[sc:review nota=4]

Em um conflito, é possível salvar todo mundo? Esse é o dilema moral lançado no episódio dessa semana. Parece que era um dilema moral enorme para o pai adotivo de Shirou também, como flashbacks noutros episódios deram a entender e um flashback nesse episódio reforçou definitivamente. E a resposta é… depende. O que você chama de “todo mundo”? Mas os personagens não percebem que é aí que está a raiz do problema. Ou ignoram propositalmente seja para justificar seus meios seja porque o roteirista achou que ficaria mais fácil tratar do tema assim. Esse episódio teve bastante ação, e muito bem animada. Fate/Stay Night realmente se destaca no quesito cenas de luta nessa temporada. Se tiver um concorrente, é Shingeki no Bahamut, mas creio que mesmo a estrela da temporada fique atrás de Fate.

Olha esse rastro de sangue que o Shirou deixou enquanto rasteja. Ele tem mais sangue que um cavaleiro do zodíaco

Olha esse rastro de sangue que o Shirou deixou enquanto rasteja. Ele tem mais sangue que um cavaleiro do zodíaco

Duas lutas ocorrem ao mesmo tempo: Saber tentando passar por Assassin para ir ajudar Shirou e Archer tentando alguma coisa contra Caster. Sério, no final não sei se ele fez aquilo só para poder ir embora (Caster não deixaria Archer ir embora de graça, afinal), para testar o poder da adversária, ou sei lá mais para que poderia ser. Mas foi um combate bacana. Enquanto Saber se impressionava por ser mais forte que Assassin e mesmo assim ser pressionada por ele, Archer é quem pressionava Caster ao mesmo tempo em que protegia Shirou. No final Archer venceu, mas não matou a oponente, para o desespero de Shirou. Segundo Archer, porém, mesmo se ele tentasse matá-la ela iria escapar. Entendo que ele quis dizer que o templo é o “terreno” que Caster estabeleu para si e dentro dele ela é virtualmente imortal. Mas bom, agora que ela fugiu ela está fora, e Shirou é do tipo que continuaria tentando o impossível até morrer, ele é idiota assim mesmo, então ele pretende ir atrás dela. Ao mesmo tempo, Saber sobrevive ao golpe especial (“fantasma nobre”) de Assassin, mas parece ter sido por um triz.

Saber luta contra Assassin, Sasaki Koujirou

Saber luta contra Assassin, Sasaki Koujirou

Archer e Shirou começam a discutir, e aí entre a questão moral do título. Archer pretende deixar Caster viva para que ela execute seu plano e mate Berserker, só que o plano dela é matar quantas pessoas da cidade forem necessárias para se fortalecer o suficiente para então poder derrotar Berserker, e Shirou não pode concordar com isso. Na verdade Rin também não concordaria, e Archer sabe disso, portanto espera que Caster execute logo seu plano. Logo quanto, essa noite? Porque amanhã o Shirou vai à escola, encontrará Rin, e tenho certeza que contará tudo a ela. Quero dizer, isso se ele estiver vivo para ir à escola, né? Archer tenta matá-lo. Não o matou porque ele é o protagonista então depois do primeiro golpe, que não foi fatal, Archer é obrigado a ficar falando sem parar até que apareça alguém ou que o Shirou consiga encontrar ajuda, e é o que acontece. Shirou se arrasta para fora do templo, onde encontra e é encontrado por Saber. Archer ainda tenta matá-lo mais uma vez, mas Assassin o impede e eles começam a lutar enquanto Saber vai embora dali com Shirou.

Cuidado nos detalhes: Saber usou sua manopla metálica como vantagem para segurar a espada de Assassin e atacá-lo indefeso, mas antes disso ele bateu com a mão na base da empunhadura deslocando a lâmina e cortando a mão dela

Cuidado nos detalhes: Saber usou sua manopla metálica como vantagem para segurar a espada de Assassin e atacá-lo indefeso, mas antes disso ele bateu com a mão na base da empunhadura deslocando a lâmina e cortando a mão dela

Agora, o “plano” de Archer é sim completamente imoral. Segundo ele é melhor assim, pois sacrificariam “apenas” uma cidade para salvar o mundo em troca!  A ideia de sacrificar alguém que nem está sabendo que será sacrificado já é imoral o bastante por si só, mas quando “alguém” é uma cidade inteira a coisa atinge um nível totalmente novo de imoralidade. E mais: Archer está assumindo que a eventual vitória de Caster ou de Berserker colocariam o mundo inteiro em perigo por conta própria, ele não tem prova nenhuma de que os respectivos servos ou seus mestres tenham planos tão horríveis assim. Claro, duvido que eles queiram pedir o fim da fome, a paz mundial e um pudim para o Cálice Sagrado, mas talvez, viu, Archer, mesmo os seus mais malignos desejos ainda sejam menos piores que sacrificar uma cidade inteira. E olhe só, eu já estou caindo na mesma armadilha de contabilizar mortes para decidir o que seria um “mal menor”, isso é contagioso, tenha cuidado!

