[sc:review nota=4]

Esse foi um episódio bastante objetivo, e analisando Yurikuma em retrospecto a história sempre foi relativamente direta. Há sim muito simbolismo, mas é na forma de metáfora visual. A história é o que é: amor entre garotas. Ou entre garota e ursa. Claro que o enredo em si é uma metáfora, mas dentro dele as coisas se desenrolam de forma relativamente objetiva. O que torna o entendimento mais complexo não é o excesso de significados ocultos, mas meramente a narrativa não linear, com enorme quantidade de flashbacks. Agora que já assisti flashbacks suficientes nada mais parece segredo para mim.

Lulu reencontra-se com Kureha, e a situação está uma bagunça na escola porque ainda estão procurando um urso. Lulu explica para Kureha em que consistiu a participação de Ginko no assassinato de Sumika – Ginko meramente se sentia culpada por não ter evitado o ataque quando ela poderia tê-lo feito. Kureha parecia já suspeitar que Ginko não tivesse culpa nenhuma, não só por já ter esclarecido antes a história do assassinato mas por confiar na ursa. Lulu diz que Ginko não impediu o assassinato por ciúme. A mesma razão pela qual Lulu traiu Ginko no final. Ainda que Kureha não pareça mais disposta a matar Ginko, não sei dizer se ela a perdoou. Acho que está disposta a tanto, mas precisa conversar com a Ginko antes. Que pena que a Ginko cedeu ao desejo, à mágoa, ao desespero, e agora ela é quem quer matar Kureha. Mas isso é coisa pro próximo episódio. Nesse, as garotas invisíveis descobriram que a Lulu era uma ursa e fizeram uma emboscada para ela, já supondo que a Kureha a estava protegendo. Com a ajuda de Kureha, Lulu consegue fugir e até mesmo desiste de sua forma de garota para contar mais coisas que podem ser úteis para a Kureha. No final, contudo, quando confrontada por Lulu a perguntando se elas haviam virado amigas, Kureha se sente forçada a mentir para que a ursa nunca mais volte e se exponha mais uma vez a risco.

E isso é importante: Kureha se sente forçada. Yurikuma Arashi é um anime sobre garotas e mulheres sendo forçadas a esconderem sentimentos, gostos, ideias, sendo forçadas pelo grupo a aderirem às regras não escritas da sociedade ou arcarem com o ostracismo, e sendo julgadas pelas escolhas que fazem. Tudo em nome de Kumaria. Ou se me permite a interpretação, Ku- Maria, a virgem santa do amor que impõe a separação entre pessoas e ursos e que as julga quando ousam transgredir essa regra, constantemente julgando-as por isso e forçando-as a se reafirmar o tempo todo. Porque é difícil mesmo viver em um mundo que te julga, que te maltrata, que te exclui, então você precisa ter a força de vontade de reafirmar isso sempre para não acabar desistindo e se conformando à regras arbitrárias. Como tantas já fizeram. Mas aí mora outro perigo: negar quem você é pode te fazer infeliz e isso pode acabar estourando em algum momento. Essa é, suponho, a origem de várias “kuma dark”, as ursas caídas que, na calada da noite e protegidas pela escuridão, devoram seres humanos. E por que é assim? Quem estabeleceu essa regra? Com que propósito? Que mal Ginko e Kureha fizeram? Que mal a diretora Yurika havia feito para ser abandonada pelo ex-diretor? Que mal ela havia feito para ser guardada em uma gaveta (e forçada a acreditar que aquilo era bom) em primeiro lugar?

É nisso que está o outro significado de Yurikuma. O anime é em termos de roteiro bem mais simples do que parecia ser e do que eu supunha ser, tendo em vista o diretor Ikuhara. Mas esse roteiro, simples, acontece todos os dias, a todo momento, no mundo real. Não com ursos, mas com garotas e mulheres. Com homens também, mas o foco de Yurikuma são mulheres, até porque mesmo entre minorias sociais é menos pior ser um homem excluído do que uma mulher excluída. Da mesma forma como Kureha é ostracizada, muitas garotas são ostracizadas e maltratadas (e coisa muito pior). Quando há uma Ginko na história de uma Kureha do mundo real então, a coisa piora em vários níveis. Não andamos com rifles nas ruas, mas nossa sociedade dispara a todo momento contra mulheres normais, contra meninas normais, cada vez que elas ousam fazer uma escolha diferente do que foi arbitrariamente estabelecido como norma. O Muro da Divisão está em toda parte.

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