[sc:review nota=4]

Lembra da cena final do episódio anterior, com um homem e uma mulher nus, prontos para fazer sexo? Pois é, eles eram mesmo parasitas. E a mulher engravidou! De um bebê totalmente humano, como eu aventei em uma de minhas hipóteses. Faz sentido, o DNA de seus órgãos reprodutores continua sendo humano, já que eles só tomaram o lugar do cérebro. Dito isso, esse episódio é o primeiro da série que não tem conclusão (termina em aberto, só no próximo saberemos o que vai acontecer), o que indica que agora a série vai engrenar em sua história. E sua história é sobre o que, exatamente? Não é sobre parasitas que devoram seres humanos. Eles são parte central da história, mas ela não é sobre isso. Apesar do medo estar se espalhando, não é como se eles estivessem exterminando a humanidade: no episódio é citada a contagem de corpos encontrados esquartejados, e é de apenas 84. Claro que isso não esgota o total de vítimas, pois está ignorando os desaparecidos por terem sido devorados inteiros, os parasitados, os que morreram de outras formas que não esquartejamento (é perfeitamente possível), enfim, mas mesmo assim o número total deve ser razoavelmente pequeno. Como o Migi disse, eles só estão comendo. Não estão aqui realmente para exterminar a humanidade – eles precisam de nós, afinal, como hospedeiros e como comida, pelo menos. Então se a história não é sobre extermínio da humanidade, é sobre o quê?

Ryouko Tamiya, como ela é ...

Ryouko Tamiya, como ela é …

Interpretando a história de forma literal essa resposta é difícil, senão impossível. Um blogueiro que acompanho e é hoje meu favorito (o autor e dono do Moe Sucks, em inglês) levantou desde o primeiro episódio a hipótese de que se trata de uma metáfora para o amadurecimento e a chegada à vida adulta, com suas mudanças e o medo delas. O parasita na mão direita de Shinichi representaria assim a sensação de perda de controle sobre o próprio corpo, que está em processo acelerado de transformação, pela qual adolescentes passam. A recorrência de temas sexuais e a forma como são tratados também representa um aspecto típico dessa fase da vida. Analisando os argumentos que ele dá e considerando o que está ocorrendo na série, não consigo negar que essa metáfora está lá, gritando, embora eu não tivesse percebido antes dele dizer. Assim, os adultos que apareceram agora são iguais ao Shinichi – são monstros – mas ao mesmo tempo são muito diferentes dele. Será que ele se transformará naquilo? É disso que ele tem medo, de perder sua paixão e inocência infantil e se tornar um adulto cínico e frio? De fato, Shinichi já concentra essas contradições em si, graças a Migi que é sempre seu contraponto. Shinichi: Eles são demônios! Migi: Não, eles estão só comendo. Ou por outra: até onde usar outras pessoas para satisfazer suas próprias necessidades é aceitável? É sempre errado, independente das consequências, ou é compreensível em alguns casos mas a partir de certo ponto se torna errado? Um dilema tipicamente adolescente. A adolescência é assim, uma fase da vida em que concentramos contradições entre o que somos e o que iremos ser.

... e como Shinichi a vê

… e como Shinichi a vê

Cada vez mais Shinichi precisa lutar e precisa matar. Ele já se convenceu que ele precisa fazer isso, e nesse episódio Migi, que pode ser considerado assim uma voz cínica que vem do fundo de sua própria mente, o convence que ele precisa fazer isso com suas próprias mãos. Não obstante, não o convenceu de que deveria sacrificar outros se isso fosse o deixar em posição vantajosa. Ele terá que arcar com as consequências de seus atos, terá que se sujar, ao invés de dizer que foi tudo coisa do Migi, ou seja, do adulto que ele ainda não aceita se tornar. Em certa medida ao final da história ele não será mais nem Shinichi nem Migi, mas alguém que ao mesmo tempo é os dois e não é nenhum deles. Ele será o Novo Shinichi. E espero, verá o mundo de uma forma diferente, sem deixar de condenar e desprezar aqueles que fazem por merecer, mas ao mesmo tempo aceitando que, afinal, pessoas morrem. A morte era um pensamento tão distante em minha adolescência! Não me espanta que Shinichi fique tão incomodado com sua banalização e com a possibilidade de que leve alguém próximo a ele, ou mesmo ele próprio. A morte também está aqui porque, além de seu efeito estético, serve de metáfora para todas as coisas que sabíamos que existiam mas pareciam ainda uma realidade distante quando éramos adolescentes mas que se tornam cada vez mais comuns conforme envelhecemos. E que um dia será inevitável que nós mesmos precisemos encará-las.

Como um adolescente, Shinichi se irrita quando não o entendem e ele não consegue se explicar

Algumas pessoas chegam à vida adulta sendo completos imbecis egoístas, não por agirem apenas pelos próprios interesses, porque no fundo todos somos assim. Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos, e se nem nós mesmos pensarmos no nosso bem estar, ninguém mais pensará. Precisamos, antes de tudo, pensar em nós mesmos. Mas os imbecis desprezam igualmente todas as demais pessoas e cometem atos que, no fim das contas, colaboram para sua própria desgraça, tendo portanto o efeito contrário ao desejado. Esse é o homem-parasita que apareceu no episódio anterior e retorna nesse, que ao se preocupar apenas com seu próprio bem estar ataca a escola para matar Shinichi, mas ao fazer isso ele está se expondo e, sabemos, acabará morto. Outros são como a mulher-parasita, que resolveu assumir a posição social da mulher cujo cérebro devorou. Sim, ela está só pensando em si mesma também, mas ao mesmo tempo ela está educando seres humanos, ajudando-os. E não, ela não pretende devorar ninguém de seu círculo de pessoas próximas, pois isso poderia expô-la e ela não tem motivo nenhum para se arriscar. Pensando só em si mesma, ela não se envolve na iminente luta entre Shinichi e A (o homem-parasita se chama “A” pois como Migi não se importa com nomes), mas como essa nem começou direito talvez ela ainda ajude no próximo episódio, é pagar para ver. Mas não importa quão desprezível você possa se tornar quando adulto, ao nascer somos tudos puros e inocentes mesmo que nossos pais sejam monstros, como será o bebê da professora.

Ryouko e A, dois parasitas com comportamentos muito diferentes

Ryouko e A, dois parasitas com comportamentos muito diferentes

Curioso com o desenvolvimento de Shinichi? Ou mais curioso com a sequência de batalhas? Em que conclusão Shinichi chegará e que tipo de adulto ele se tornará eu ainda não sei. Mas tenho certeza que ele, de um jeito ou de outro, irá vencer ou pelo menos superar de alguma forma todos os combates que travar. Talvez uns ou outros personagens nomeados morram. Sério, isso não tem importância. Claro, muito sangue e vísceras sem censura, yay! Mas a partir do próximo episódio Terraformars não terá censura também. E lá tem muito mais gente, vários morrerão (talvez vários por episódio), enfim, se quer assistir um anime apenas pelo gore, Terraformars é uma escolha bem melhor. Eles viram insetos e tem poderes e armas divertidas e tal. Em Kiseijuu, que tem cenas de ação divertidas também, claro que tem, me interessa muito mais o aspecto psicológico e o desenvolvimento de personagem.

Mais imagens:

Comentários