Archer corta Caster ao meio

Archer corta Caster ao meio

O problema maior, de verdade, é que Archer justifica isso dizendo que o que Shirou quer, salvar todo mundo, é necessariamente impossível. Nas palavras do pai de Shirou, salvar alguém significa abandonar outra pessoa. É mesmo? Por quê? Archer dá uma pista de resposta para isso ao dizer para Shirou que “salvar todo mundo”, no limite, significaria deixar o próprio Berserker vivo, o que provavelmente não traria nada de bom. Se você interpreta “todo mundo” de forma literal, significando realmente toda e cada pessoa desse mundo mundial, sim, com certeza, beira o impossível manter vivas duas pessoas que estejam tentando se matar, ou para ficar mais próximo do caso do anime, uma vítima e seu algoz. Enquanto o vilão estiver à solta, ele tentará matar a vítima inocente, não é mesmo? Por isso no mundo real temos prisões, mas lógico, em uma realidade fantástica como a de Fate prisões não são o bastante para conter magos e seus servos (poderiam ser, se fossem prisões especialmente construídas para esse fim, mas aí estaríamos jogando fora todas as premissas de Fate, o que eu não pretendo fazer).

Será que ela já morreu? ...

Será que ela já morreu? …

Só que Shirou nunca quis dizer que “todo mundo” incluía também os vilões. É só matar o mestre assassino que se estará salvando suas futuras vítimas. Adicionalmente isso parece sequer ser necessário, pelas pistas já dadas bastaria matar o servo. Não daria na mesma? Não, afinal o servo é alguém que já morreu, e se bem entendi ele pode ser invocado de novo quantas vezes forem para as guerras posteriores, então não é como se ele estivesse morrendo de verdade. Por outro lado os mestres parecem ser bem mais fracos que seus servos, e o Shirou em particular já foi alvo da Rin especificamente por ser um mago (e por ela ser tsundere), e o Archer diz nesse episódio que para derrotar a Caster é preciso antes localizar seu mestre. Para matá-lo, talvez? Enfim, me pergunto se realmente tomarão essa rota e matarão mestres para derrotar seus respectivos servos. Para os efeitos do suposto dilema moral colocado nesse episódio tanto faz. O ponto é: esse dilema não existe. Não sei o pai de Shirou, mas Archer está claramente forçando a barra para justificar sua imoralidade. Se for proposital, bem… se não for, se os produtores do anime deram essa resposta a essa questão apenas para aumentar a carga dramática, então eles é que estão forçando a barra. Bem, não é como se Fate/Stay Night tivesse muitos pontos positivos além de suas incríveis cenas de ação mesmo.

Mais imagens:

  1. Ah, meu caro, com a Archer o buraco é beeeeem mais lá embaixo. Odiei o Archer no início mas no decorrer da VN, ele tornou-se o meu personagem nº 1. Aliás, odeio o Shirou por não saber filtrar nada do que os outros dizem. Ele age mais ou menos assim, se 5% do que eu falo não condiz com a que ele acha, ele ignora os outros 95%.

    • Bom, o Shirou é um adolescente, né? E pior, ele quer ser um Herói da Justiça. Esse tipo de personalidade é esperada dele. O que incomoda não é ele ser assim, é ele ser assim a série inteira, sem nunca evoluir seu personagem. Aliás, ninguém nesse anime evolui nunca, e como o enredo é um battle royale bem simples, as únicas coisas que restam de interessantes na série são o suspense para conhecer os demais adversários e seus planos e os combates em si. De suspense F/SN é horrível também (=D), então só sobra os combates, que são muito bons. Sendo rigoroso, não dá para dizer que é um anime bom. É divertido para passar o tempo (quando não ficam o episódio inteiro conversando), e olhe lá. E sim, já li por aí e concordo que o Archer é tsundere também.

      • Um dos maiores defeitos da VN são os diálogos demorados, e cenas do dia-a-dia (sério, acho que eventualmente o Nasu vai escrever um livro de culinária, porque o tempo que ele dedica às descrições dos pratos de café da manhã e janta na VN não é brincadeira), mas também quando a ação chega dá vontade de sentar na ponta da cadeira. E na questão de evolução do personagem, APENAS na rota Heaven’s Feel é que se notam mudanças no Shirou (aleluia, irmãos!), a que inclusive só não é minha favorita porque a considero desnecessariamente obscura, servos morrem de maneiras vergonhosas, e o interesse amoroso do Shirou não é lá tão atrativo também. Na verdade minha relação com Fate é conturbada, é como uma relação sadomasoquista ashaushaushauhsahs.

      • Então, como eu disse no outro comentário no outro artigo, talvez devessem mesmo deixar de lado esses diálogos e essa pretensão de desenvolvimento de personagem (que nunca acontece mesmo) e concentrar esforços na ação, que é o ponto forte da história.

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