao mesmo tempo em que SK8 parece não se levar tão a sério assim, também não se entrega ao absurdo e consegue entreter tendo consistência técnica e narrativa, além de criatividade. Mesmo que não represente uma cena real de skate japonesa, acho que também não ofende por sua pegada mais “lúdica”.
Inclusive, achei a ideia de um verdadeiro racha de skates em um trajeto praticamente plano bem criativa, além de ter toda uma cena underground cercando o evento, passando a ideia de que a coisa pode ser amadora, mas há organização e versatilidade (algo bem claro pela segunda corrida). A competição dar brecha para a trapaça pode parecer que esse pessoal todo não liga para fair play, espírito esportivo e essa coisa toda, mas temos que lembrar que se trata praticamente de uma briga de rua e como tal é de se imaginar que nem sempre o melhor vença, mas sim o mais esperto.
Não desprezar esse aspecto deu uma colorida bacana a situação do espalhafatoso Shadow (seria ele fã do Kiss?) que venceu o sonhador Reki na base da trapaça. Depois há uma chance de “revanche”, mas de maneira bem sagaz isso dá lugar a um desenrolar bem mais interessante, como foi a estilosa e animada abertura que depois de uma introdução dinâmica (com direito a monólogo sobre o que é a felicidade para um skatista em um minuto e corrida no outro) já insere o telespectador na vibe que o anime quer vender. Eu curti, tanto que foi minha estreia favorita da temporada.
Enfim, Langa, o co-protagonista, procura por emprego de meio-período (quem dera existir esse tipo de coisa fácil aqui no Brasil) e encontra na loja de skates do outro protagonista, Reki, mas não sem antes ser introduzido ao skate. Langa não parece ter muita intimidade com a criança, mas depois é revelado que ele até tem, só que com outro tipo de prancha. Foi muita coincidência o cara que não empregou o Langa ser também skatista? Foi, mas quem liga para isso, Cherry é ikemen, estiloso e meio misterioso, o tipo de skatista que a gente espera ver nesse tipo de anime.
Na vida real acho que o perfil padrão (se existe um) de um skatista é bem diferente, mas não é o caso aqui e se notar o tino da pessoa para a coisa mesmo quando ela demonstra falta de aptidão prova um olhar afiado, para lá de afiado, consigo comprar a ideia de que essa galera todo se acha, parecem usuários de Stand, né? Aliás, quem é fã de Jojo deve adorar esse anime, porque ele é bom e também estiloso. Em todo caso, o importante é que o garoto consegue emprego mesmo sem conseguir se segurar em cima de uma prancha, a não ser com os dois pés bem presos.
E antes de comentar a segunda metade, quero elogiar a transição da primeira para ela, pois aproveitou essa pegada cômica e leve, mas ao mesmo tempo compromissada com o gosto pela prática, para brincar um pouco e reforçar uma impressão que me acompanhou por todo o episódio, que a direção se esforçou ao máximo para deixar o telespectador a vontade, para fazer com que ele curtisse o anime quer sua história seja simples demais, até aparentemente boba, e não dê para levar tão a sério coisas como o “desafio a física”, apesar de skate já ser um desafio a ela por si só.
É corroborando com esse respeito ao skate ao mesmo tempo em que dá uma florida, uma modernizada, em aspectos que envolvem a prática, que na interação com o Langa vemos ainda melhor como o Reki gosta do bagulho. Essa ideia acaba tendo uma recompensa interessante no final que vou comentar logo mais, antes eu gostaria de saber como uma corrida secreta tem telões e transmissão em tempo real para celulares, e telas na casa de um esquisitão tarado por skate. Não tem mesmo como levar esse anime 100% a sério e essa foi uma das coisas mais divertidas para mim.
Aliás, a própria ideia da corrida S como ela é, até pela aura que beira ao culto, é meio absurda, mas casa perfeitamente dentro da proposta, porque é divertido e dá uma base na qual o telespectador pode se apegar. Pelo menos nesse início esse cenário deve ser o primeiro desafio aos protagonistas com potencial para que busquem mais, seja ainda ali naquele evento ou em outros, em outros circuitos, em rampas como eu acho que é como as pessoas mais andam de skate quando querem competir umas com as outras. Não tenho certeza, mas era assim na minha infância.
Cansei de ouvir Charlie Brown Jr. e ver o Bob Burnquist destruindo em rampas gigantes quando era moleque e se já tive um skate em casa, mas zero equilíbrio para dominar minimamente a prancha, essa com certeza é a melhor lembrança que tenho relacionada ao objeto e seu uso como ele é. Enfim, o Reki machucado e apressado, animado para ver uma boa corrida de skates, faz uma burrada e isso resulta em algo muito mais divertido do que seria uma revanche dele com o Shadow, até porque ele já tinha tido sua chance, era a vez do Langa dar vazão a principal sacada do anime.
Aliás, muitos animes fazem isso, tentam trazer ideias adversas a fim de tornar interessante algo simples, sobre o qual você como telespectador já nutre uma expectativa. SK8 fez isso muito bem, porque aproximou duas coisas que dividem suas similaridades e ao mesmo tempo têm uma grande diferença. Enquanto o snowboard se desenrola na neve e com os dois pés bem colados na prancha, o skate pode ser usado praticamente em qualquer cenário e permite uma mobilidade maior ao praticante, mas ao mesmo tempo carrega consigo ainda mais instabilidade, mais perigos.
A capacidade do Langa de se adaptar a um terreno diferente pouco após colar seus pés na prancha mostra o talento que ele tem e as cenas nas quais lembra de como se sentia ao praticar snowboard ao se digladiar com o Shadow mostram como curte mesmo a parada, não à toa topou uma corrida meio maluca em uma modalidade que nunca havia praticado antes, mas conseguiu fazê-lo por, repito, haver base de correlação com algo que dominava. É mais ou menos isso que SK8 é, pois por mais que algumas ideias possam parecer absurdas, a associação delas fez total sentido.
A zoeira antes da corrida começar me pegou de jeito, mas com certeza foi a sequência cadenciada no início e eletrizante rumo ao clímax que premiou um episódio muito consistente e divertido. Não vou ficar pagando de zé regrinha aqui e questionar a altura dos verdadeiros voos que o Langa dá para se virar no cenário diferente em que a disputa se resolve, porque o mais importante foi o entretenimento que a sequência provoca; seja pela ótima trilha sonora, pela excelente animação ou pelo próprio ritmo do anime; SK8 mostrou muitas cartas boas para cativar o público.
Por fim, esperava algo bem animado e meio absurdo, mas longe da diversão que tive, e olha que curto skate, mas não sou exatamente entusiasta como sou de futebol, por exemplo. SK8 me cativou porque se leva a sério só quando é preciso, mas não demais, porque quem faz o anime sabe o que pode entregar com a proposta e faz isso com muita qualidade, com muita alegria. É um anime cheio de caras bonitos, várias cores e comédia; mas que não menospreza em nada o prazer e o encanto que o skate pode provocar. E a ED ficou irada, foi mais uma bela sacada entre tantas.
Até a próxima!